Construção do self educacional de pessoas trans ao longo de suas trajetórias acadêmicas

Abstract

Em dado momento de seu desenvolvimento, os indivíduos desenvolvem consciência de si, originando a experiência de self. A Psicologia Semiótico-Cultural entende que o self é construído a partir da relação com outros significativos, que produzem discursos sobre um indivíduo, que por sua vez negocia e internaliza alguns deles, construindo assim suas definições de si ao longo da vida. Discursos produzidos por atores educacionais têm papel importante sobre o desenvolvimento dos selves de estudantes, e a parte específica do self que emerge a partir das experiências educacionais é chamada de self educacional. As experiências escolares de transgêneros/as são perpassadas por diversas violências. Diante disso, este estudo questiona como pessoas trans constroem seus selves educacionais. O objetivo é compreender o desenvolvimento do self educacional de pessoas trans ao longo de suas trajetórias acadêmicas. Para isto foi realizado um estudo qualitativo de múltiplos casos do qual participam três estudantes trans de cursos de ensino superior. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista semiestruturada e da técnica dos cenários dilemáticos, submetidos a análise de conteúdo e interpretados a partir da Psicologia Semiótico-Cultural. Nos três casos analisados verificou-se uma experiência de discursos de abjeção na educação básica que promoveram a emergência de três posições nos selves educacionais dos participantes: Eu–Estrangeira, Eu–Invisível e Eu–Insegura. Também emergiam posições de resistência, tais como Eu–Resistente e Eu–Impecável. Na experiência universitária há uma maior tensão dialógica, com discursos e práticas tanto inclusivos quanto excludentes, levando a uma coexistência entre posições de abjeção e posições de resistência nos sistemas dos selves educacionais dos participantes. Estudos futuros podem observar as relações de gênero nas escolas, bem como se debruçar sobre as dinâmicas dos selves educacionais de pessoas trans que não acessam a universidade.

Throughout their developmental trajectories, individuals build self-awareness, through which the experience of self originates. Cultural Semiotic Psychology understand that the self is built through intersubjective relations, in which significant others produce discourses about an individual, who negotiate with it and internalize some of them, thus building their self-definitions throughout life. Discourses made by educational actors have an important role on the development of students’ selves, and the specific part of self that emerges from the educational experiences is called Educational Self. The school experiences of transgender people are permeated by many types of violence. Thus, this study asks how transgender people build their educational selves. The objective is to understand the development of the educational self of trans people through their academic trajectories. In order to fulfill this objective, a multi-case qualitative study was made, in which three transgender university students participated. Data was collected through a semi-structured interview and the dilemmatic scenarios technique, submitted to a content analysis and interpreted under the Cultural Semiotic Psychology concepts. The three analyzed cases showed an experience of abjection discourses in the high school, which promoted the emergence of three positions in the Educational Self of the participants: I-Foreigner, I-Invisible and I-Insecure. Also, they built positions of resistance, such as I-Resistant and I-Flawless. Regarding the college experience, there are more dialogical tension, with discourses and practices of both, inclusion and exclusion, leading to a coexistence between positions of abjection and of resistance in the systems of the Educational Selves of the participants. Future research can observe gender relations in the schools, as well as approach the dynamics of the Educational Selves of transgender people who couldn’t reach higher education.