Configurações do trabalho domiciliarda Costureira, no território da estratégia de Saúde da família

Abstract

O trabalho domiciliar é uma modalidade de trabalho que cresce cada vez mais e apresenta-se como uma das variadas formas de precarização do trabalho presentes na sociedade. Os trabalhadores que exercem alguma atividade econômica no domicílio constituem uma parcela da população pouco investigada quanto às suas necessidades de saúde e quanto à vulnerabilidade e riscos à saúde. Nesta modalidade de trabalho, não há fronteira entre o domicílio e o espaço do trabalho executado, fundindo-se num mesmo ambiente. Em decorrência disso, toda a família está exposta aos mesmos riscos ocupacionais da atividade desenvolvida pelo trabalhador. Nos últimos anos tanto o acelerado processo de mudanças na economia global quanto à reestruturação produtiva do capital tem modificado as relações de trabalho. A reestruturação produtiva se utiliza da informalidade e esta favorece a expansão do trabalho em domicílio. O crescimento do trabalho informal e em domicílio, reforça o papel da atenção básica de fazer chegar ações de saúde o mais próximo possível de onde as pessoas vivem e trabalham. A Atenção Básica à Saúde apresenta grande potencial para romper com a invisibilidade das condições de saúde e de trabalho de trabalhadores informais que exercem algum tipo de trabalho no domicílio. O objetivo desse trabalho foi compreender as configurações do trabalho domiciliar das costureiras, no território da Estratégia de Saúde da Família. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, na perspectiva sócio antropológica. O local da pesquisa foi o domicílio onde é executado algum trabalho produtivo no seu interior. Esses domicílios estão localizados dentro do território da área de abrangência de uma unidade de Saúde da Família, localizada no bairro da Federação, no Município de Salvador-Ba. Durante a exploração do campo, diversas atividades domiciliares foram encontradas. No entanto, para executar uma conversa em profundidade, este estudo focalizou no trabalho intradomiciliar das costureiras. Foram realizadas sete entrevistas semiestruturadas no período de agosto de 2017 a março de 2018. A apresentação dos resultados foi realizada através de uma análise descritiva das entrevistas e das descrições do diário de campo. Foram utilizados recursos da etnografia para a construção de uma interpretação, tendo como suporte o método hermenêutico. Nesse estudo, as costureiras falam sobre como vivem, como ocorreu à inserção na costura e sobre a experiência de buscar se inserir no mercado de trabalho, enquanto proprietárias de uma produção, executada dentro de casa. Nesse ambiente de trabalho, o trabalho produtivo se mistura com o trabalho reprodutivo doméstico. Elas estão submetidas a situações precárias de trabalho, sendo expostas as mais diversas condições de risco e vulnerabilidade. Essas condições acarretaram em diversos problemas de saúde desenvolvidos ao longo dos anos de trabalho. Com os resultados dessa pesquisa, espera-se contribuir para o reconhecimento das demandas de saúde dos trabalhadores que executam atividade produtiva dentro do domicílio, caracterizar em que circunstâncias ele acontece e abrir debate para questões identificadas como precárias para a saúde dos trabalhadores.