Reocupando a vida e reconstruindo a realidade : a desmediação intermediada do mundo e a carnavalização da política no Occupy Wall Street

Abstract

Esta dissertação, embora ancorada originalmente na área de Comunicação e Política, trata-se de um trabalho multidisciplinar que busca entender um pouco do fenômeno dos movimentos sociais contemporâneos – a partir do caso do Occupy Wall Street – que buscam organizar-se por fora da via institucional e que, além de utilizar os novos meios precisamente para levar os indivíduos a agirem no mundo ‘real’ – é o que se chamou aqui de ‘desmediação intermediada’ –, partem de um princípio ‘dionisíaco’ da política em que a confrontação ao sistema – ou sua negação – se dá a partir do intenso gozo da própria vida – agora. É a superação da política dura, estrutural, projetiva, prometeica, necessariamente orientada para o futuro, em prol de uma vivência focada especificamente no presente, através da ‘carnavalização da política’: a própria forma que eles encontraram para ‘ocupar’ e reconstruir a realidade – através da língua, da cultura, das ideias sobre o mundo etc., mostrando que as mais variadas pretensas ‘impossibilidades’ são extremamente possíveis. As perguntas iniciais que motivaram a realização do estudo, portanto, foram: “por que, para que e como o Occupy se mobiliza?”, ou seja, “quais são seus princípios, fins e meios?”. Daí que, devido à amplitude do problema, a abordagem escolhida foi uma que contemplasse ao máximo a sua complexidade, inclusive incorporando, já na metodologia, o princípio da horizontalidade não dialética, tão característica desses novos movimentos, através da adoção do dialogismo polifônico como pressuposto. A fim de realizar uma pesquisa o mais intensa possível, e partindo da ideia de que é de perto, no envolvimento direto, que se pode conhecer melhor qualquer fenômeno, escolheu-se contemplar o campo por meio de uma pesquisa participativa com um grande enfoque etnográfico: de abril a setembro de 2012, o autor esteve em Nova Iorque vivenciando o movimento diretamente, a partir de um encontro participante que permitiu a confecção de um diário de campo que viria a servir de base para o trabalho como um todo. No texto final, portanto, embora muita coisa tenha sido reescrita para adequar-se à linguagem e à coerência acadêmica desejada, e para além das falas diretas dos participantes já presentes em todo o estudo, as partes mais descritivas foram mantidas no original, em itálico, como uma espécie de ‘imagem aproximada’ do campo.

This thesis, although originally tied to the area of Communication and Politics, refers to a multidisciplinary paper that aims to understand a bit of the contemporary social movements phenomenon –using Occupy Wall Street as a study case –that have been organizing outside the institutional spectrum and that, besides using the new media precisely to take people to act in the ‘real’ world that’s what was called here ‘intermediated unmediation’ , bring as a principle a Dionysian conception of politics in which the confrontation against the system or its denial starts in the intense enjoyment of life right now. That’s the surmounting of the strict, structural, projective, Prometheic politics, necessarily guided to the future, in favor of an experience specifically focused in the present, through the ‘carnivalization of politics’: the very way they found to ‘occupy’ and rebuild reality through the language, the culture, the ideas about the world etc., showing that a great range of the supposed ‘impossibilities’ are extremely possible. The initial questions that motivated the accomplishment of this study were thus: “why, what for and how does Occupy mobilize?”, which is to say, “what are its principles, ends and means?”. In this case, given the problem’s amplitude, the chosen approach was one that would be able to contemplate its complexity to the greatest extent, what made it necessary to incorporate, in the methodology, the principle of the non-dialectic horizontality, so characteristic of these new movements, through the appropriation of the polyphonic dialogism as a Intenet. In order to achieve a research as intense as possible, and by applying the idea that it’s beside, through the direct involvement, that one can get to know better any kind of phenomenon, the chosen way to contemplate the field was a participatory research with a great ethnographic approach: from April to September 2012, the author was in New York directly experiencing the movement, through a participant encounter that gave birth to a research journal which came to serve as a basis to the paper as a whole. In its final version, thus, although a lot of stuff was rewritten to adequate to the academic language and expected coherence, and beyond the participants’ direct voice found in the whole study, the most descriptive parts were maintained in its origin al form, in italics, as an ‘approximate image’ of the filed.