Trajetórias de mulheres da e na EJA e seus enfrentamentos às situações de violências

Abstract

A pesquisa apresentada nesta dissertação tem como objetivo geral compreender as trajetórias de mulheres da e na EJA e suas repercussões nos enfrentamentos às situações de violências. Considerando a assimetria das relações entre homens e mulheres, dentro e fora das salas de aula, propõe-se a apreender a importância da instituição escolar, na vida das estudantes, para além do processo de escolarização. A relevância deste estudo perpassa as seguintes dimensões: empírica, teórica, política e estrutural. Trata-se de uma pesquisa do tipo empírica, com o método biográfico, que foi realizada no contexto de uma escola pública do município de Salvador-BA, adequando-se às exigências da nova realidade social imposta pela pandemia da COVID-19. Duas estudantes foram entrevistadas, utilizando o recurso das Entrevistas Narrativas, através de chamadas de áudio e da realização de um encontro presencial. As informações produzidas foram apreciadas à luz da Análise Narrativa. O estudo está baseado, nomeadamente, nas contribuições de Miguel Arroyo, para entender as especificidades das/os sujeitas/os da e na EJA; nos pressupostos de Angela Davis, Heleieth Saffioti, Kimberlé Crenshaw, Lélia Gonzalez e Nilma Lino Gomes para articular as opressões e exclusões de gênero, raça/etnia e classe social; e nas ponderações de Paulo Freire para refletir acerca dos processos de emancipação através da educação. Os resultados apontam que dentre as razões para o afastamento da escola, destacam-se a tripla jornada de trabalho, inclusive desde a infância, além da interdição de familiares, sobretudo da autoridade masculina. A sociedade brasileira imputa às mulheres o atributo de inferior comparada aos homens, culminando em discriminações e menores chances educacionais. Além da violência de gênero, a violência estrutural desponta como impeditiva para a escolarização de mulheres, principalmente quando são pobres, negras, periféricas e/ou migrantes. Muitas delas conseguem romper as amarras aplicadas pelo poder patriarcal e exercem o direito à educação, mas a decisão de retorno não transcorre sem conflitos, geralmente relacionados ao trabalho estabelecido como feminino e às contradições da sociedade capitalista de produção. A EJA emerge como possibilidade de restituir o direito à educação dessas pessoas, que apresentam como desejo o alcance de condições melhores para suas vidas. A escola insurge como um espaço de convivência e estabelecimento de relações de amizade. Inúmeros desafios ainda persistem, no plano dos processos formativos e educativos, para a conscientização e emancipação das mulheres-estudantes.

ABSTRACT The research presented in this dissertation aims to understand the trajectories of women in and in EJA and their repercussions in coping with situations of violence. Considering the asymmetry of the relationships between men and women, inside and outside the classroom, it is proposed to apprehend the importance of the school institution, in the students' lives, beyond the schooling process. The relevance of this study permeates the following dimensions: empirical, theoretical, political and structural. This is an empirical research, with the biographical method, which was carried out in the context of a public school in the city of Salvador-BA, adapting to the demands of the new social reality imposed by the COVID-19 pandemic. Two students were interviewed, using the Narrative Interviews resource, through audio calls and a face-to-face meeting. The information produced was assessed in the light of Narrative Analysis. The study is based, namely, on the contributions of Miguel Arroyo, to understand the specificities of the subjects of and in EJA; on the assumptions of Angela Davis, Heleieth Saffioti, Kimberlé Crenshaw, Lélia Gonzalez and Nilma Lino Gomes to articulate the oppressions and exclusions of gender, race/ethnicity and social class; and on Paulo Freire's considerations to reflect on the processes of emancipation through education. The results show that among the reasons for the absence from school, the triple workday stands out, including from childhood, in addition to the prohibition of family members, especially those of male authority. Brazilian society attributes to women the attribute of inferior compared to men, culminating in discrimination and lower educational chances. In addition to gender violence, structural violence emerges as an impediment to women's schooling, especially when they are poor, black, peripheral and/or migrant. Many of them manage to break the bonds applied by the patriarchal power and exercise the right to education, but the decision to return is not without conflicts, generally related to work established as female and the contradictions of the capitalist society of production. EJA emerges as a possibility of restoring the right to education of these people, who have the desire to achieve better conditions for their lives. The school emerges as a space for coexistence and establishment of friendly relationships. Countless challenges still persist, in terms of training and educational processes, for the awareness and emancipation of womenstudents.

RESUMEN La investigación presentada en esta disertación tiene como objetivo comprender las trayectorias de las mujeres en y en EJA y sus repercusiones en el afrontamiento de situaciones de violencia. Considerando la asimetría de las relaciones entre hombres y mujeres, dentro y fuera del aula, se propone aprehender la importancia de la institución escolar, en la vida de los estudiantes, más allá del proceso escolar. La relevancia de este estudio permea las siguientes dimensiones: empírica, teórica, política y estructural. Se trata de una investigación empírica, con el método biográfico, que se realizó en el contexto de una escuela pública de la ciudad de Salvador-BA, adaptándose a las demandas de la nueva realidad social impuesta por la pandemia COVID-19. Se entrevistó a dos estudiantes, utilizando el recurso Narrative Interviews, a través de llamadas de audio y una reunión presencial. La información producida se evaluó a la luz del análisis narrativo. El estudio se basa, a saber, en los aportes de Miguel Arroyo, para comprender las especificidades de los sujetos de y en EJA; sobre los supuestos de Angela Davis, Heleieth Saffioti, Kimberlé Crenshaw, Lélia Gonzalez y Nilma Lino Gomes para articular las opresiones y exclusiones de género, raza / etnia y clase social; y las consideraciones de Paulo Freire para reflexionar sobre los procesos de emancipación a través de la educación. Los resultados muestran que entre los motivos de abandono escolar destaca la triple jornada laboral, incluso desde la infancia, además de la interdicción de los familiares, especialmente los de autoridad masculina. La sociedad brasileña atribuye a las mujeres el atributo de inferioridad en comparación con los hombres, lo que culmina en discriminación y menores oportunidades educativas. Además de la violencia de género, la violencia estructural surge como un impedimento para la escolarización de las mujeres, especialmente cuando son pobres, negras, periféricas y / o migrantes. Muchas de ellas logran romper los lazos aplicados por el poder patriarcal y ejercer el derecho a la educación, pero la decisión de regresar no está exenta de conflictos, generalmente relacionados con el trabajo establecido como femenino y con las contradicciones de la sociedad capitalista de producción. EJA surge como una posibilidad para restituir el derecho a la educación de estas personas, que tienen el deseo de lograr mejores condiciones para sus vidas. La escuela surge como un espacio de convivencia y establecimiento de relaciones de amistad. Aún persisten innumerables desafíos, en términos de procesos formativos y educativos, para la concienciación y emancipación de las alumnas.