“As Marias de Gado”: descortinando trajetórias da participação de mulheres nas vaquejadas da Bahia.

Abstract

Dentre as práticas equestres elencadas pelo Atlas do Esporte temos a vaquejada, a qual ao longo da história vem se reconfigurando enquanto possibilidade esportiva e de lazer, típica dos interiores brasileiros, notadamente o nordestino. Observou que por muito tempo, este espaço, não havia sido vislumbrando por uma mulher em sua “intimidade”, ou seja, era incomum ver um corpo feminino puxar e derrubar um boi pelo rabo, em pé de igualdade com os homens. Atualmente, essa realidade tem-se modificado de modo que as duplas de vaqueiros passaram a ser compostas também por mulheres. Assim sendo, interessa aqui analisar as trajetórias de mulheres que fazem parte das vaquejadas, a fim de compreender a constituição da participação delas nesta prática no estado da Bahia entre os anos de 1960 até o tempo presente. Para tanto, foi utilizado enquanto método, a História Oral, que lança mão das experiências, fatos e acontecimentos vividos e relatados pelos sujeitos, como mecanismo principal para se conhecer/saber sobre determinado tempo histórico, que venha a se constituir enquanto objeto de investigação no campo científico. Como fontes, a oralidade, bem como a consulta em jornais da capital e do interior do estado foram eleitos como dispositivos de busca de informações. Observou que uma das aparições de mulheres nas vaquejadas em conteúdo jornalístico se constituiu em 1967, enquanto rainhas de vaquejada, em uma perspectiva que remete a importância da beleza feminina como partícipe da consolidação de um rito glamoroso. Contudo, paradoxalmente, a partir do que diz a fonte oral, percebeu que essa participação contribuiu para o rompimento do que comumente era estabelecido como padrão de beleza, igualmente no que tange a etnia e status social daquelas que desempenhavam tal papel em outros tempos e espaços. Adiante no tempo, ficou evidente que as mulheres exercem outros papéis e funções que dantes eram delegados apenas aos homens como: vaqueiras (puxadoras e esteireiras), facilitadoras e difusoras do processo de doma racional de cavalos e no agenciamento dos melhores animais e vaqueiros(as) para as competições. Além disso, participam na formação, gestão, direção e consolidação da categoria feminina na Bahia. O que se nota, principalmente, no que se diz respeito ao acesso a esse universo como vaqueiras é que ele ocorre de algumas formas: enquanto tradição de família, na qual pais, irmãos são fundamentais para que esta inserção se consolide, bem como através da influência de amigos e parentes e de modo independente, movidas pela paixão por cavalos, mesmo que sem apoio ou incentivo de seus pares. Os principais obstáculos encontram-se atrelados as dificuldades apresentadas pela nova configuração da prática que estabelece custos elevados na aquisição/manutenção de um bom cavalo, de deslocamento para as competições, baixos valores de premiação para as mulheres e falta de apoio e incentivo por parte de alguns donos de parques de vaquejada que não possibilitam o espaço para a categoria. Todavia, elas tentam garantir sua participação na prática, estabelecendo estratégias de promoção da visibilidade e de melhor organização interna para possibilitar o avanço e o fortalecimento da categoria no estado.

ABSTRACT Among the equestrian practices listed by the Atlas of Sports, we have the vaquejada, which throughout history has been reconfigured as a sport and leisure possibility, typical in Brazilian country towns, especially, from the Northeast. We observed that, for a long time, this space had not been glimpsed by a woman in her "intimacy", that is, it was unusual to see a female body pulling and dropping an ox by the tail, on equal terms with men. Nowadays, this reality has been modified so that the cowboy pairs are now also composed by women. Therefore, we are interested in analyzing the pathways of women who are part of the vaquejadas, in order to understand the constitution of their participation in this practice, in Bahia State, between the 1960s until the presente time. For that, we are using the Oral History as a method, which makes use of the experiences, facts and events lived and reported by the subjects, as the main mechanism to know about a certain historical time, which may become an object of investigation in the scientific field. As sources, the orality, as well as searching in newspapers in the capital and in other cities of the state, have been chosen as means of searching for information. We noted that one of the appearances of women in vaquejadas, in journalistic contente, occured in 1967, as queens of vaquejada, in a perspective that refers to the importance of female beauty as a participant in the consolidation of a glamorous rite. Although, paradoxically, from which the oral source tells us, we have realized that this participation has contributed to the break with what was commonly established as a standard of beauty, also with respect to the ethnicity and social status of those who played this role in other times and spaces. Ahead in time, it appears that women exercise other roles and functions that were previously delegated only to men, such as: cowgirls (pullers and mats), facilitators and diffusers of the process of rational taming of horses and in the management of the best animals and cowboys / cowgirls for competitions. In addition, they participate in the formation, management, direction and consolidation of the female category in Bahia. What is noticeable, mainly, with regard to access to this universe as cowgirls, is that it occurs in some ways: as a family tradition, in which parents, siblings are fundamental for this insertion to be consolidated, as well as through influence of friends and relatives and independently, driven by passion for horses, even if without support or encouragement from their peers. The main obstacles are linked to the difficulties presented by the new configuration of the practice that establishes high costs in the acquisition / maintenance of a good horse, travel to competitions, low award values for women and lack of support and encouragement from some owners of vaquejada parks that do not allow space for the category. However, they try to guarantee their participation in practice, establishing strategies to promote visibility and better internal organization to enable the advancement and strengthening of the category in the state.