VIOLÊNCIA COMO SISTEMA: ESTUDO DE NARRATIVAS LITERÁRIAS E CINEMATOGRÁFICAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS

Abstract

A temática da violência ocupou lugar importante no pensamento ocidental durante a modernidade, convertendo-se em fio condutor de análise sobre o humano e seus modos de organização social. Em se tratando da realidade brasileira e de suas manifestações culturais, a representação da violência preencheu nossas páginas e telas em toda nossa história, interesse esse que correspondeu às consequências do processo de formação da sociedade brasileira, configurado, desde o início, com base na violência que se estendeu e desenhou os caminhos de nossa formação nacional, pautada em inúmeros conflitos atrozes e denunciantes da brutalidade de nossas relações. A partir da década de 1990, no Brasil, houve um avolumamento de obras cinematográficas e literárias sobre a violência. De modo geral, as produções, em sua maioria, se dedicaram à violência policial e à violência a ela relacionada. De maneira similar, a crítica especializada também empregou boa parte de seu interesse nas análises da chamada violência subjetiva, aquela praticada na sociedade por um indivíduo identificável. Ainda que existam em número razoável, obras e críticas dedicadas ao exame da violência objetiva, aquela que o indivíduo sofre em decorrência das configurações da sociedade, de seu sistema econômico e político, não tiveram o mesmo espaço que as dedicadas aos fatos mais “aparentes” ou chocantes do fenômeno da violência. Diante desse cenário, o objetivo deste trabalho é investigar como a produção literária e cinematográfica brasileira contemporânea tem representado a violência, levando em conta seu aspecto objetivo/sistêmico/estrutural, examinando como ele é considerado pelas obras em questão. Para tanto, foram escolhidos os seguintes objetos para compor o corpus do trabalho: o filme Quanto vale ou é por quilo? (2005), dirigido por Sérgio Bianchi, o romance Estive lá fora (2012), escrito por Ronaldo Correia de Brito, e o romance Cabeça a prêmio (2003), escrito por Marçal Aquino. Nos três objetos estudados neste trabalho, percebemos como a violência é representada de formas distintas, ora privilegiando seu aspecto estrutural, ora privilegiando a questão organizacional ou situacional do problema, no entanto de modo a retratá-la por ângulos que se detêm mais nas relações e práticas que estão na base de sua produção do que em suas manifestações evidentes. A violência sistêmica a que estão submetidos os indivíduos é representada por essas obras em suas relações com a violência produzida pela exploração do trabalho, pelo Estado, pelo processo de industrialização e urbanização, pelos resquícios do sistema escravista, pelas relações políticas e sociais, pela aniquilação cultural e estratégia de esquecimento, pela negação de direitos básicos, pela imposição do tráfico de drogas e, entre outros aspectos, pelo racismo institucionalizado, que caracterizaram a participação brasileira no desenvolvimento do sistema capitalista e, consequentemente, nossa modernidade, indicando como essas representações nos ajudam a compreender a sociedade brasileira, sua formação e atual configuração.

El tema acerca de la violencia ocupó un sitio importante en lo pensamiento occidental durante la modernidad, convirtiéndose en un hilo conductor de la analice acerca del humano y sus modos de organización social. Tratándose de la realidad brasileña y de sus manifestaciones culturales, la representación de la violencia llenó nuestras páginas y pantallas en nuestra historia. Ese interés correspondió las consecuencias del proceso de formación de la sociedad brasileña que, desde el inicio, es basado en la violencia. Esa se ha extendido y diseñó los caminos de nuestra formación nacional, basada en numerosos conflictos atroces y denunciantes de la brutalidad de nuestras relaciones. A partir de la década de los 90, en Brasil, ocurrió un aumento de obras cinematográficas y literarias acerca de la violencia. De manera general, la mayoría de las producciones se dedicaran a la violencia policial y todas las maneras de violencia derivadas de ella. De manera similar, la crítica especializada también se dedicó gran parte del interés a las analices de la violencia subjetiva, aquella practicada en la sociedad por un individuo identificable. Aunque en número razonable, obras y críticas dedicas al examen de la violencia objetiva, aquella que lo individuo sufre en consecuencia de las configuraciones de la sociedad, del sistema económico y político, no tuvieron lo mismo espacio que las dedicadas a los fatos “evidentes” o impactantes del fenómeno de la violencia. Frente a esto, lo objetivo del trabajo es investigar como la producción literaria y cinematográfica brasileña contemporánea han representado la violencia, teniendo en cuenta su aspecto objetivo/sistémico/estructural, examinando como él es considerado por las obras en cuestión. Para estos fines, fueron elegidos los siguientes objetos de estudio para componer el corpus del trabajo: la película Quanto vale ou é por quilo? (2005), dirigido por Sérgio Bianchi, la novela Estive lá fora (2012), escrita por Ronaldo Correia de Brito, y la novela Cabeça a prêmio (2003), escrito por Marçal Aquino. En los tres objetos de este trabajo es posible percibir como la violencia es representada de maneras diferentes, a veces privilegiando su aspecto estructural, a veces privilegiando la cuestión organizacional o situacional del problema. Sin embargo, esta violencia es representada por ángulos que tienen en las relaciones y prácticas que están en la base de su producción en vez de sus manifestaciones evidentes. La violencia sistémica, a la que someten los individuos, es representada por estas obras en sus relaciones con la violencia producida por la exploración del trabajo por el Estado, a través del proceso de industrialización y urbanización, por los vestigios del sistema esclavista, por las relaciones políticas y sociales, por la aniquilación cultural y estratégica del olvido, por la negación de derechos básicos, por la imposición del narcotráfico, entre otros aspectos, por el racismo institucionalizado que han caracterizado la participación brasileña en el desarrollo del sistema capitalista y, consecuentemente, nuestra modernidad, indicando como estas representaciones nos ayudan la comprensión de la sociedad brasileña, su formación y actual configuración.