Contraespaços entre dança e arquitetura: uma perspectiva coreológica da obra de Zaha Hadid

Abstract

Esta pesquisa visou construir uma coreotese, através da realização de um processo artístico-teórico de criação de uma obra de dança contemporânea, tendo como ponto de partida e inspiração a obra arquitetônica e de design da arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid. A pesquisa seguiu as abordagens metodológicas da Prática como Pesquisa (Practice as Research) e da Pesquisa Guiada pela Prática (Practice-led Research), nas quais o processo artístico em dança – o corpo dançante no espaço – a guiou e agenciou, colocando em relação transversal os Estudos Coreológicos (Rudolf Laban e autores relacionados), os estudos da dança, a arquitetura e as artes visuais. O processo artístico, intitulado Contraespaço, compreendeu e encadeou reflexões sobre possíveis relações criativas entre dança e arquitetura, ao mesmo tempo considerando a produção e prática artístico-teórica em dança do autor nos últimos 20 anos e rastros de suas principais influências em dança em seus processos criativos, a saber, os(as) coreógrafos(as) Airton Tenório, Pina Bausch, William Forsythe, Meg Stuart, Lloyd Newson, Siobhan Davies e Rosemary Butcher. A pesquisa ocupou-se em revelar o aspecto processual da criação artística em dança como pesquisa e como esse processo pode ser atravessado por inúmeros estímulos corporais, visuais e teóricos e em valorizar o campo da dança como articulador de relações interartísticas e interdisciplinares. Seguindo a proposta da Prática como Pesquisa, montou-se um conjunto próprio de métodos, meios e procedimentos, preparando o terreno para “explorar o que emergisse” (BONENFENT, 2012), com o propósito de dissolver e transformar paradigmas dualistas que separam corpo e mente, prática e teoria, arte e ciência, experiência e sentido, movimento e conhecimento, através do diálogo interdisciplinar a partir de procedimentos da prática da composição em dança. Ao longo do processo, a apreciação, vivência e estudo da arquitetura multifacetada, instigante e desestabilizadora de Hadid e o estudo do campo da arquitetura em geral provocou e estimulou o autor e os(as) bailarinos(as) colaboradores(as) em investigar suas perspectivas sobre si mesmos, a sensibilidade alterada de suas superfícies, vários modos de fricção entre seus corpos, várias propostas de habitação nos diversos espaços reais e imaginados/ários que criaram em cena e possibilidades de relações entre si, de afetar e ser afetado, de desestabilizar e de apoiar o outro, de se deixar levar e de manter os pés bem plantados no chão. O processo foi informado pelos conceitos de imaginação espacial, imaginação corporal e imaginação de movimento, cruzando os autores Rudolf Laban, Gaston Bachelard e Maxine Sheets-Johnstone. Investigando a arquitetura, colocando-se cinestesicamente responsivos à mesma e estimulados por esses conceitos, propõe-se a mão dupla desse movimento, instigando praticantes e pensadores da arquitetura a integrar seus sentidos corporais na vivência da arquitetura e a se inspirar em procedimentos da dança e se deixarem afetar cinestesicamente para a criação em arquitetura. A pesquisa visa, desse modo, contribuir para a consolidação da dança como campo de pesquisa baseada na vivência corporal/coreológica e, também, por ser uma criação em pesquisa, para o alargamento do que pode ser validado como pesquisa acadêmica, fazendo avançar questionamentos, revelar caminhos e apontar possibilidades de inovação.