Resumo:
A presente pesquisa tem por objetivo realizar um estudo sobre o bairro como
recorte espacial integrante do espaço urbano, com base do caso do Cabula, na cidade
de Salvador. A partir do estudo da percepção/concepção dos seus moradores e
usuários, foi realizado um estudo sobre o bairro, entendido como espaço de vivências,
e suas relações com a cidade. O Cabula foi escolhido como recorte devido à riqueza de
fatores que atuaram na sua formação e a complexidade de delimitação e concepção
deste bairro, no imaginário da cidade. Outros fatores foram à diversidade de usos e
ocupação e a possibilidade de se obter diferentes visões sobre como as dinâmicas do
espaço urbano podem ser percebidas a partir do bairro. Embora a compreensão dos
processos históricos de ocupação da área, seja relevante, o princípio norteador deste
trabalho foi a percepção/cognição que os moradores têm do espaço atual, e, como
estes se relacionam com ele e suas representações simbólicas. Assim, neste caminho, os principais referenciais teórico-metodológicos são: Yi Fu Tuan, sobretudo nas obras Espaço e Lugar (1983) e Topofilia (1980); Kevin Lynch em sua obra A imagem da
cidade (2006); e Angelo Serpa, sobretudo nas obras Cidade Popular: trama de relações
sócio-espaciais (2007) e O espaço público na cidade contemporânea (2007). Os
resultados da pesquisa nos conduziram a três realidades distintas e complementares: o
Cabula como bairro coeso, composto por um núcleo de condomínios e conjuntos
habitacionais, onde se concentram os principais referenciais; o Cabula como bairro
difuso, que se confunde e se associa a bairros menores no seu entorno, e por último, o Cabula como região da cidade de Salvador, fortemente influenciada pelas suas vias de acesso. Embora seus limites sejam difusos, como demonstram as três situações
explicitadas, o Cabula mantém o seu caráter de lugar e apresenta uma identidade
claramente percebida e concebida dentro de sua heterogeneidade. Observou-se que as
diferenças não distanciam claramente seus espaços, mas criam outras relações e laços
de pertencimento, criam outros aspectos identitários. Bairros são percebidos e
concebidos como espaços em que as vivências práticas e subjetivas se conciliam na
trama da vida cotidiana dos indivíduos; neste sentido, a relevância desta pesquisa se
dá, sobretudo, pela necessidade de olhar a cidade como um espaço vivido, agente e
paciente das relações humanas, nele estabelecidas. Neste aspecto, o olhar sobre o
bairro torna-se fundamental, sobretudo nas grandes cidades, pois, é nele que os
aspectos imateriais são mais facilmente concebidos.