Escola sem patrão: ampliando o olhar sobre a autogestão enquanto ponte para o autodesenvolvimento

Abstract

A autogestão está comumente associada ao processo de auto-organização dos trabalhadores para lidarem com a contradição capital e trabalho do modo de produção capitalista. Enquanto contraposição à gestão heterônoma, a autogestão revela traços desafiadores aos envolvidos no processo organizativo uma vez que têm como fundamentos principais a horizontalidade entre trabalhadores baseada em relações de igualdade, a propriedade coletiva dos meios de produção e o poder de determinação dos rumos da organização pelos próprios trabalhadores, sendo a antítese da típica empresa capitalista. Assim, a maioria dos estudos sobre esta temática tem como ponto central as organizações produtivas de trabalho e as formas alternativas de gestão. Este trabalho, no entanto, tem como objetivo geral compreender quais são as especificidades e os desafios postos à pratica da autogestão em uma organização escolar. Para tanto, analisamos como se dá a autogestão na Escola Rural Dendê da Serra, orientada pela pedagogia Waldorf, a qual tem como princípio a autogestão dos professores exercida por meio do colegiado republicano. Uma autogestão que tem os professores como elemento central no processo de tomada de decisão e determinação dos rumos da escola, porém que se faz de forma compartilhada com os pais dos alunos e com o apoio, em termos jurídicos e legais, de uma associação mantenedora. Optamos em realizar uma abordagem qualitativa, a qual contou com o estudo de caso enquanto estratégia de investigação e com as técnicas de coleta de dados a entrevista semiestruturada, a análise de documentos e a observação não participante. Com esta pesquisa podemos identificar o caráter singular dessa experiência autogestionária baseada nos princípios antroposóficos do filósofo austríaco Rudolf Steiner, que é compreendida enquanto uma autogestão de duplo caráter; pedagógico e comunitário, ao envolver pais, professores e associação mantenedora, imbuídos no sentido comum de proporcionar uma formação de seres humanos livres. Revelamos enfim como os desafios da autogestão podem ser encarados sob a perspectiva de promoção do autodesenvolvimento humano.

Self-management is commonly associated with the process of self-organization of workers to deal with the capital and labor contradiction of the capitalist mode of production. As opposed to heteronomous management, self-management reveals challenging traits to those involved in the organizational process since they have as main foundations the horizontality between workers based on equality relations, the collective ownership of the means of production and the determination power of the organization's Own workers, being the antithesis of the typical capitalist enterprise. Thus, most of the studies on this theme have as central point the productive organizations of work and the alternative forms of management. This work, however, has as general objective to understand what are the specificities and challenges put into the practice of self-management in a school organization. In order to do so, we analyze how self-management occurs in the Dendê da Serra Rural School, guided by the Waldorf pedagogy, which has as its principle the self-management of teachers exercised through the Republican collegiate. A self-management that has the teachers as a central element in the decision-making process and determination of the direction of the school, but which is done in a shared way with the parents of the students and with legal and legal support of a supportive association. We chose to carry out a qualitative approach, which included a case study as a research strategy and data collection techniques, semi-structured interview, document analysis and non-participant observation. With this research, we can identify the unique character of this self-management experience based on the anthroposophical principles of the Austrian philosopher Rudolf Steiner, which is understood as a self-management of double character; Pedagogical and community-based, by involving parents, teachers and a supportive association, imbued in the common sense of providing a training of free human beings. We finally reveal how the challenges of self-management can be viewed from the perspective of promoting human self-development.