“O Curso mais real de literatura conta a tua história”: Uma escrita de si da mulher encarcerada Salvador

Abstract

Este trabalho de monografia pretende analisar o Projeto Corpos Indóceis e Mentes Livres implementado no Conjunto Penal Feminino do Complexo Penitenciário Lemos Brito, em Salvador. Com ênfase em um material de composição de poesias feito pelas presas sentenciadas que participam do projeto, esse trabalho propõe se debruçar sobre a escrita de si no cárcere, observando como é ressignificada pelo encarceramento a visão de si como mulher e como sujeito de direitos. A metodologia de pesquisa utilizada foi a indutivo-analítica, através da ótica da pesquisa qualitativa e as técnicas de pesquisa escolhidas foram a análise documental, a entrevista semidiretiva e a observação participante. Os principais achados desse trabalho dizem respeito tanto ao entendimento e apropriação/rasura de estigmas pelas mulheres encarceradas quanto à percepção de convergências entre a literatura no cárcere e a literatura popular, cotidiana das favelas. Neste ponto, percebo que a literatura da mulher negra e suas questões temáticas conversam diretamente com a literatura feminina do cárcere. Além disto, ao longo do percurso de apropriação e construção de teorias a respeito da escrita e visão de si da mulher encarcerada, percebo uma situação de ir e vir de afirmação e inferiorização do eu que é privado da liberdade.

This work of monograph intends to analyze the Project Indocenters and Free Minds imple-mented in the Women's Criminal Set of the Penitentiary Complex Lemos Brito, in Salvador. With emphasis on a poetry composition material made by the sentenced prey participating in the project, this work proposes to focus on self-writing in the jail, observing how the view of self as a woman and as subject of rights is redefined by incarceration. The research methodology used was the inductive-analytical, through the qualitative research optics and the research techniques chosen were the documentary analysis, the semi-directive inter-view and the participant observation. The main findings of this work concern both the un-derstanding and appropriation / erasure of stigmas by incarcerated women as well as the perception of convergences between literature in prison and subaltern literature. At this point I realize that the literature of the black woman and her thematic issues talk directly with the female literature of the jail. Moreover, along the path of appropriation and construction of theories regarding the writing and self-view of the incarcerated woman, I perceive a situation of coming and going of affirmation and inferiorization of the self that is deprived of freedom.