INTERSECÇÕES DE GÊNERO E RAÇA/ETNIA NA TOMADA DE DECISÃO SOBRE A VIDA REPRODUTIVA DE MULHERES NEGRAS E NÃO NEGRAS EM CONJUGALIDADE

Abstract

Esta pesquisa teve por objetivo geral compreender os processos de tomadas de decisão quanto à vida reprodutiva de mulheres negras e brancas, em conjugalidade, por meio da teoria da interseccionalidade. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, no qual foram realizadas entrevistas em profundidade com mulheres negras e brancas em conjugalidade, residentes no Centro-Sul da Bahia. Os dados foram interpretados com base na Análise de Conteúdo Temática. Os resultados apontaram que mulheres negras e brancas percebem a liberdade conquistada de maneira diferenciada. Enquanto mulheres brancas buscam ratificar sua atuação em âmbito público, mulheres negras desejam estruturar sua vida em âmbito privado. Sabe-se que as políticas sociais, que objetivam permitir o acesso dessas mulheres a lugares de cidadania, são entremeadas por disputas na agenda política. Há uma persistente desigualdade sociorracial no que se refere às dimensões da vida das mulheres negras. As concepções diferenciadas sobre autonomia e domínio da vida reprodutiva se conectam a um contexto relacional dinâmico, estruturado na desigualdade de gênero associado ao racismo estrutural, principal obstáculo à tomada de decisão no campo da saúde sexual e reprodutiva, no qual, a violência é a principal forma de expressão. Para mulheres negras, a tomada de decisão acerca de sua vida reprodutiva se dá pela ausência de possibilidades de outras vias de reorganização do planejamento reprodutivo que sejam pautadas nos princípios de autonomia e justiça social.