A cobertura jornalística sobre os sistemas públicos de saúde no Brasil e na Espanha: uma análise comparativa.

Abstract

Os sistemas públicos de saúde brasileiro e espanhol apresentam similaridades em termos de princípios e de organização dos serviços. Enfrentam também desafios parecidos, como o de garantir a universalidade do sistema, sobreviver aos cortes no financiamento e concorrer com a expansão dos seguros privados. Nesse contexto, considerando que a mídia ocupa um lugar de destaque nas sociedades contemporâneas, este trabalho teve como objetivo analisar, de forma comparativa, a cobertura jornalística da Folha de São Paulo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e do El País sobre o Sistema Nacional de Salud (SNS). A tese foi desenvolvida em três artigos que se complementam. O primeiro manuscrito se propôs a apresentar e discutir as bases teórico-conceituais sobre a notícia que podem sustentar possíveis escolhas analíticas adotadas para estudar a cobertura jornalística sobre temas do campo da Saúde Coletiva. Baseando-se em autores como Silva, Traquina e Gomis, o trabalho discutiu tipificações de valores-notícia com destaque para os valores permanentes como interessante´ e ´importante´ por abranger todo o campo da noticiabilidade. Essas variáveis - por dizer muito sobre a realidade social em que vivemos – mostraram-se categorias potentes de análise. O segundo artigo teve como objetivo mapear a produção científica na área da saúde, publicada no período de 2000 a 2015, que analisou a cobertura jornalística sobre a saúde pública brasileira. O trabalho nos propiciou compreender qual foi o lugar e quais foram os enfoques adotados sobre o Sistema Único de Saúde, visto dentro de uma gama mais ampla de temas de saúde pública. Dos 64 artigos analisados, oito tinham como objeto analisar a cobertura jornalística sobre alguma das dimensões do sistema público. Apesar do número baixo, foi o segundo tema mais investigado, atrás de doenças com 31 artigos. O manuscrito trouxe ainda um olhar sobre os métodos de análise, o que nos possibilitou constatar a predominância da análise do discurso e de conteúdo nas abordagens adotadas. Foi possível também identificar algumas lacunas, como o fato de não haver estudos relacionados à produção de notícia sobre a cobertura do SUS. O terceiro manuscrito trouxe a produção de dados da tese analisados em uma perspectiva comparativa sobre a cobertura no El País e na Folha de São Paulo sobre os sistemas públicos da Espanha e do Brasil, respectivamente. O trabalho investigou o que esses jornais consideraram como notícia relevante, referente ao tema estudado, para compor suas capas no ano de 2013. A Folha trouxe 88 capas, com 100 chamadas no total e, no El País, foram 37 capas e 39 chamadas durante o ano de 2013. A cobertura da Folha centrou-se no programa Mais Médicos; e, no El País, a maioria das notícias enfocou a privatização da saúde pública espanhola. Das nove categorias de valores-notícia de seleção, os jornais compartilharam oito delas, entretanto com frequências diversas. O valor-notícia mais presente nos dois foi governo, com destaque para as ações e medidas governamentais. Como segunda categoria, na Folha, prevaleceu a polêmica, enfocando precisamente o embate que se formou entre os conselhos federais de medicina e o Ministério da Saúde. No caso do diário espanhol, a segunda categoria mais presente foi o impacto em que as chamadas destacaram fatos embasados em números expressivos. Em relação aos valores-notícia de construção, constatamos que os jornais utilizaram recursos diversos. A Folha recorreu à simplificação em relação à abordagem adotada e o El País investiu na personalização e na dramatização para sensibilizar os leitores ao trazer relatos dos usuários e dos profissionais de saúde em que, em muitos casos, o pano de fundo era o processo de privatização da saúde.