Ensaiando explicações e explorando caminhos para o campo da administração pública

Abstract

Esse artigo tem como objetivo geral refletir sobre a administração pública como campo de conhecimento, o que se desdobra nos seguintes objetivos específicos: analisar o campo e indicar estratégias para seu desenvolvimento. Para a estruturação da análise, adota-se o conceito de campo do conhecimento de Bourdieu (2004), como um microscosmo social relativamente autônomo e composto de conhecimento, agentes, instituições, estas últimas aqui interpretadas como leis e também como organizações que realizam essas leis e congregam os referidos agentes. Sob esse conceito, estrutura-se a análise do campo da administração pública sob dois eixos: do conhecimento sobre administração pública relacionado ao contexto social; e do processo de configuração e a configuração atual do campo da administração pública nas dimensões do ensino e da pesquisa. O segundo eixo é então subdivido em duas dimensões, o do ensino e o da pesquisa. No primeiro eixo, analisa-se o conhecimento produzido, reproduzido e difundido sobre administração pública, considerando a relativa influência do contexto social sobre o campo e, de certa forma, a relativa autonomia do campo em relação ao contexto social. No segundo e no terceiro eixos, são analisados o processo de configuração e a configuração atual do campo da administração pública nas dimensões do ensino e da pesquisa, considerando-se: o conhecimento produzido, reproduzido e difundido nessas dimensões; os agentes que atuam nessas dimensões, destacando-se os professores e os pesquisadores, mas sem ignorar os gestores e a sociedade em geral que utilizam esse conhecimento; as organizações, especificamente as de ensino e pesquisa, mas, também, sem ignorar as organizações que são seus objetos e envolvem sujeitos do conhecimento sobre administração pública. O estudo evidencia as características mais marcantes do campo da administração pública, para indagar se há alternativas, possibilidades, estratégias que podem auxiliar o seu desenvolvimento, e quais seriam as possibilidades de sua emancipação. Destaca, em primeiro lugar, a necessidade de se libertar da regular análise dos movimentos ocorridos no panorama público nacional, para compreender teoricamente o que justifica esses movimentos, explicá-los à luz das teorias existentes ou desenvolver teorias que os explique. Indica que é preciso repensar a pesquisa e a sua condição de submissão ou escravidão a esses movimentos. Ainda sugere a necessidade de se estabelecer mais claramente os limites disciplinares, procurando a determinação do objeto e dos temas, e a coerência teórica e metodológica de sua abordagem. E, em seguida, avança no sentido de que se deve, também, aceitar a complexidade do campo para, enfim, ser capaz de flexibilizar os limites da disciplina, podendo, inclusive, pensá-la a partir da multi, inter, e até transdisciplinaridade, ampliando seu objeto, multiplicando os temas e admitindo diversas abordagens teóricas e metodológicas, sem mantê-la em estado de submissão. Neste sentido, um esforço da comunidade acadêmica, aberta para o encontro e o diálogo entre os pesquisadores, se faz necessário.