A contribuição dos eventos de vida estressores no desempenho em testes de funções executivas entre participantes do ELSA-Brasil.

Abstract

O envelhecimento populacional brasileiro tem colocado novos desafios para a Saúde Coletiva, especialmente o aumento na prevalência de alterações cognitivas que afetam a autonomia e funcionalidade dos idosos. Neste sentido, alguns esforços estão sendo empreendidos para a compreensão dos fatores de risco que contribuem para o surgimento destas alterações, antes mesmo que a chamada velhice se inicie. Alterações nas funções executivas têm sido levantadas como marcadores iniciais de declínio cognitivo precoce, principalmente por afetarem a capacidade de realização de atividades complexas em importantes domínios da vida. O estresse tem sido relatado enquanto importante fator de risco para iniciar tais alterações devido a ação neurotóxica que os hormônios estressores podem exercer no sistema nervoso central, ainda que pesem diversas exposições ao longo do curso de vida. Considerando o crescente envelhecimento populacional brasileiro, o aumento na prevalência de alterações cognitivas na velhice, os impactos ocasionados pela perda da autonomia e funcionalidade, torna-se fundamental estudar as alterações precoces nas funções executivas antes mesmo que a chamada velhice se inicie. Sendo assim, este estudo teve como objetivo identificar a contribuição dos Eventos de Vida Estressores no desempenho em testes que avaliam Funções Executivas em participantes de um amplo estudo com população brasileira inserida em grandes centros urbanos. Como objetivos específicos pretendeu: identificar evidências da associação entre Eventos de Vida Estressores e desempenho reduzido em testes de Funções Executivas em estudos epidemiológicos internacionais, com população idosa inserida na comunidade; caracterizar os Eventos de Vida Estressores, especificamente assalto, hospitalização, falecimento de ente querido, dificuldades financeiras, rompimento amoroso, de acordo com aspectos sócio-demográficos, de saúde física e mental em distintos grupos etários; por fim, examinar a associação entre os Eventos de Vida Estressores mencionados e escores obtidos em testes de funções executivas, em homens e mulheres de distintos grupos etários. Inicialmente, examinaram-se 10 publicações europeias e norte-americanas entre 2007 e 2016. Observou-se que relações sociais negativas, luto, dificuldades financeiras e assalto estiveram associados com pior desempenho em testes de funções executivas apontando a via da ação neurotóxica, apesar de alguns achados terem indicado outros mecanismos. Seguiu-se com uma análise de corte transversal com 15.105 funcionários, ativos ou aposentados, entre 35 e 74 anos, participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Verificou-se que os eventos estressores tomados para esta análise parecem estar associados à um perfil de maior vulnerabilidade social e de saúde física e mental entre adultos jovens, de meia-idade e idosos. Houve, no entanto, diferenças entre homens e mulheres de distintos grupos etários, em relação aos eventos estressores, motivando a utilização de uma análise estratificada por gênero para esclarecer esta questão. Dentre os eventos estressores, observou-se que falecimento de ente querido entre mulheres idosas foi o único evento estressor associado à desempenho reduzido em testes de funções executivas. A maioria dos eventos estressores esteve associada à desempenho médio nos testes, o que foi observado em hospitalização entre homens adultos jovens, dificuldades financeiras entre mulheres adultas jovens e idosas e vitimização por assalto em homens idosos. No entanto, rompimento amoroso entre homens e mulheres de meia-idade e hospitalização entre homens idosos associaram-se com menor chance de desempenho reduzido, ratificando a possibilidade de outros mecanismos de ação apontados pela literatura. Diante destes achados, sugere-se que os eventos de vida estressores contribuiu para desempenho reduzido em testes de funções executivas apenas diante da vivência de falecimento de ente querido por mulheres idosas. Foram observadas diferenças marcadas por gênero e faixa etária, ainda que nem sempre tais eventos tenham se associado com maiores chances de desempenho reduzido em testes das funções investigadas.