Artifício | oiɔíʇiƚɿA: do ofício artístico à exposição cotidiana da imagem de si

Abstract

A questão da tese foi como lidar com a exposição tridimensional e ao vivo em uma era em que o modo de perceber é predominantemente visual e constantemente chamado à bidimensionalidade das telas e aparatos técnico-tecnológicos que compõem a atenção de quem vive em cidades e participa da cibercultura. Tal questão foi expandida de um projeto artístico chamado Artifício, em que as ações performativas pela artista da presença ao vivo foram mediadas e motivadas pela relação direta com objetos cênicos, escolhidos por serem artifícios criados como extensão da função visual humana: aparatos eletrônicos móveis como o celular, telas, câmeras de registro audiovisual, luminárias, antenas e persianas. Esses objetos atravessaram diversas funções, desde cenários a figurinos e foram condicionantes da mobilidade da presença corporal durante as ações de intervenção urbana e instalações de galeria, bem como promoveram a participação do público através de sua autoimagem. Especificamente, a tese expandiu a questão formantada na última ação do projeto, chamada Artifício II, realizada no Bauhausfest no ano de 2015: o intercâmbio entre os atos de exposição artística e do público através da autoimagem. A implicação do público como motivador do trabalho artístico e de sua participação especular, refletiu na observação acerca da característica de mídia e imagem que esses aparatos possuem e de sua interação com os valores simbólicos em torno da imagem de si e do espelho. Reflexivamente, fez dessa questão um mote para perceber o atravessamento técnico-tecnológico dos artifícios humanos como mobilizadores da poieses de si, não apenas em arte, mas na construção da subjetividade, interação sociocultural e mundo do trabalho. Situada no campo da performance, a tese chama à hibridização de linguagens artísticas, de comunicação, de estéticas, de poéticas e de eventos cotidianos. Também se colocou diante de análises críticas de fenômenos da modernidade, pós-modernidade e da tradição para ler o desenvolvimento técnico-científico que promove a mudança de paradigma em curso na sociedade glocal, através do convívio cada vez mais proeminente da visualidade 2D e do fenômeno crescente da exposição da imagem de si. Por isso, considerou a multiplicidade e a efemeridade como fatores que desestabilizaram as noções autocentradas de trabalho e de sujeito para a construção das narrativas mestras (self, Estado, Nação), no processo de reformulação dos mitos em torno da imagem, quando colocados em eventos que convocam a uma tomada de posição pelo público. Nesse caso, os exemplos mais relevantes foram os trabalhos Illusions de Grada Kilomba, Obedience de Greenway e Bodekke, a análise de Susan C. Haedicke acerca do processo de reflexividade e a leitura sobre a ópera chinesa e sua influência no efeito autoreflexivo do público no teatro brechiano. Por conseguinte, houve o maior vigor na leitura de projetos multimeios, multiartes, mas também de artistas que valorizaram os estudos de técnicas materiais que promovem o intercâmbio entre a bidimensionalidade e a tridimensionalidade no tratamento da imagem. Nesse último caso, duas análises técnicas pareceram relevantes: o trânsito entre os estudos da plástica e do palco nas obras de Oskar Schlemmer, na Bauhaus; e a técnica da perspectiva na pintura e sua relação com o cinema no projeto Nine Classic Paintings de Peter Greenway, devido ao fator de ser o recurso que ainda prevalece nas imagens técnicas com as quais artistas e público estão, cada vez mais, explorando a criação expressiva e cotidiana com a imagem de si. Tais análises foram consideradas como abordagens que podem colaborar para um letramento simbólico e visual acerca da presença da autoimagem por parte do artista da efemeridade e do público interessado na relação entre arte, ofício e vida. A abordagem usada encontra-se na continuidade dos estudos do mestrado, ao que propus como a Cartografia Somático-Performativa, quando busca-se mapear o modus operandi de pesquisas que estão próximas e implicadas com a experiência criativa do pesquisador da área de Artes Cênicas.

The thesis question is how to deal with three-dimensional presence in live exposure acts, in an era that the way of perceiving is predominantly visual and constantly called to the two- dimensionality of the screens and devices that compose the attention of those who live in cities and participates in the ciberculture. This question was expanded of an artistic Project, named Artifice, in which the performative actions in dance by the artist of the live presence is mediated and motivated by the direct relation with scenic objects. Since 2011 these scenic objects have been developed and chosen as artifacts created as an extension of, and for the human visual function, such as wildscreen and the electronic devices such as mobile phones, audiovisual recorders, as well as lamps, antenas and shutters. These objects went through a variety of functions, from scenarios to costumes, and were mobility factors in the body presence during urban intervention actions and gallery installations, as well as promoting public participation through their self-image. Specifically, the thesis expanded the issue developed in the last project action, called Artifice II, held at the Bauhausfest in the year 2015, considering the exhibition acts, from the point of view of the exchange between artistic and public exposure, through self- image. The public implication was a motivator of the artistic work and its specular participation fostered the observation about the media and image characteristic of these apparatuses and their interaction with the symbolic values around the image of oneself and the mirror. Reflexively, made this a point to understand the drilling of human techniques, technologies and artifices as mobilizers of the self poieses, not only in art but also in the construction of subjectivity, socio- cultural interaction and the world of work. Located in the performance field, the thesis calls for the hybridization of artistic, communication, aesthetic, poetic and everyday language. It has also placed itself in the face of critical analyzes of modernity, postmodernity, and tradition phenomena to read the technical-scientific development that promotes the ongoing paradigma, the shifting on glocal society through the prominent conviviality of 2D visuality and the increasing exposure phenomenon of self image. The multiplicity and ephemerality were the factors that destabilized the self-centered notions of work and subject for the construction of the master narratives (self, State, Nation), considering the reformulation process and master myths appropriation around the image, when placed in situations and events that call for a positioning by the public. In this case, the most relevant examples were the Works of Grada Kilomba, Illusions, the Greenway's and Bodekke's Obedience, the analysis of Susan C. Haedicke's about the process of reflexivity and the reading about Chinese opera, and its influence on the self-reflective effect in the Brecht’s theater. Therefore, there was the greatest vigor in reading multimídia and multiartes projects, but also artists that valued the material techniques studies, promoting two and three-dimensionality exchange in the image treatment. In this sense, the thesis brought two important technical analyzes: the plastic and stage studies transit in the works of Oskar Schlemmer, during the period in which he worked at the Bauhaus, German art school; and the perspective technique in painting and its relation to cinema through Greenway’s Nine Classic Project, due to the fact that it is still the resource that prevails in the technical images with which, artists and the public are increasingly exploring expressive and everyday creation with self image. Such analyzes were considered as approaches that can collaborate for a visual literacy by the ephemeral artists and for the public who’s interested in the relation among art, craft and life. The approach used is in the continuity of master's studies, to what I have named Somatic-Performative Cartography, when we seek to map the modus operandi and the route of materials that are close and involved in the creative experience of the researcher in the field of Performing Arts.