TIRANDO O SAPATINHO E BOTANDO O PÉ NO CHÃO: COMO SE FORMA UMA INFLUENCIADORA DIGITAL

Abstract

Este trabalho tem como objetivo compreender a construção de influenciadores/as digitais. Para este fim, buscou-se analisar, tensionar e discutir o conceito de influenciador/a digital sob a ótica teórica de quem pesquisa a produção de conteúdo na internet e este conceito (KARHAWI, Issaaf, 2017) confrontando-o com o de líder de opinião (LAZARSFELD; BERELSON; GAUDET, 1948). Para a realização desta pesquisa tomamos como objeto na análise empírica os vídeos realizados pela jornalista Maíra Azevedo, conhecida nas plataformas digitais como Tia Má, publicados em sua fanpage no Facebook e que abordam questões feministas e de gênero. Foram analisados o modo como Tia Má tematiza o feminismo e como se insere dentro desse debate, bem como verificou-se quais temas ela escolhe em seus vídeos, analisando de que modo os aborda. Desde a Primavera Das Mulheres, período de protestos feministas que eclodiram pelo país em 2015 impulsionados pelas plataformas digitais, vários/as influenciadores/as digitais estão sendo relevantes para a discussão de temas que até então tinham um espaço limitado na mídia tradicional, a exemplo do feminismo e do racismo. Tia Má foi uma dessas personalidades que emergiram nesse período, cuja mensagem obteve alcance nacional, que abrange, atualmente, além das plataformas digitais, as mídias tradicionais. Como metodologia para a análise dos 45 vídeos publicados entre 2016 e 2018 na fanpage dela no Facebook e que compõem a amostra desta dissertação foi usado o conceito de modos de endereçamento (ELLSWORTH, Elizabeth, 2001) a fim de entender como Tia Má se dirige ao seu público e o interpela em seus vídeos. Como resultado, verificamos que Tia Má se utiliza de experiências pessoais e do humor como estratégias de transferência de conhecimentos conectados à produção sobretudo de feministas negras, inserindo-se no debate sobre feminismo(s), gênero e raça de forma a criticar e desconstruir concepções sexistas e racistas.