O QUE O RACISMO FEZ COM VOCÊ? PROCESSOS DE RESISTÊNCIA E DESCOLONIZAÇÃO DE MULHERES INTEGRANTES DA REDE DE MULHERES NEGRAS DA BAHIA

Abstract

Este trabalho trata dos efeitos da colonização, da escravidão e do racismo na subjetividade e nas relações afetivas das mulheres negras integrantes da Rede de Mulheres Negras da Bahia, acrescentando dados e reflexões à temática da solidão da mulher negra. Para atender a esse objetivo, utilizei como metodologia a análise de trajetórias e entrevistei mulheres negras integrantes da Rede de Mulheres Negras da Bahia, que desenvolveram suas trajetórias da década de 1970 até a atualidade, um período de grande movimentação política da população negra em busca de reparação, que vem resultando em importantes conquistas de direitos, ultimamente protagonizadas pelas mulheres negras. São elas que vêm dominando as narrativas que politizam as redes sociais, as mídias, os espaços públicos e privados sobre as questões raciais. Esta pesquisa revelou que internalizamos as diferenças e a sensação de sermos cidadãs de segunda categoria, em virtude de uma exposição contínua à inferiorização, algumas vezes velada e outras não, cujo principal objetivo está em construir subjetividades subalternizadas e fragilizadas através da colonização do ser, uma estratégia utilizada pelos colonizadores e ressignificada pelos grupos hegemônicos. A opção por trabalhar com essas mulheres se deve não somente ao fato de trazer à tona a dimensão subjetiva do racismo, mas de tornar igualmente público o processo de transição da negação da identidade negra para sua afirmação na trajetória dessas mulheres, ou seja, publicizar os processos de descolonização de suas subjetividades, rompendo com a lógica colonial que impõe apenas uma possibilidade de existir, a do grupo hegemônico.

This work deals with the effects of colonization, slavery and racism on the subjectivity and affective relationships of black women who are part of the Black Women Network in Bahia, adding data and reflections to the theme of black women's loneliness. To meet this objective, I used the analysis of trajectories as a methodology and interviewed black women who are part of the Black Women Network of Bahia, who developed their trajectories from the 1970’s to the present, a period of great political movement for the black population in search of reparation, which has resulted in important rights conquests, recently led by black women. They are the ones who have dominated the narratives that politicize social networks, the media, public and private spaces on racial issues. This research revealed that we internalize the differences and the feeling of being second-class citizens, due to a continuous exposure to inferiority, sometimes veiled and sometimes not, whose main objective is to build subordinated and weakened subjectivities through the colonization of being, a strategy used by colonizers and reframed by hegemonic groups. The option to work with these women is due to the fact that it not only brings out the subjective dimension of racism, but also makes the transition process of denying black identity to its affirmation in the trajectory of these women equally public, that is, publicizing the processes decolonization of their subjectivities, breaking with the colonial logic that imposes only one possibility to exist, that of the hegemonic group.