Efeito da discriminação de gênero sobre a consulta médica e a realização de teste de HIV no último ano entre travestis e mulheres trans de três capitais do nordeste brasileiro

Abstract

A discriminação de gênero ainda impede travestis e mulheres trans de acessarem, efetivamente, os serviços e tecnologias de saúde, sendo assim, um fator que pode ser responsável por aumentar a vulnerabilidade ao HIV/aids. O objetivo deste estudo foi investigar a associação da discriminação de gênero sobre a realização de consultas médicas e de testes de HIV, nos 12 meses que antecederam à entrevista, entre travestis e mulheres trans. Trata-se de um estudo transversal realizado em 2016, com 864 travestis e mulheres trans de três capitais do nordeste brasileiro. O recrutamento foi realizado através do método Respondent-Driven Sampling (RDS), e a coleta dos dados foi baseada na aplicação de um questionário estruturado. As variáveis utilizadas como desfecho foram a realização de consultas médicas e testes de HIV no último ano. A exposição principal foi ter sofrido discriminação de gênero na vida, e demais covariáveis foram utilizadas para o ajuste da associação. A regressão logística foi utilizada para estimar a Odds Ratio (OR) das associações. 67,0% das entrevistadas relataram ter consultado um médico no último ano, enquanto 45,8% relataram ter realizado algum teste de HIV, também no último ano. A discriminação de gênero reduziu significativamente a realização de consultas médicas (OR 0,29; IC95% 0,14-0,63) e de testes de HIV (OR 0,41; IC95% 0,22- 0,78), independentemente de outros fatores analisados. É preciso considerar o estigma como um produtor de iniquidades em saúde para que seja possível agir sobre a vulnerabilidade dessas populações.