Excesso de peso e prática de atividade física entre adolescentes rurais quilombolas e não quilombolas: um estudo transversal

Abstract

Introdução: A fase da adolescência, por ser caracterizada por um período de grandes transformações e descobertas é uma fase vulnerável a situações de risco a saúde. O excesso de peso e a prática de atividade física insuficiente podem levar ao surgimento de diversas morbidades e favorecer riscos adicionais que comprometem a saúde do adolescente residente em áreas rurais. Objetivo: Estimar a prevalência do excesso de peso e investigar seus possíveis fatores associados, além de descrever a prática de atividade física, entre adolescentes rurais quilombolas e não quilombolas de Vitória da Conquista, BA. Métodos: Estudo transversal, de base populacional e abordagem domiciliar, realizado com adolescentes de 10 a 19 anos de idade, residentes em comunidades rurais quilombolas e não quilombolas de Vitória da Conquista, BA. O excesso de peso foi descrito por meio do escore-z do IMC por sexo e idade. A razão de prevalência e seu intervalo de confiança de 95% foram utilizados para estimar a associação entre o desfecho e as variáveis explicativas. A análise multivariada foi realizada pela regressão de Poisson com variância robusta e seguiu um modelo com entrada hierárquica das covariáveis, nível de significância menor do que 5% foi adotado. A prática semanal de atividade física em minutos foi mensurada a partir das atividades realizadas em seus diferentes domínios, e foram considerados ativos os adolescentes que praticaram 300 minutos ou mais de atividade física semanal. A variável contínua foi descrita segundo cada variável explicativa por meio da mediana, valor máximo e mínimo. Para avaliação da diferença da prática de atividade física, segundo as covariáveis foram realizados os testes não paramétricos: Mann-Whitney-Wilcoxon e Kruskal Wallis e foi considerado nível de significância menor do que 5%. Resultados: O estudo evidenciou que 18,5% dos adolescentes rurais estavam com excesso de peso, sendo 17,9% entre os quilombolas e 19,0% não quilombolas. Não foram encontradas diferenças significativas do excesso de peso entre os estratos. No modelo multivariado ajustado, o excesso de peso mostrou-se negativamente associado à faixa etária maior e igual a 16 anos, ao hábito regular de consumir o desjejum, e à condição de frequentar a escola. O comportamento de lazer sedentário aumentou a ocorrência do excesso de peso. Para os quilombolas, o excesso de peso permaneceu associado à frequentar a escola. Em relação à prática de atividade física, o estudo demostrou que 45,3% dos não quilombolas e 46,7% dos quilombolas praticavam 300 minutos ou mais de atividade física durante a semana. Os domínios que mais contribuíram para a prática foram os domínios lazer e deslocamento. Para os dois estratos a prática de atividade física foi maior entre os meninos, entre os que trabalhavam, e entre aqueles que relataram existir lugares públicos para a prática de exercícios. Essa prática foi maior também entre os adolescentes não quilombolas que frequentavam a escola e que relataram conhecer programas públicos de incentivo a prática de atividade física. Conclusão: Diante das consequências negativas para a saúde do excesso de peso e dos benefícios da prática de atividade física em idades precoces, ainda são necessárias a potencialização de políticas públicas voltadas para adolescentes residentes em áreas de maiores vulnerabilidades, sobretudo ações de âmbito escolar, levando em consideração a diversidade presente nessas comunidades rurais, suas culturas, crenças e seus hábitos alimentares característicos.

ABSTRACT Introduction: The phase of adolescence, is characterized by a period of great transformations and discoveries, is a phase vulnerable to situations of health risk. Overweight and insufficient physical activity may lead to the emergence of several morbidities and favor additional risks that compromise the health of adolescents living in rural areas. Objective: To estimate the prevalence of overweight and investigate its possible associated factors, besides, to describe the practice of physical activity among rural quilombolas and non quilombolas adolescents in Vitoria da Conquista, Bahia. Methods: A cross-sectional study, with a population basis and residential approach carried out with adolescents aged 10 to 19 years living in quilombola and non quilombola rural communities in Vitoria da Conquista, Bahia. Overweight was described using the z-score of BMI by sex and age. The prevalence ratio and its 95% confidence interval were used to estimate the association between the outcome and the explanatory variables. The multivariate analysis was performed by Poisson regression with robust variance and followed a model with hierarchical input of covariables, a level of significance less than 5% was adopted. The weekly practice of physical activity in minutes was measured from the activities performed in their different domains, and adolescents who practiced 300 minutes or more of weekly physical activity were considered active. The continuous variable was described according to each explanatory variable using the median, maximum and minimum values. To evaluate the difference in physical activity, non-parametric tests were performed: Mann- Whitney-Wilcoxon and Kruskal Wallis and a level of significance of less than 5% were considered. Results: The study showed that 18.5% of rural adolescents were overweight, 17.9% among quilombolas and 19.0% non quilombolas. No significant differences were found between the strata. In the adjusted multivariate model, overweight was negatively associated with increasing age and equal to 16 years, the regular habit of consuming breakfast, and the condition of attending school. Sedentary leisure behavior increased the occurrence of overweight. For quilombolas, overweight remained associated with attending school. Regarding the practice of physical activity, the study showed that 45.3% of non quilombolas and 46,7% of quilombolas practiced 300 minutes or more of physical activity during the week. The domains that contributed most to the practice were the leisure an displacement domains. For both strata, the practice of physical activity was higher among boys, among those who worked, and among those who reported that there were public places to practice exercises. This practice was also greater among non quilombola adolescents who attended school and who reported knowing about public programs to encourage the practice of physical activity. Conclusion: Given the negative health consequences of being overweight and the benefits of physical activity at an early age, are still needed for enhancement of public policies for adolescents living in the greatest vulnerabilities areas, particularly the school environment actions, leading taking into account the diversity present in these rural communities, their cultures, beliefs and their characteristic eating habits.