UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA INSTITUTO DE LETRAS ARTHUR MOURA VARGENS AQUISIÇÃO DE PROPAROXÍTONAS: UM ESTUDO COM BASE EM DADOS DO ERT Salvador 2012 ARTHUR MOURA VARGENS AQUISIÇÃO DE PROPAROXÍTONAS: UM ESTUDO COM BASE EM DADOS DO ERT Monografia apresentada ao componente curricular LetA08 – Trabalho de Conclusão de Curso, do Instituo de Letras da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Letras Vernáculas. Orientadora: Profa. Dra. Claudia Tereza Sobrinho da Silva Salvador 2012 AGRADECIMENTOS A meu pai, Eugenio, minha mãe, Carmem, a minha tia Meran, pessoas muito importantes e sem as quais eu não ingressaria na Universidade Federal da Bahia. A minhas irmãs Samantha e Esther, meu irmão João Elias, minha avó Lourdes, e toda a minha família por todo apoio e inspiração direta ou indireta que me forneceram. A minha orientadora, Claudia Tereza Sobrinho da Silva, pela oportunidade. Às professoras Carola Rapp e Elizabeth Reis Teixeira, por aceitarem compor a banca. Ao PROAEP, por ter disponibilizado o banco de dados. A meus colegas no PET-Letras da UFBA pelo apoio, compreensão, pela oportunidade de uma bolsa, de uma iniciação científica, e por compartilhar momentos semelhantes: Diego Câncio, José Nilton, Kathiúscia Santos, Lucas Santos, Paula Assunção, Paula Augusto, Renata Brito, Rosecleide Borges, Thiago Cardoso, Uilians Souza; aos tutores que tive no PET: Antonio Marcos Pereira e Rachel Esteves Lima. Aos professores que tive no Instituto de Letras da UFBA: Alícia Duhá, André Gaspari, Carola Rapp, Denise Zoghbi, Marcela Paim, Marla Andrade, Sônia Borba, Tânia Lobo. Foram pessoas/profissionais fundamentais para a realização e término deste trabalho. A Elizabteh Teixeira, Emanuelle Chagas, Lucas Santos e Maiana Lima, pela revisão do resumo em língua estrangeira. A Fernanda Cerqueira e Ramon Paranhos, pelo exemplo. A Davi de Almeida Pereira Filho, pelos vídeos que compartilhou comigo, distração e lazer que acompanharam toda a produção deste texto. Aos amigos do peito Claudio Sousa Pereira, Lilian Rau, Rejane de Sousa, Rodrigo Lima Maciel, Sara Oliveira da Cruz, Thiago Santos Cardoso, entre outros que fizeram parte, indiretamente, de todo o processo. A todos, meus sinceros agradecimentos. Muito obrigado! Arthur M. Vargens RESUMO Estudo sobre proparoxítonas no processo de aquisição do português como língua materna, em contraste com o que se discute sobre a proparoxítona enquanto padrão prosódico em língua portuguesa, no Brasil. Tem como corpus a produção dos vocábulos ÁRVORE, FÓSFORO, MÁQUINA, ÓCULOS, ÔNIBUS e XÍCARA por crianças de dois a nove anos de idade, corpus obtido no banco de dados do Programa de Estudos em Aquisição e Ensino do Português como Língua Materna – PROAEP, a partir da aplicação do exame fonético-fonológico ERT. Na revisão teórica, apresentam-se as discussões sobre a proparoxítona como um padrão rejeitado e excepcional na língua portuguesa, são citados alguns trabalhos de pesquisa sobre as proparoxítonas por falantes de baixa escolaridade, com dados sociolinguísticos; são demonstrados, também, trabalhos sobre a aquisição da prosódia do português. Na análise de dados, há um contraste entre os dados de crianças filhas de pais com alto grau de escolarização com crianças filhas de pais com baixa escolarização, focando-se na produção não-proparoxítona dos vocábulos. Ao final, uma discussão sobre a proparoxítona no processo aquisicional e sua estreita relação com fatos sociolinguísticos. Palavras-chave: Aquisição da Linguagem. Língua Materna. Prosódia. Proparoxítonas. ABSTRACT This study about the acquisition of the proparoxytones pattern in Portuguese as a first language in the light of what is discussed about proparoxytones in Brazilian Portuguese speech. The corpus consists of the production of the words ÁRVORE (TREE), FÓSFORO (MATCH), MÁQUINA (MACHINE), ÓCULOS (GLASSES), ÔNIBUS (BUS) and XÍCARA (CUP WITH HANDLE) by two to nine years old children, obtained from the PROAEP (Acquisition and Teaching of Portuguese Research Program) database, through the application of the ERT phonetic and phonological testing instrument. In theoretical review section, discussion about proparoxytones as an exceptional and rejected pattern in Portuguese is presented. Some studies on proparoxytone words in low-schooling individuals are presented. Studies on the acquisition of portuguese prosody presented. The data analysis focuses on non proparoxytone prosodic pronunciation od the tested items. Data analysis reveals a contrast between the prosodic pronouciation of the tested items as produced by the two social and literacy controlled groups: children of low- schooling and high-schooling parents. In the end, there is a discussion about proparoxytone pattern in Brazilian Portuguese acquisition and its relation to sociolinguistics facts. Keywords: Language Acquisition. First Language. Prosody. Proparoxytones. SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS………………………………………………………… 7 2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................ 11 2.1 CONCEITOS BÁSICOS: PROSÓDIA, SÍLABA, ACENTO, PROPAROXÍTONAS... 11 2.2 A EXCEPCIONALIDADE DAS PROPAROXÍTONAS................................................ 13 2.3 A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS..................................................................... 18 2.4 AS PROPAROXÍTONAS EM TRABALHOS SOCIOLINGUÍSTICOS....................... 21 2.5 A AQUISIÇÃO DA PROSÓDIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO............................ 24 3 METODOLOGIA DA COLETA DOS DADOS............................................................ 30 4 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................................... 33 4.1 ANÁLISE DOS VOCÁBULOS...................................................................................... 33 4.1.2 Tendências gerais........................................................................................................ 47 4.2 ANÁLISE DAS FAIXAS ETÁRIAS.............................................................................. 54 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 60 REFERÊNCIAS………………………………………………………………………....... 64 ANEXOS.............................................................................................................................. 67 O feto da fala é o pensamento O pronunciar é o nascimento do poeta A palavra reencarna-se poesia e fecunda FETOS (Denisson Palumbo Guedes) 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Qual o lugar das proparoxítonas no português brasileiro (doravante PB)? Diversos linguistas já se propuseram a responder essa pergunta. Muitos já se debruçaram e ainda se debruçam sobre essa questão. Parte da resposta permanece um tanto obscura, porque exige que outras questões sejam respondidas. Qual o lugar das proparoxítonas na aquisição do PB? Como crianças em fase de aquisição lidam com vocábulos proparoxítonos? Crianças em estágio inicial de fala conseguem produzir uma proparoxítona? Qual a faixa etária propícia ao surgimento desse padrão? Essas questões se integram à primeira, de forma a lhes oferecer respostas mais esclarecedoras. No entanto, essas questões parecem não ter sido focadas, ainda. É buscando me debruçar sobre elas e tentando respondê-las – parcialmente ou integralmente – que desenvolvo este trabalho. Então, o que busco, aqui, não é exatamente a resposta à primeira questão, mas respostas que lhe sejam integrantes e pertinentes. O interesse por esse tema é uma fusão de dois interesses: Fonética e Fonologia e Aquisição da Linguagem (doravante AL). São dois temas de estudo que se firmaram e me acompanharam durante toda a graduação em Letras, mas a curiosidade por eles teve sua origem em tempos mais remotos, anteriores a minha presença na universidade. O interesse pelas proparoxítonas surgiu ao observar, acompanhar e, às vezes, participar de discussões geradas pela primeira questão, sobre o lugar das proparoxítonas no PB. Esse interesse foi captado, percebido e estimulado por minha orientadora, e reforçado quando percebi que a literatura se encontra escassa sobre esse tema. Há muitas discussões sobre as proparoxítonas como uma exceção à regra no PB, ou seja, o padrão prosódico mais rejeitado pelos falantes. No bojo dessas discussões, três principais vieses são abordados. O principal deles é o viés sociolinguístico, que diz respeito à variação do formato prosódico, principalmente em relação aos diferentes grupos socioescolares. Temos, também, o viés numérico, sobre a frequência de uso, no qual contabilizamos os atuais padrões prosódicos dos vocábulos. Um outro viés é o diacrônico, no qual fazemos uma análise do surgimento dos vocábulos de um determinado padrão prosódico e, também, das mudanças prosódicas de uma língua para a outra ou de um momento histórico da língua para outro. Um viés que parece ainda não ter sido tratado nessas abordagens é o viés aquisicional, em que observamos os diversos comportamentos prosódicos de vocábulos proparoxítonos produzidos por crianças que estão desenvolvendo o PB como língua materna e o que isso significa para o lugar das proparoxítonas no PB como um todo. Com o objetivo de complementar a discussão, trazendo o elemento AL, trago para a análise um estudo desenvolvido por mim, ao longo dos últimos 2 (dois) anos, a partir, principalmente, de análise de dados disponíveis no Programa de Estudos em Aquisição e Ensino do Português como Língua Materna – PROAEP da Universidade Federal da Bahia – UFBA, em contraste com trabalhos já desenvolvidos sobre a aquisição prosódica e as proparoxítonas na fala adulta, em PB. Este foi, também, meu trabalho de iniciação científica, na condição de bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Certamente, este trabalho possui diversas limitações, que dizem respeito ao próprio corpus. São apenas 6 (seis) palavras, todas são trissílabas, todas são substantivos comuns – não havendo, portanto, no corpus, formas verbais, nomes próprios ou substantivos abstratos que sejam proparoxítonos. Não há qualquer informação sobre o ambiente de escuta das crianças e sobre a familiaridade das palavras. Não foram estudadas crianças em estágio inicial, com menos de 2 (dois) anos de idade. Também conto com a limitação da época: o corpus foi coletado há cerca de 25 anos atrás, podendo esses dados estar, atualmente, caducados. Buscando dar conta dessas limitações, houve uma tentativa de coleta de dados em duas instituições de educação infantil pré-escolar. A tentativa não obteve sucesso por alguns motivos. Houve uma longa espera por análise e aprovação do projeto em um comitê de ética e a pesquisa só poderia começar após aprovação. Uma das instituições entrou em greve no período de coleta. Uma vez na instituição, o tempo foi curto para conseguir conquistar a confiança de todas as crianças, para convencê-las a cooperar com a pesquisa, especialmente as mais novas, em estado inicial de aquisição; o tempo foi curto para coletar dados que fossem representativos das diversas faixas etárias e em duas classes socioescolares. Assim sendo, houve uma coleta de dados em uma única instituição – que só foi possível porque a própria instituição recebeu, abraçou e cooperou ao máximo com o trabalho de pesquisa –, mas que não constituiu corpus suficiente para se discorrer sobre o assunto. Ainda assim, é importante ressaltar a validade e relevância desse acontecimento para minha formação como pesquisador. Apesar das limitações, os seis vocábulos aqui estudados – a saber: ÁRVORE, FÓSFORO, MÁQUINA, ÓCULOS, ÔNIBUS, XÍCARA – constituem um corpus suficientemente passível de uma análise significativa, se contrastada com alguns trabalhos já realizados. Eles possuem uma representatividade mínima, já que pelo menos um deles não é ressilabificável e pelo menos um deles é ressilabificável, mas sem consoante postônica líquida. Esse é um assunto que abordarei ao longo do texto. O estudo bibliográfico também teve suas limitações. Aparentemente, a pesquisa sobre proparoxítonas parece não ter ainda despertado muitos interesses na universidade. Os trabalhos sociolinguísticos sobre os padrões prosódicos do português são poucos, recentes e não estiveram facilmente acessíveis. Alguns vêm sendo desenvolvidos com base em dados do Projeto ALiB – Atlas Linguístico do Brasil, mas o único trabalho pronto sobre as proparoxítonas no português popular de Salvador é uma análise de Brian Head do Atlas Prévio dos Falares Baianos. Esse trabalho seria de grande valia, mas não tive acesso a ele em momento nenhum da pesquisa e só tomei conhecimento dele tardiamente, ou seja, ele não esteve disponível para mim em momento nenhum da pesquisa. A bibliografia sobre esse tema foi escassa no começo; mesmo na web, poucos trabalhos estiveram disponíveis. Apesar dessas dificuldades, a pesquisa se tornou mais produtiva, transcorrido algum tempo após o início; nos últimos dois anos, houve um aumento considerável de disponibilidade de material bibliográfico, de forma a atender minimamente aos intentos deste trabalho. Também pelas próprias limitações da pesquisa, não abordo a aquisição das proparoxítonas sob uma perspectiva behaviorista, inatista, conexionista, construtivo- cognitivista ou sócio-interacionista. Não há qualquer informação no corpus que suscite uma dessas abordagens – ou um possível diálogo entre duas ou mais delas – e qualquer afiliação com base em pressupostos externos ao corpus seriam hipóteses não confirmadas pela pesquisa e que não responderiam as questões propulsoras que iniciam este trabalho. Logo, não há uma afiliação teórica e, sim, remissão, quando necessário, a algumas teorias, mas, principalmente, contrastes de resultados de pesquisa, dados, números. Trata-se de um trabalho descritivo e quantitativo. Assim, começo fazendo uma revisão do que já se especulou e discutiu sobre as proparoxítonas e sobre o formato prosódico inicial no PB; em seguida, parto para a análise dos dados obtidos e comparo com outros estudos já realizados. Por fim, tentarei responder, com os dados analisados, as questões propulsoras feitas logo no início. Ao final, estão anexados os dados que analiso conforme me foram disponibilizados, para que qualquer pesquisador futuro possa, se assim desejar, complementar, contestar, criticar, reanalisar e, enfim, impulsionar novas discussões com os dados que analiso. Que eles sirvam ao meu propósito aqui: acrescentar a Aquisição da Linguagem ao bojo de discussões sobre as proparoxítonas no PB. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 CONCEITOS BÁSICOS: PROSÓDIA, SÍLABA, ACENTO, PROPAROXÍTONAS Em Linguística, uma língua é tradicionalmente dividida em cinco níveis que a configuram e estruturam. Essa divisão em níveis formata as gramáticas normativas e descritivas do PB e está contemplada em manuais e dicionários de Linguística ou Língua Portuguesa (Cf. AZEREDO, 2002; BECHARA, 1988; CAMARA JR, 1970; CUNHA & CINTRA, 2001; DUBOIS et al., 1993; FARACO; MOURA, 1996; KURY, 1989; PERINI, 1996; ROCHA LIMA, 1989; SILVA, T., 2011). Os cinco níveis estruturantes são assim classificados: . Fonética e Fonologia: estudo dos sons na língua. . Morfologia: estudo das unidades mínimas com significado. . Léxico: estudo das palavras. . Sintaxe: estudo da junção de palavras e da construção das sentenças. . Semântica: estudo dos significados e sentidos. A Fonética e a Fonologia, em que se concentra este trabalho, possuem, como unidades linguísticas, os traços segmentais da língua – ou seja, os fonemas (Fonologia) e suas realizações, os fones (Fonética) – e os traços suprassegmentais, ou seja, a prosódia da língua: melodia, silabação, e acentuação dos vocábulos e/ou das sentenças. (Cf. CAGLIARI, 2002, p.122; DUBOIS et al., 1993, p.14-17; SILVA, T., 2011, p.44;45). Temos uma interessante definição do termo prosódia por Azussa Matsuoca (2010, p.5): O termo prosódia se refere ao agrupamento e relativa proeminência dos elementos que compõem o sinal de fala. Um reflexo da prosódia é o percebido ritmo da fala. A estrutura prosódica pode ser descrita formalmente como uma estrutura hierárquica, cujas unidades menores são os componentes internos da sílaba e a maior é a frase entonacional. Observando essa definição, podemos compreender a possibilidade de estudarmos a prosódia de um vocábulo independente. Nesse caso, tomamos como base 2 (duas) unidades: a sílaba e o acento. A sílaba é a unidade linguística pela qual um ou mais fonemas se realizam integradamente, formada por uma vogal e segmentos consonantais ou semivocálicos que podem anteceder ou suceder essa vogal. O acento é o elemento linguístico que torna forte a pronúncia de uma sílaba (Cf.; CÂMARA JR, 1982, p.53;63; DUBOIS et al., 1993, p.14-17; AZEREDO, 2002, p.58-59; SILVA, T., 2011, p.44). O vocábulo AUTO, por exemplo, é composto por quatro segmentos, duas sílabas, e tem a seguinte transcrição fonológica: /.awtU/; os segmentos /a/ e /w/ são, respectivamente, uma vogal e uma semivogal que se realizam integradamente, formando a primeira sílaba do vocábulo; os segmentos /t/ e /U/ são, respectivamente, uma consoante e uma vogal que se realizam integradamente, formando a segunda sílaba do vocábulo. O acento desse vocábulo localiza-se na primeira sílaba. Em vocábulos com mais de uma sílaba – dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos –, o acento sempre está presente em uma das sílabas, demarcando-a como a de mais forte pronúncia em todo o vocábulo. A partir da localização do acento, o vocábulo em língua portuguesa pode ser uma1 (Cf. DUBOIS et al., 1993, p.14-17; AZEREDO, 2002, p.59; SILVA, T., 2011, p.44-45; LEE, 2007, p.122-123; BISOL, 2005, p.142-147): 1 Os grifos em cada exemplo representam a sílaba mais forte do vocábulo. . oxítona, quando o acento recair sobre a última sílaba. São exemplos de oxítonas formas lexicais como ANOTAÇÃO, ENTENDER, ILHÉUS, JUIZ, NINGUÉM, TAMBÉM, TALVEZ, . paroxítona, quando o acento recair sobre a penúltima sílaba. São exemplos de paroxítonas formas como AMAVA, CELULITE, JUÍZA, LOGO, PORTANTO, RONALDO, SABE. . proparoxítona, quando recair sobre a antepenúltima sílaba. São exemplos de proparoxítonas ABÓBORA, ÁRVORE, ESTÁVAMOS, MÔNICA, PRÁTICA, SIMPÁTICO, TÍMPANO. . preproparoxítona, quando recair sobre a pré-antepenúltima sílaba. Preproparoxítonas são formadas por ampliação de uma proparoxítona, É o caso de HELICÓPTERO, TÉCNICO e DÉFICIT, vocábulos cuja pronúncia pode ser HE.LI.CÓ.P[i].TE.RO, TÉ.[ki].NI.CO e DÉ.FI.CI.T[i] (uso os pontos para uma separação didática das sílabas). Todo vocábulo é convencionalmente classificado em um dos três primeiros padrões prosódicos acima definidos, com base em um padrão eleito para a realização de cada vocábulo. As preproparoxítonas são a única exceção, por não serem reconhecidamente um padrão prosódico na língua portuguesa – exceto em Leite (2007), em que elas são consideradas como um padrão tal qual as outras –, embora sejam um formato prosódico recorrente no uso da língua pelos seus falantes. Há inúmeras formas de realização de um vocábulo como ÁRVORE ou como ABÓBORA, por exemplo. Mas o padrão prosódico-lexical de ÁRVORE é trissílabo proparoxítono e o de ABÓBORA é tetrassílabo proparoxítono. Toda e qualquer outra forma que mude a respectiva classificação de um desses vocábulos é considerada uma realização não padrão. 2.2 A EXCEPCIONALIDADE DAS PROPAROXÍTONAS A maioria dos estudos que abordam ou tratam as proparoxítonas – de maneira aprofundada ou de maneira curta e avulsa, como parte de um estudo geral sobre os padrões prosódicos do português – têm se centrado na Fonologia Métrica e na Teoria da Otimalidade. Há, também, alguns de cunho histórico e estrutural. Mais recentemente, alguns têm se desenvolvido no campo da Sociolinguística. Quase todas essas abordagens dão às proparoxítonas um caráter de excepcionalidade no português e, em especial, no PB; ou seja, a proparoxítona é frequentemente rejeitada pelos falantes em favor de um formato paroxítono, como veremos a seguir. Araújo et al. (2007) fazem uma revisão teórica na qual destacam os principais argumentos utilizados para defender essa excepcionalidade. Eles listam uma série de autores – Mattoso Camara Jr, Seung-Hwa Lee, Yvonne Leite, Leda Bisol, Filomena Sândalo – que abordam as proparoxítonas, sendo que a maioria dá a elas um lugar de excepcionalidade: A literatura que trata do acento lexical no PB [...] afirma, em geral, que o acento na penúltima sílaba é o padrão, enquanto acentos na última (oxítona) e na antepenúltima (proparoxítona) sílaba são desvios. [...] Dessa forma, pode-se concluir que a literatura, de forma geral, “resolve” a questão das palavras proparoxítonas considerando-as exceções à regra de acento (Araújo et al., 2007, p.38-41). No entanto, eles listam e analisam tais argumentos não para consolidar a visão de excepcionalidade das proparoxítonas, mas para contestá-la. Para eles, o padrão proparoxítono é um traço marcante e comum ao sistema acentual do português. A literatura em geral apresenta diversos argumentos que, nas palavras de Araújo et al., desqualificam as proparoxítonas. Um dos argumentos utilizados e analisados por Araújo et al. é o de que diminutivos de proparoxítonas são formados por redução da palavra seguida do acréscimo do morfema –INH–O/A, como ocorre em ÓCULOS e XÍCARA, cujos diminutivos são, respectivamente, OCLINHOS e XICRINHA. Araújo et al. contra- argumentam que alguns vocábulos proparoxítonos não formam diminutivos por redução: FÓSFORO, PÊSSEGO, MÚSICA não possuem as formas diminutivas FOSFRINHO, PESGUINHO, MUSGUINHA. Um outro argumento recorre à Sociolinguística: o de que falantes com baixa ou nenhuma escolaridade tendem a mudar o formato prosódico de proparoxítonas, tornando-as paroxítonas; assim, as proparoxítonas ainda existem no português porque fazem parte da norma padrão. Camara Jr. parece ser o pioneiro desse argumento, visto que, em 1970, ele afirma que “[...] a língua padrão do Brasil se diferencia da língua popular pela manutenção dos proparoxítonos, que esta tende a reduzir a paroxítonos pela supressão de um segmento postônico [...]” (CAMARA JR, 1970, p.65). Sândalo (apud Araújo et al., 2007) também corrobora tal ideia, afirmando que as proparoxítonas só se mantêm no português por pressão da gramática normativa. Hildo Couto (2006, p.86) acrescenta que há realizações reduzidas de proparoxítonas em algumas variedades rurais que reforçam a excepcionalidade – repugnância, em suas palavras –, como TÉ[n]CO e TE[nk] (TÉCNICO), HELICÓP[Ø] (HELICÓPTERO) e ANÁ[ps] (ANÁPOLIS). Ele explica: De modo aparentemente surpreendente, essas formas apresentam padrões silábicos mais complexos do que a forma não alterada, uma vez que contêm na coda consoantes oclusivas, e até grupos consonantais. Ao que tudo indica, a língua popular assumiu esse ônus a fim de evitar proparoxítonas. De todos os argumentos, esse parece ser o que mais Araújo et al. apresentam contra-argumentos, a saber: a) a redução só é possível em estruturas silábicas que permitem uma ressilabificação dos vocábulos, por processos de síncope, metaplasmo, assimilação ou mudança funcional de um fonema; assim, a redução não é possível em vocábulos como MÉDICO, BÊBADO, RÁPIDO, PÊNALTI ou ÉPOCA. b) em alguns exemplos do caso acima, há uma tentativa de ressilabificação que reconstitui o formato proparoxítono, como LÂMP[i]DA e BÊB[i]DO. c) há vocábulos perfeitamente ressilabificáveis que não possuem uma variante reduzida, como CATÓLICO e EVANGÉLICO – não existem as variantes CATO[w]CO e EVANGE[w]CO. d) vocábulos paroxítonos também têm seu formato modificado, formando, inclusive, proparoxítonas, em processos de epêntese, como é o caso de RIT[i]MO, ABRUP[i]TO, PA[ki]TO. Aqui, Araújo et al. fazem a ressalva de que na formação de siglas, as proparoxítonas são, de fato, minoritárias, visto que siglas proparoxítonas só ocorrem por processos de epêntese, como em ÓVNI, VARIG e ETCO. Araújo et al. (2007, p.48)) não deixam de argumentar contra as palavras de Sândalo, sobre a influência da gramática normativa na manutenção das proparoxítonas. Para os autores: De fato, a gramática normativa, como qualquer outro instrumento lingüístico, exerce pressão sobre a língua. No entanto, pessoas com baixa escolarização ou mesmo sem escolarização alguma também produzem palavras proparoxítonas. Além disso, o letramento, a universalização e a democratização do acesso à escola tenderiam, portanto, a aumentar a influência da gramática normativa e, por conseguinte, aumentar a ocorrência de proparoxítonas em muitas variantes. Possivelmente, os dois fatos (influência da gramática normativa e produção de proparoxítonas) não sustentam uma relação de causa e conseqüência. Para além do que afirmam Araújo et al., o trato com a postônica não final, nas formas populares, nem sempre incorre em redução de vocábulo ou alguma forma de paroxitonização. Darinka Ribeiro (2007), por exemplo, faz um estudo sobre o alteamento – alçamento, em suas palavras – das vogais postônicas não finais como uma marca da norma popular de Belo Horizonte. Segundo esse estudo, é comum, nas normas populares da capital mineira, realizações como CÓRR[i]GO, BRÓC[u]LIS , FÔL[i]GO, entre outras. Uma outra ressalva que merece ser feita é a de que o termo CATÓLICO, exemplificado pelos autores, não é ressilabificado pela semivocalização de /l/, de fato, mas pela elisão desse segmento e pela semivocalização do seguinte, [i], formando a realização CATÓ[y]CO, conforme nos apresentam os dados de Silva, A. (2006, p.94) Um outro e constante argumento para a excepcionalidade das proparoxítonas é sobre o lugar delas na constituição histórica do português. Segundo esse argumento, todas as proparoxítonas que passaram do latim para o português transformaram-se em paroxítonas, bem como os vocábulos de padrão proparoxítono entraram no português tardiamente, já após sua constituição histórica. Castro (2008, p.114), por exemplo, afirma que “[...] o processo de redução de proparoxítonas verificados na história do português [...] continua, todavia, ativo na nossa linguagem popular, agindo sobre as proparoxítonas que entraram tardiamente em nosso léxico.” Silva Filho (2010, p.81) afirma: “Fenômeno lingüístico comum, desde a época latina, a síncope na sílaba postônica não-final de proparoxítonas estende-se até hoje.” Leda Bisol (2005) também explica a excepcionalidade – numérica, em suas observações – das proparoxítonas com fatos históricos, a partir do empréstimo linguístico. Em suas palavras: O grupo das proparoxítonas é o menor em português. Este grupo é constituído principalmente por empréstimos do latim e do grego, os quais entraram na língua a partir da Renascença, com o ressurgimento do interesse, por parte dos escritores, artistas e estudiosos em geral pelo período clássico. (BISOL, 2005, p.143) Aqui, Araújo et al. (2007) afirmam que não há evidências reais de que as proparoxítonas tenham surgido depois das paroxítonas e oxítonas, porque os dados de surgimento de novos vocábulos nos séculos XII, XVI e XIX não mostram nem um momento de surgimento maciço, nem uma data média de surgimento posterior. Eles não contra-argumentam em relação às proparoxítonas do latim que se tornaram paroxítonas no português. Um último argumento analisado por Araújo et al. é o de que os vocábulos de padrão proparoxítono são pouco utilizados. Este é o que denominam frequência de uso. Sobre esse tema, fizeram uma pesquisa no Google utilizando igualitariamente um número de palavras oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas e monossilábicas, na qual o número de proparoxítonas é, de fato, inferior. Eles explicam isso com o fato de que a maior parte das palavras possui extensão que propiciam o acento proparoxítono (quanto maior a palavra, mais fácil ela ser uma proparoxítona) e que quanto mais antiga a constituição histórica da palavra, maior a sua frequência de uso. Nesse último ponto, há omissão de algumas informações: quais foram os vocábulos estudados? Na busca realizada no Google, foram consideradas as variações fonológicas e ortográficas – presença ou não do acento gráfico, transcrição literal de uma variante sociolinguística existente? Todos os monossílabos buscados no Google são átonos e gramaticais como a preposição DE ou não houve distinção entre estes e os monossílabos tônicos e lexicais como FLOR, DOR, MAU, EU, MAIS etc? Embora considerar ou não tais elementos traga números diferentes às estatísticas, não invalidam as conclusões. Araújo et al. ainda citam a extrametricalidade – ou extrametricidade. Esse termo foi cunhado pela Fonologia Métrica, segundo a qual os vocábulos possuem um pé linguístico, composto por uma sílaba forte e uma sílaba fraca. No caso das proparoxítonas, a postônica final é considerada uma sílaba extramétrica, ou seja, inválida para a análise de um pé binário. (Cf. BISOL, 2005, p.154-156; CAGLIARI, 2002, p.118-123; SILVA, T., 2011, p.106). A esse respeito, Araújo et al. (2007, p.39) apenas dizem que “A extrametricalidade tem a função de tornar elementos (em geral, sílabas ou codas) invisíveis à aplicação da regra”. Araújo et al. (2007, p.59) concluem que a desqualificação das proparoxítonas para o sistema acentual do português é um equívoco teórico e que, portanto, “as análises deveriam considerá-las como parte do sistema”. Voltarei a discutir esse assunto futuramente, após análise de dados aquisicionais e buscando uma resposta para a excepcionalidade das proparoxítonas também durante a Aquisição do PB como língua materna. Por hora, passo aos estudos sobre a redução de proparoxítonas já realizados pelo território brasileiro. Os mesmos que são tão tomados como argumento pela excepcionalidade, mas que, independentemente de qualquer discussão teórica, serão aqui importantes como demarcação de uma fala adulta não padrão. 2.3 A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS A ideia de que a língua portuguesa prefere, em geral, o padrão prosódico paroxítono e rejeita o proparoxítono têm sido defendida pela mudança do formato prosódico dos vocábulos com cada padrão. Ou seja, palavras proparoxítonas tendem a se tornar paroxítonas, por meio de diversos fatores. Um deles é a migração do acento da antepenúltima sílaba para a penúltima, fato linguístico conhecido como hiperbibasmo. O hiperbibasmo é comum em vocábulos como MONÓLITO, FENÓTIPO e ÍNTERIM, comumente enunciados como MONOLITO, FENOTIPO e INTERIM (Cf. CAVALIERE, 2005, p.59; COUTO, 2006, p.82). É um fenômeno que interessa pouco a este trabalho, tanto por ser não tão recorrente e, na literatura revisada, não é mencionado, como porque ocorre muito pouco nos dados do PROAEP e nos dados sociolinguísticos de que tratarei adiante. A mudança do formato prosódico que interessa, aqui, é por meio de redução do vocábulo. A redução é o que de mais comum ocorre, e, também, o mais recorrentemente utilizado como argumento em prol da excepcionalidade do padrão proparoxítono. Antes de seguir na revisão da literatura, detenho-me brevemente a tratar da redução, por uma questão didática: ela será agora explicada porque será, mais adiante, constantemente retomada. A redução das proparoxítonas ocorre por meio dos processos fonológicos. A noção de processos fonológicos teve sua origem na Fonologia Natural e dizia respeito à aquisição da língua materna. Ela foi utilizada, pela primeira vez, por David Stampe (Cf. PEPE, 1993), numa perspectiva inatista, para estudar a aquisição fonológica das crianças; segundo a Fonologia Natural, as crianças valem-se dos processos fonológicos para firmar o que seriam os parâmetros2 de sua língua materna. Mais tarde, David Ingram e Pamela Grunwell (Cf. PEPE, 1993) valeram-se dos mesmos termos para 2 Esse termo foi cunhado pela Teoria dos Princípios e Parâmetros, de Noam Chomsky. Segundo essa teoria, existem componentes linguísticos que são comuns a todas as línguas, os princípios, e os componentes que são característicos de uma língua, os parâmetros. (cf. SCARPA, 2004) estudar também a aquisição da língua materna, mas numa perspectiva que não era mais necessariamente inatista. Já Ricardo Cavaliere (2005) e Luiz Carlos Cagliari (2002), trazem-nos uma noção de processos fonológicos que não se abrigam nos estudos em AL. Cavaliere faz menção a esse termo como útil tanto para um estudo diacrônico, bem como sincrônico, e ressalta a relevância do conceito de processos fonológicos para estudos sociolinguísticos e geolinguísticos. Cagliari menciona apenas os processos como alterações sonoras. Embora este seja um trabalho sobre AL, é dos processos fonológicos de Cavaliere e Cagliari que me valho aqui, não só porque eles englobam fatos sociolinguísticos – o que será importante na análise de dados – como, também, porque dão melhor conta da redução das proparoxítonas. Abro, no entanto, uma exceção para os termos elisão (total ou parcial) e coalescência intersilábica, termos dos estudos em AL para processos em sílabas, visto que as nomenclaturas de Cavaliere e Cagliari contemplam processos em segmentos. Os fenômenos de redução de proparoxítonas são, na verdade, conjuntos de processos fonológicos que ocorrem concomitantemente. Doze desses fenômenos são, aqui, didaticamente enumerados: . Fenômeno 1 – F1: supressão da vogal postônica não final, com a formação de um encontro consonantal. É o caso da variante ABOBRA (ABÓBORA) (Cf. Araújo et al., 2007, p.41) . Fenômeno 2 – F2: supressão da vogal postônica não final e da consoante inicial da última sílaba, sem formação, portanto, de um encontro consonantal. É o caso da variante EXERÇO (EXÉRCITO) (Cf. CAMARA JR, 1970, p.65). . Fenômeno 3 – F3: semivocalização da vogal final e supressão da consoante inicial da última sílaba, como em ÚTIU (ÚTERO) (Cf. CASTRO, 2008, p.6) . Fenômeno 4 - F4: supressão da consoante inicial seguida de semivocalização da vogal na sílaba postônica não final, formando um ditongo decrescente: A) com assimilação regressiva de traços, como em ÕIBU (ÔNIBUS) (Cf. SILVA FILHO, 2010, p.68); B) sem assimilações, como em CATÓICO (CATÓLICO). (Cf. SILVA, A., 2006, p.94) . Fenômeno 5 – F5: migração de uma consoante inicial postônica para a sílaba tônica, decorrente da queda da vogal da sílaba tônica. É o caso da variante ESPRITO (ESPÍRITO) (Cf. ARAGÃO, 2000, p.11) . Fenômeno 6 – F6: elisão total da sílaba postônica não final e coalescência entre a primeira e a última sílaba. É o caso de GRANA (GLÂNDULA) (Cf. CASTRO, 2008, p.6). . Fenômeno 7 – F7: elisão da sílaba postônica não final como em NURO (NÚMERO) (Cf. Araújo et al., 2007, p.45); . Fenômeno 8 – F8: supressão da vogal postônica não final, com a formação de um travamento silábico. É o caso da variante CORGO (CÓRREGO). (Cf. Araújo et al., 2007, p.41) . Fenômeno 9 – F9: supressão da vogal final, com formação de um travamento silábico, como é o caso de APÓLIS (APÓLICE). (Cf. SILVA FILHO, 2010, p.34); . Fenômeno 10 – 10: elisão total da sílaba final, como na variante ÚTE (ÚTERO) (Cf. CASTRO, 2008, p.6) . Fenômeno 11 – F11: elisão parcial da sílaba medial, com manutenção de sua consoante inicial, elisão total da sílaba final, seguida de formação de /i/ epentético. É o caso de CÓQUI (CÓCORAS) (Cf. LIMA, 2008, p.149) . Fenômeno 12 – F12: elisão das duas sílabas postônicas, como em TERMÕ (TERMÔMETRO) (Cf. SILVA FILHO, p.106). De F1 a F6, ocorre coalescência intersilábica: formação de uma sílaba com a fusão de duas, que se dá por alguma ou algumas supressões. A coalescência é uma forma de ressilabificação do vocábulo, conforme Araújo et al. (2007). Em F1, F2 e F3, a coalescência se dá entre as postônicas. Em F4 e F5, a coalescência é entre a tônica e a postônica não final. Em F6, com a elisão total da postônica não final, a coalescência se dá entre a primeira e a última sílaba. Em F7, F8 e F9, não há coalescência intersilábica, mas ocorre ressilabificação do vocábulo por assimilação ou mudança funcional de segmentos. Em F11 e F12, não há ressilabificação, mas mera elisão de sílaba. Esses são os fenômenos mais gerais de redução, que são comuns a fatos históricos, sociolinguísticos e aquisicionais. A aquisição possui alguns fenômenos que lhe são peculiares e que serão melhores discriminados na análise dos dados. Embora Araújo et al. (2007) afirmem que a redução não é aleatória; ou seja, ela ocorre em vocábulos passíveis de ressilabificação, a ocorrência de F11 e F12 mostram que é possível redução de proparoxítonas sem ressilabificação. Ela se mostra, no entanto, pelos trabalhos já realizados, pouco produtiva. Os trabalhos em Sociolinguística (Cf. SILVA, A., 2006; LIMA, 2008; SILVA FILHO, 2010) falam em contexto fonológico antecedente – ou precedente, ou anterior: trata-se do traço da consoante inicial da postônica não-final – e contexto fonológico seguinte – traço da consoante inicial da postônica final. Esses termos são utilizados especialmente para tratar dos casos de coalescência. Esses autores detectaram que a redução é mais produtiva quando o contexto antecedente é uma oclusiva ou uma fricativa labiodental e quando o contexto seguinte é uma líquida. Esses resultados demonstram o contexto geral ideal para a coalescência intersilábica – embora nenhum desses trabalhos analisem os contextos antecedente e o seguinte como uma confluência, mas cada um deles isoladamente –, que é a possibilidade de se formar um encontro consonantal. Passemos, agora, aos resultados desses trabalhos. 2.4 AS PROPAROXÍTONAS EM TRABALHOS SOCIOLINGUÍSTICOS Como afirmei anteriormente, estudos sociolinguísticos sobre as proparoxítonas vêm sendo feitos mais recentemente. Dentre eles, destaco, aqui, o de Vandersí Sant’Ana Castro (2008), o de Maria do Socorro Silva de Aragão (2008), o de Giselly de Oliveira Lima (2008), o de André Pedro da Silva (2006) e o de Eraldo Batista da Silva Filho (2010). Todos esses trabalhos disponibilizam informações sobre a redução das proparoxítonas na fala adulta, relaciona-a com o grau de escolarização e apontam fenômenos de redução encontrados nos dados. Todos consideram 3 (três) fatores sociais ou extralinguísticos em sua análise: escolaridade, idade e gênero dos falantes. Castro (2008) faz uma análise de proparoxítonas com base no Atlas Linguístico do Paraná. Ela parte do princípio da excepcionalidade das proparoxítonas, a partir do percurso histórico desse padrão prosódico na língua portuguesa e analisa 8 (oito) cartas3 do referido atlas, com dados de 65 (sessenta e cinco) localidades. Com base nos dados fornecidos pelo atlas, Castro contrastou a frequência de realizações paroxítonas e realizações proparoxítonas de oito vocábulos: ÁRVORE, ÚTERO, EUCALIPTO, ECLIPSE, AMÍGDALAS, RELÂMPAGO, GLÂNDULA e ESTÔMAGO. 3 A carta é um mapa dentro de um atlas linguístico em que consta, para cada vocábulo, as suas respectivas variantes ao longo do espaço geográfico em estudo. Nenhum dos falantes do Atlas Linguístico do Paraná estudados por Castro cursou além do Ensino Fundamental: a divisão é em analfabetos, Mobral, primário incompleto e primário completo. Não há qualquer menção a falantes com nível médio ou com nível superior de escolarização. Sobre a realização das proparoxítonas, Castro detecta que “a redução de proparoxítonas a paroxítonas tem presença notória e importante nos dados” (CASTRO, 2008, p.115) e que “a redução de proparoxítonas é atestada em grande extensão do Paraná” (CASTRO, 2008, p.116). Aragão (2008) fez um estudo com base em dados coletados no projeto “Dialetos Sociais Cearenses”, da Universidade Federal do Ceará. Ela parte do pressuposto de que a redução de proparoxítonas - “passagem de proparoxítonas a paroxítonas” (ARAGÃO, 2008, p.5) – é um fenômeno diastrático, condicionado linguisticamente por aspectos morfofonêmicos. Aragão (2008) estudou o comportamento das proparoxítonas em variantes não-padrão, valendo-se de 11 (onze) bairros de Fortaleza, levando em consideração os fatores gênero, faixa etária, escolaridade e classe econômica. Dos fatores apresentados, o que mais destaca uma considerável frequência na produção de proparoxítonas como paroxítonas é o fator escolarização. Aragão conclui que “os dois mais importantes fatores que determinam a variação das proparoxítonas como paroxítonas, no falar não-padrão de Fortaleza, sejam em ordem de prioridade, os fatores linguísticos, fonético-fonológicos e, logo a seguir, o grau de escolaridade dos informantes” (p.15). Veremos mais adiante o fator linguístico. A respeito do fator social, a redução de proparoxítonas, em Fortaleza, não se mostrou uma tendência de homens ou mulheres, de uma determinada faixa etária ou de determinados bairros; é uma tendência de pessoas com baixa escolarização, que diminui à medida em que os falantes vão se escolarizando. Silva, A. (2006) detém-se à elisão das postônicas não finais, baseia-se na teoria laboviana, da Sociolinguística, e toma como corpus inquéritos realizados na comunidade linguística de Sapé, na Paraíba. Com seus resultados, ele conclui: O fator anos de escolarização foi a variável social mais significativa, uma vez que a hipótese corrente é de que informantes mais escolarizados usam mais as formas padrão, de prestígio, e os não ou menos escolarizados utilizam mais as formas não-padrão, estigmatizadas. [...] Ao analisarmos esse fator, percebemos que, à medida que esses informantes vão elevando seu grau de instrução, vão utilizando menos a variedade não-padrão, preferindo, assim, o uso da considerada padrão. (SILVA, A., 2006, p.82) Silva, A. cruza, nos dados, a escolarização dos informantes com os fatores idade e gênero. Nesse cruzamento, os informantes que não completaram um nível escolar posterior ao fundamental ocuparam os primeiros lugares em número de realização não- padrão, estando sempre em uma porcentagem maior do que qualquer outro com nível médio ou nível superior, ainda que se leve em conta o sexo e a idade do informante. (Cf SILVA, A., p.99-104). Lima (2008), em sua pesquisa de mestrado pela Universidade Federal de Uberlândia, estudou as proparoxítonas nos municípios goianos de Rio Verde e Santa Helena de Goiás. O trabalho de Lima chegou à seguinte conclusão: Em suma, os resultados obtidos em nossa análise confirmam nossa hipótese de que os fatores extralinguísticos estão associados ao apagamento da vogal postônica. Assim, entendemos que o fator grau de escolaridade não só contribui como se destaca entre os outros fatores, evidenciando, portanto, que o grau de escolaridade exerce um papel importante na preservação da norma padrão. (LIMA, 2008, p.99) Silva Filho (2010) desenvolve um trabalho semelhante e toma Silva, A. (2006) como um dos referenciais teóricos. Silva Filho estuda a comunidade linguística de Jaboatão, em Pernambuco. Mas ele chega a conclusões peculiares em relação à escolaridade: Os resultados aqui obtidos mostram que o maior índice de ocorrência da síncope na postônica não-final de proparoxítonas ocorreu entre aqueles que possuíam um nível maior de escolaridade, hipótese defendida pelas literaturas que abordam esse fenômeno. Porém, como 05 dos 12 informantes estudaram até a 4ª série (5º ano do Ensino Fundamental), não se pôde comprovar que um nível maior de escolarização foi fator predominante para que houvesse a ocorrência da síncope (SILVA FILHO, 2010, p.81). Carvalho (2010), em sua pesquisa durante a Iniciação Científica, na graduação, estudou as proparoxítonas na comunidade linguística de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Carvalho chegou a resultados semelhantes aos de Silva Filho: com a variável escolaridade, nossas hipóteses iniciais não se confirmaram, tendo em vista que o uso da síncope se manifesta na fala dos moradores de Dourados, sendo eles alfabetizados ou não, isto é, o uso da síncope independe do ensino formal (CARVALHO, 2010, p.38). No entanto, vale salientar que a pesquisa desenvolvida por Carvalho considerou apenas indivíduos que estudaram até o primeiro grau completo, não havendo qualquer informação sobre indivíduos com nível médio nem com nível superior de escolaridade. Todos os estudos que citei acima tiveram o mesmo achado: a redução das proparoxítonas é um fato característico de indivíduos com baixa escolarização. Alguns desses trabalhos consideram apenas indivíduos que obtiveram como escolarização máxima o ensino fundamental. Outros estudam também falantes com nível médio e superior. O que importa para este trabalho é detectar, através desses estudos, se a redução das proparoxítonas pode ser considerada um fator que marca a fala de indivíduos não escolarizados – ou seja, aqueles que não concluíram nível posterior ao Ensino Fundamental: a classe C, como veremos adiante, no Capítulo 3. Retomarei esses trabalhos mais adiante, quando comparar os dados do ERT por mim analisados com os dados que esses trabalhos apresentam. 2.5 A AQUISIÇÃO DA PROSÓDIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO A aquisição da língua materna é um tema que vem sendo objeto de estudos na Linguística desde o século XIX. Desde então, muito se teoriza e discute sobre a natureza da aquisição – se é inata ou empírica, social ou biológica – e se busca metodologias adequadas – definição de instrumentos de coleta, escolha por um estudo longitudinal ou transversal4 – e, também, tenta-se estabelecer uma ontogênese dos processos de aquisição – estágios de aquisição da linguagem. Atualmente, a disciplina com maior carga de responsabilidade sobre aquisição é a Psicolinguística (Cf. SCARPA, 2004). 4 Chama-se longitudinal o estudo que se faz sobre a linguagem de uma criança à medida em que ela vai crescendo e adquirindo novas formas linguísticas. Chama-se transversal o estudo comparativo da linguagem em diversas crianças de faixas etárias diferentes (Cf. SCARPA, 2004) 5 Iambo e Troqueu são termos cunhados originalmente pelos estudos literários, para definirem os tipos métricos dos versos, em poemas. Em AL, numa perspectiva da Fonologia Métrica, nomeiam os formatos prosódicos a partir dos pés linguísticos, sendo iambo o pé oxítono e troqueu o pé paroxítono. (Cf. SILVA, T., 2011, p.135;214; BISOL, 2005, p.140) No bojo desses estudos, os que se detêm à aquisição fonética e fonológica conseguiram achados, já se podendo traçar, hoje, questões sobre processos na aquisição de traços segmentais – realização e articulação fonética de consoantes e vogais, aquisição da estrutura fonológica da língua materna (Cf. TEIXEIRA, 1986; 1988; 1990; 1991; 1996) – e desvios fonológicos (Cf. STOEL-GAMMON, 1990). O estudo da aquisição prosódica não teve a mesma sorte: muito ainda se discute sobre marcação do acento, padrões silábicos e acentuais. Ferreira-Gonçalves (2010, p.1) cita uma série de pesquisadoras que já se dedicaram a esse tema nas últimas três décadas: Ana Ruth Miranda, Carmen Hernadorena, Carolina Mezzomo, Gilsenira Rangel, Letícia Ribas, Raquel Santos, entre outras. Na literatura atual, o que se tem discutido a respeito da aquisição da prosódia do PB é a existência de um formato prosódico inicial que seja padrão ou preferencial – default, nas palavras dos autores. A discussão geral é se esse formato preferencial seria iâmbico ou trocaico5. A esse respeito, Baia (2008b) chama atenção para o fato de que, na literatura geral sobre o formato prosódico inicial nas línguas germânicas e, também, sobre o formato prosódico preferencial na fala adulta do PB, há uma tendência detectada para o padrão paroxítono – pé troqueu, na Fonologia Métrica e nas palavras da autora. Ela afirma que esse fator pode nos levar ao engano de que a paroxítona é o padrão prosódico preferencial também na aquisição do PB. Engano porque, segundo afirma, as pesquisas não apontam essa tendência e Ademais, curiosamente, o PB além de apresentar resultados que não vão bem ao encontro dos estudos realizados em outras línguas, apresenta uma discrepância interna nos estudos que adotam diferentes metodologias: enquanto o experimental afirma uma tendência prosódica, o observacional defende outra. (BAIA, 2008b, p.8) Destaco, aqui, os trabalhos de Carola Rapp (1994), Raquel Santana Santos (2007), Maria de Fátima Baia (2008a, 2008b) e Giovanna Ferreira-Gonçalves (2010). Com exceção deste último, as proparoxítonas parecem passar à margem dos estudos, carecendo de uma análise de como se dá sua aquisição. Todos lhe atribuem um lugar de excepcionalidade. Com exceção de Rapp, que se pauta na Fonologia Natural, todos os trabalhos afiliam-se à Fonologia Métrica para explicar a aquisição do acento. Rapp (1994) desenvolveu, em sua pesquisa de mestrado, um estudo sobre a elisão das sílabas fracas durante a aquisição. Ela estudou a fala de 8 (oito) crianças da cidade de Salvador, com idades de 1;6 (um ano e seis meses) a 2;0 (dois anos) – faixa etária anterior à encontrada nos dados que analisarei aqui –, filhos de pai e/ou mãe universitários. As amostras das crianças foram eliciadas através da mesma metodologia utilizada na aplicação ERT, que veremos no Capítulo 3. Seu trabalho se fundamentou, principalmente, na Fonologia Natural, com a noção de processos fonológicos. O trabalho de Rapp faz uma listagem das extensões silábicas dos vocábulos – monossílabos, dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos – e das classificações acentuais – oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas. De um total de 49 (quarenta e nove) vocábulos em estudo, ela detectou a manutenção de 54,7% de realizações dissílabas e a mesma porcentagem de realizações paroxítonas, entre vocábulos com todos os padrões prosódicos, constatando: Em síntese, o padrão prosódico-lexical preferencial, na faixa etária investigada, é o dissilábico paroxítono, impulsionando, desta forma, nesta direção, as simplificações de ordem prosódico-lexical encontradas nos enunciados infantis investigados, ainda que para isto seja necessária a complexificação da estrutura silábica [...] (RAPP, 1994, p.162) Em relação às proparoxítonas, Rapp conclui o seguinte: O padrão paroxítono alvo [...] foi o padrão que permitiu a ocorrência do maior número de enunciados dentro do padrão prosódico-lexical alvo e o padrão proparoxítono alvo, o menor. (RAPP, 1994, p.160, grifo meu) Curiosamente, o padrão proparoxítono alvo, em relação ao oxítono alvo, provocou menos enunciados com ET [Elisão Total], principalmente, quando se observam os enunciados do GL [Grupo Lexical] dos trissílabos, mas suscitou um elevado número de enunciados com EP, surgindo, assim, o fenômeno característico desse padrão prosódico, a coalescência intersilábica, podendo ele também ocorrer em enunciados referentes aos outros dois padrões prosódicos, porém, em menor escala. (RAPP, 1994, p.161) Os dados do trabalho de Rapp (1994) demonstram que a proparoxítona é um formato prosódico inicial tendencialmente rejeitado, independentemente de o vocábulo ser passível de ressilabificação ou não, visto que ela trabalha com vocábulos de diversos contextos fonológicos e, em todos, a tendência à mudança do padrão proparoxítono é generalizada. Ainda assim, o número de vocábulos ressilabificáveis que se reduzem a uma paroxítona é, em geral, maior do que as demais. Do total de proparoxítonos que Rapp (1994) expõe, apenas 19,48%6 são produções proparoxítonas. Isso talvez se explicasse pelo fato de que, como a própria autora constata, a extensão inicial preferencial veio a ser o dissílabo; porém, os vocábulos HIPOPÓTAMO e VELOCÍPEDE, estudados pela autora, não obtiveram uma alta taxa de produções dissílabas. Logo, o que os dados de Rapp nos mostram é que o acento proparoxítono é rejeitado pela faixa etária por ela estudada – crianças de 1;6 (um ano e seis meses) a 2;0 (dois anos). 6 Análise minha, visto que a autora, como tem como objeto de estudo a elisão das sílabas fracas, não faz uma análise geral de todas as proparoxítonas. Três estudos sobre o formato prosódico inicial, posteriores ao de Rapp, foram desenvolvidos por Baia (2008a; 2008b), nas creches Maria de Nazaré (SP) e Alcides Cunha (Ferraz de Vasconcelos) e na residência de duas crianças. Baia afirma que a tendência ao dissílabo paroxítono demonstrada no estudo de Rapp se deve ao fato de que não haviam sido considerados por Rapp verbos e vocábulos do léxico particular, e, também, por não haver um equilíbrio entre os vocábulos de formatos prosódicos diferentes, ou seja, o número de dissílabos paroxítonos foi maior porque havia um número maior de vocábulos com esse padrão. Baia investigou sobre 3 (três) hipóteses em relação à tendência para o dissílabo paroxítono: exclusão do léxico particular, exclusão de verbos e método transversal de estudo. Em 2008a, considerando exclusivamente o estudo desenvolvido na Creche Maria de Nazaré, Baia conclui que “os resultados não apontam uma tendência ou existência de um modelo prosódico default” (BAIA, 2008a, p.34). Em 2008b, considerando os outros dois estudos realizados, ela conclui que “os iambos diminuem se o léxico particular e os verbos forem excluídos dos dados” e que há uma tendência geral para um formato iâmbico inicial, que não é forte (Cf. BAIA, 2008b, p.24). Santos (2007) chega a conclusões parecidas com as de Baia. Ela estuda dados apresentados por Lemos (1995 apud SANTOS, 2007) em seu Projeto de Aquisição da Linguagem. Os dados são de um sujeito – denominado R. –, cuja fala foi entre as idades de 1;3 (um ano e três meses) a 3;4 (três anos e quatro meses). Santos busca identificar a existência ou não de um padrão universal para a aquisição do acento, comparando os dados de R. com os de um outro sujeito em processo de aquisição de língua holandesa. Os resultados foram que, em holandês, detectou-se uma tendência às paroxítonas, mas, em PB, os trabalhos apontam na direção das oxítonas. Assim, Santos (2007, p.57) conclui que “os dados apresentam que uma teoria que assuma o pé iâmbico dá mais conta dos dados de aquisição.” e que a proposta de universalidade de um arcabouço trocaico também não se sustenta. Embora sirva para explicar os dados de língua germânicas, é desconfirmada quando se olha para os dados do português brasileiro. Propomos, alternativamente, que não haja uma marcação inicial (trocaica ou iâmbica). Esta marcação é feita bem inicialmente pelas crianças, quando exposta à língua que estão adquirindo. Importante destacar que os trabalhos de Baia e de Santos só pressupõem os formatos iâmbico ou trocaico como o padrão ou o preferencial em crianças com idade remota. Sendo assim, embora elas não convirjam com Rapp em relação ao dissílabo paroxítono, convergem em relação à proparoxítona. O trabalho de Ferreira-Gonçalves (2010) é, na verdade, uma análise de uma pesquisa realizada por Bonilha (2010 apud FERREIRA-GONÇALVES, 2010). Ferreira- Gonçalves estuda a aquisição do acento marcado. Sendo assim, é o único trabalho até então que deu algum destaque para as proparoxítonas. Ela toma como suporte teórico a Teoria da Otimalidade Conexionista. Ferreira-Gonçalves utiliza dados de um sujeito também longitudinalmente estudado. Os dados foram coletados a partir de práticas quinzenais de interação. Os dados que Ferreira-Gonçalves apresenta apontam para um acento não marcado que ocorre precocemente na fala da criança, enquanto a aquisição do acento marcado ocorre depois. O acento proparoxítono surge na linguagem do sujeito pesquisado aos 2;10 (dois anos e dez meses). Ela explica esse fato da seguinte maneira: “A aquisição tardia do acento proparoxítono pode ser explicitada pelo fato de a criança ainda não aplicar à extrametricidade, incorrendo no apagamento da sílaba final com a manutenção do pé troqueu” (FERREIRA-GONÇALVES, 2010, p.8;10). A partir dessa idade, “a variação é constatada em palavras que sofrem truncamento na fala do adulto como abóbora e xícara, o que é facilmente explicado pelas diferenças acerca dos inputs recebidos e, consequentemente, das formas alvo a serem atingidas” (FERREIRA-GONÇALVES, 2010, p.11). Mas, em relação à produção posterior, os dados sobre a aquisição das proparoxítonas são muito escassos no trabalho de Ferreira-Gonçalves. Dos vocábulos evocados pelo sujeito longitudinalmente estudado, apenas ABÓBORA teve uma larga escala de produções ao longo das faixas etárias da criança. O que talvez se possa subentender dos dados é uma dificuldade da criança na familiaridade com o próprio vocábulo. A própria autora explica que a aquisição da proparoxítona é por item lexical. Os trabalhos de Rapp (1994) e Ferreira-Gonçalves (2010) serão retomados posteriormente, na análise de dados, para um contraste. Por ora, vale esclarecer que a discussão sobre as preferências prosódicas de crianças em fase de aquisição importam, aqui, até onde elas puderem ser comparadas com o que verificarei neste trabalho: os dados disponíveis no PROAEP. A seguir, tratarei mais detalhadamente sobre esses dados. 3 METODOLOGIA DA COLETA DOS DADOS Os dados que serão analisados no próximo tópico são provenientes da aplicação do exame fonético-fonológico ERT. O exame foi aplicado em instituições de ensino infantil do município de Salvador, Bahia, na década de 1980. O exame não foi aplicado nem teve seus resultados transcritos por mim, e sim pelo PROAEP, sob coordenação da Profa. Dra. Elizabeth Reis Teixeira. O instrumento foi elaborado com o objetivo de fazer uma avaliação do tipo da maturação fonológica da criança, verificando sua capacidade de produzir sons de sua língua distintivamente. O objetivo foi fazer um mapeamento dos elementos do sistema fonológico em relação a sua ocorrência em diferentes posições da estrutura silábico- lexical. Trata-se de um instrumento de eliciação do tipo “screening” (INGRAM, 1976 apud SANTOS; SILVA, 2011). O método utilizado para eliciação do objeto de pesquisa consistiu em fazer com que uma determinada criança produzisse determinados itens lexicais a partir de estímulos visuais. Nessa metodologia, para efetiva realização de um item, há 3 (três) tentativas: 1. Amostragem da gravura à criança. Espera-se que a criança diga a palavra em perspectiva apenas com uma solicitação – conhecida como evocação ou nomeação espontânea. 2. Fornecimento de pistas. Por exemplo: diante de uma gravura em que o vocábulo em perspectiva seja MÁQUINA e ele não é produzido pela criança, o eliciador pode explicar que se trata de um instrumento eletrônico utilizado para lavar roupa. 3. Repetição indireta. Nesse caso, o eliciador diz a palavra e solicita que a criança repita, havendo ainda alguma locução do eliciador entre o momento em que ele diz a palavra e o momento em que a criança a repete. Se, mesmo após as três tentativas, a criança não disse a palavra, o eliciador a registrada como palavra não evocada. Quando um pesquisador opta pela metodologia descrita acima, as três tentativas são assim ordenadas de maneira hierárquica: a produção na primeira é a ideal; a segunda é tolerável; a terceira é evitada ao máximo. Ao todo, foram coletados dados de fala de 216 (duzentas e dezesseis) crianças, divididas equilibradamente em 3 (três) grupos socioescolares e em 9 (nove) grupos etários. Os grupos socioescolares foram assim classificados (Cf. TEIXEIRA, 1991, p.226; 1996, p.3): . Classe A:. filhos de pai e/ou mãe com nível superior completo . Classe B: filhos de pai e/ou mãe com nível médio completo, sem nível superior. . Classe C: filhos de pai e mãe sem nível médio completo Os grupos etários foram separados conforme o quadro abaixo (Cf. TEIXEIRA, 1991, p.226; 1996, p.3): Faixas etárias Idade (ano; mês) Grupo 1 (2;1 – 2;6) Grupo 2 (2;7 – 3;0) Grupo 3 (3;1 – 3;6) Grupo 4 (3;7 – 4;0) Grupo 5 (4;1 – 5;0) Grupo 6 (5;1 – 6;0) Grupo 7 (6;1 – 7;0) Grupo 8 (7;1 – 8;0) Grupo 9 (8;1 – 9;0) Quadro 01: Corpus Como nos mostra o quadro, os grupos etários são, até o grupo 4, separados por um espaço de 6 (seis) meses. A partir do grupo 5, a separação foi pelo intervalo de 1 (um) ano. Os grupos etários de um grupo socioescolar são distinguidos dos demais pelo acréscimo de sua letra correspondente: assim, o grupo etário 1 da classe A chama-se 1A, o grupo 3 da classe C chama-se 3C, e assim se aplica aos demais (Cf. Anexos). Cada grupo etário de cada grupo socioescolar contou com 8 (oito) crianças testadas. Nesse período, o ERT constou de 66 (sessenta e seis) vocábulos, escolhidos através do critério de representatividade fonológica, ou seja, para que houvesse um controle dos diferentes elementos do sistema fonológico em diferentes posições silábico- lexicais. No entanto, o teste tinha como alvo os elementos segmentais, como confusão entre líquidas, vocalização de consoantes, consonantização de vogais. Fenômenos suprassegmentais como a redução de proparoxítonas ou migração de acento não foram considerados na formulação do exame, de forma que, dos 66 (sessenta e seis) vocábulos, apenas 6 (seis) possuem o padrão proparoxítono, a saber: ÁRVORE, FÓSFORO, MÁQUINA, ÓCULOS, ÔNIBUS e XÍCARA. Os dados obtidos foram coletados em áudios e se encontram arquivados em fitas K7 no Instituto de Letras da UFBA, sob responsabilidade do PROAEP. Para a transcrição, foi utilizado o Alfabeto Fonético Internacional (doravante IPA). Não houve uso dos símbolos fonéticos [.] e [.], que representam vogais altas enfraquecidas, pois a equipe de aplicação e transcrição assumiu a postura de não distinguir quantidade vocálica. Nos grupos 6C e 7C, o transcritor recorreu ao uso do arquifonema /R/ para representar o travamento silábico na primeira sílaba de ÁRVORE. Na análise de dados, abordarei isoladamente cada um dos vocábulos, buscando delimitar uma diacronia da manutenção ou não do seu formato prosódico padrão. Embora seja observável a variabilidade de processos fonológicos nos dados, para os limites deste trabalho, serão consideradas apenas realizações detectadas em que ocorre alteração do formato prosódico proparoxítono, à parte de análise de outros processos fonológicos que se observem nas produções aqui analisadas. Devido ao fato de eu não ter tido acesso aos dados sobre o contexto de escuta desses vocábulos pelas crianças investigadas, esse fator não será levado em consideração aqui. Por isso, este será um estudo, além de transversal, quantitativo e descritivo. 4 ANÁLISE DOS DADOS A análise de dados está dividida em dois tipos: a análise dos vocábulos, em que busco identificar a trajetória de cada vocábulo ao longo dos grupos etários; e a análise das faixas etárias, em que busco identificar mudanças ou manutenções pelo mesmo sujeito, sendo considerado, nesse último tipo, o total dos vocábulos. Há alguns registros de 2 (duas) ou mais realizações do mesmo vocábulo pelo mesmo sujeito. Em alguns desses casos, há ocorrência de manutenção e mudança no formato padrão pelo mesmo sujeito. Para a análise dos vocábulos, é considerado o número total de produções, independentemente de terem sido realizadas pelo mesmo sujeito ou não; por isso, embora a média de produção por vocábulo seja 8 (oito), visto que a grande maioria obteve 1 (uma) realização por sujeito, em alguns casos, foi contabilizado 9 (nove) ou 10 (dez) realizações por vocábulo. As mudanças estão representadas em gráficos, em forma de porcentagem. Cada gráfico da análise de dados foi desenhado e gerado pelo programa Microsoft Excel, com base em uma tabulação dos dados. Eu fiz a tabulação e acrescentei aos gráficos os cardinais representados em cada pico. Para a análise das faixas etárias, foram considerados todos os sujeitos que produziram pelo menos 1 (uma) realização não-padrão, ainda que algum desses sujeitos tenha produzido 1 (uma) ou 2 (duas) realizações dentro do padrão prosódico. 4.1 ANÁLISE DOS VOCÁBULOS Passemos à análise de cada vocábulo. Exponho, abaixo, um gráfico para cada vocábulo que representa a porcentagem de mudanças no formato prosódico ao longo dos grupos etários; exponho, também, para cada vocábulo, dois quadros com os fenômenos de mudança. Nos quadros, valho-me das transcrições fonológicas apenas de parte do vocábulo, visto que o que me interessa são as mudanças no formato prosódico e não mudanças de outra natureza, que também ocorrem na variante produzida pela criança. Na palavra ÁRVORE, por exemplo, há ocorrência de mudanças segmentais com a coda da primeira sílaba; são processos que não interessam a este trabalho por serem segmentais e não se relacionarem com a mudança no padrão proparoxítono – até mesmo em crianças que mantêm o formato padrão esses processos segmentais ocorrem. Por isso, não faço a transcrição fonética da primeira sílaba, com algumas exceções, como veremos adiante. Nesses mesmos quadros, os fenômenos estão relacionados conforme o subtópico 2.3. Para as explicações dos quadros, parto do pressuposto de que as variantes já estão analisadas em 2.3, havendo necessidade de, em alguns casos, explicar os desdobramentos. Importante destacar que não me proponho a fazer explicações fechadas ou definitivas, nem poderia ser assim. Elas apenas refletem o meu olhar sobre as transcrições no momento da pesquisa; por isso mesmo, outras análises são possíveis e certamente surgirão quando outras pessoas – ou até mesmo eu, futuramente – também olharem para os dados. a) ÁRVORE: Transcrição fonológica : /.aRvO.I/ Gráfico 01: mudanças no formato prosódico de ÁRVORE nas duas classes O vocábulo ÁRVORE é o maior representante da discrepância de trajeto entre a classe A e a classe C. Observemos que apenas nos grupos 2 e 4, as duas classes apresentam procentagens próximas. A classe A apresenta claramente uma estabilização do padrão prosódico adulto, visto que, a partir do grupo 2A, há um decréscimo da procentagem até o grupo 4. A porcentagem mantém-se a mesma até o grupo 6A. A partir do grupo 7A, o formato padrão adulto está completamente estabilizado, não havendo mais qualquer ocorrência de mudança. As porcentagens todas são muito significativas, exceto no grupo 2A, em que há 50% de mudanças. Isso mostra que há uma preferência geral da classe A pelo padrão prosódico de ÁRVORE. A classe C, pelo contrário, apresenta resistência ao formato padrão, visto que, apenas nos grupos 4C, 5C e 9C, as porcentagens estão abaixo de 50%. O gráfico é descontínuo até o grupo 4, a partir de onde há uma tendência pela realização não padrão do formato prosódico, que é interrompida com uma abrupta queda do grupo 8C para o 9C. No entanto, as porcentagens só são significativas em 3 (três) grupos etários: 1C, 3C e 8C. Isso mostra que, ao contrário da classe A, não se pode concluir sobre preferência ou despreferência dos sujeitos da classe C pelo padrão prosódico de ÁRVORE. Passemos, agora, aos quadros de fenômenos: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F1 ár[v.i] 0 3 1 0 1 1 1 0 0 F2 ár[vi] 3 1 1 1 0 0 0 0 0 Quadro 02: fenômenos encontrados em ÁRVORE na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F1 ár[v.i] 1 1 3 1 2 1 2 3 1 F2 ár[vi] 2 1 4 0 1 2 3 2 0 F3 ár[goy] e ár[vew] 1 1 0 0 0 0 0 0 0 F10 árvo[Ø] ou árva[Ø] 3 0 0 1 0 1 0 2 0 F12 ár[Ø] 0 0 0 0 1 0 0 0 0 ESP ['fo] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 03: fenômenos encontrados em ÁRVORE na classe C. Podemos observar que houve recorrência, basicamente, de elisão do segmento /O/, o que permite a formação de um encontro consonantal com a pronúncia do vocábulo como arvre ou arve ou variações dessas duas realizações. Para além disso, houve alguns casos peculiares e/ou específicos, todos na classe C: . [.agoy]: supressão de /r/ na última sílaba, seguida de velarização de /v/ e semivocalização da vogal final /I/. . [.avew]: coalescência intersilábica, seguida de abaixamento da vogal final /I/, seguida de semivocalização e migração da vogal /O/, que passa a ocupar posição final absoluta, formando, assim, um ditongo decrescente. . [.fo]7: esse é um curioso caso, visto que, aqui, houve uma elisão total de uma sílaba forte. Além dessa, houve elisão total da última sílaba e desvozeamento da consoante inicial da sílaba restante. 7 Este caso pode ser compreendido, também, como formação de um outro vocábulo, visto que predominam as dessemelhanças. O vocábulo formado pode ter sido FLOR ou FOLHA. No entanto, como não tive acesso a todas as informações sobre a coleta, pressuponho que realizações de outro vocábulo tenham sido classificadas como não evocações. Mais adiante, há dois casos semelhantes. Cabe, aqui, uma explicação sobre a variante [.av.], encontrada apenas na classe C e classificada na tabela acima como F10. A vogal final [.] produzida por algumas crianças poderia ser entendida como uma nova variante formada a partir de [.avi]. No entanto, entre os dados de crianças que realizaram o vocábulo integralmente dentro do seu formato padrão, há a variante ÁRVARE, com 4 (quatro) ocorrências na classe A e 3 (três) ocorrências na classe C (Cf. Anexos). Assim, incluo [.av.] no rol das variantes oriundas de elisão total da sílaba final. b) FÓSFORO: Transcrição fonológica : /.f.SfO.U/ Gráfico 02: mudanças no formato prosódico de FÓSFORO nas duas classes O gráfico apresenta uma grande rejeição padrão ao padrão proparoxítono na classe C, havendo um número bastante expressivo de mudanças em todos os grupos etários, exceto 2C. Na classe A, ao contrário, parece haver uma resistência inicial com o formato padrão, que é superada a partir do Grupo 4. Vejamos, nos quadros abaixo, o total de fenômenos de mudança no formato prosódico encontrados no vocábulo: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F1 fós[fru] ou fós[flu] 0 0 0 0 1 0 0 1 0 F1+ DES fós[fwu] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 F2 fós[fu], fós[ku] ou fós[tu] 2 4 3 4 3 0 1 0 0 F6 fó[su] 2 0 0 1 0 0 0 0 0 F12 fó[Ø] e fós[k] 0 0 0 2 0 0 0 0 0 ESP [.f.siliku] 0 1 0 0 0 0 0 0 0 DES: desdobramento do fenômeno. ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 04: fenômenos encontrados em FÓSFORO na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F1 fós[f.u], fós[flu] ou fós[klu] 6 0 1 1 0 0 0 3 2 F2 fós[fu], fós[ku] ou fós[tu] 0 2 6 5 8 5 7 4 2 F6 fó[su] 0 1 0 0 0 1 0 0 0 F10 fósfo[Ø] 0 1 0 2 0 0 0 0 0 F11 fó[t.i] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 HIP [f.y.fa.u] 0 0 0 0 0 0 0 0 1 HIP: hiperbibasmo Quadro 05: fenômenos encontrados em FÓSFORO na classe C. O processo de maior incidência em FÓSFORO é elisão de /O/ e /r/, formando, assim, a realização fosfro e suas variações. Também é muito comum a elisão dos segmentos /f/ (segunda sílaba), /O/ e /./, seguida de mudança de função de /S/, que, sem migrar ou mutar, deixa de ser um travamento silábico para se tornar a consoante inicial da sílaba seguinte; esse processo forma a pronúncia fosso. Há algumas realizações peculiares: . [.f.sfwu]: coalescência entre as postônicas, lambidacismo do segmento /./ – gerando [flu], em uma forma intermediária –, seguido de semivocalização desse segmento. Também pode ser interpretado como um caso de coalescência entre as postônicas seguida de supressão de /./ e ditongação da nova sílaba final, por assimilação progressiva. . [.f.] e [.f.sk]: foram duas realizações do mesmo sujeito, no Grupo 4A. Aqui, houve elisão das sílabas postônicas; total na primeira realização e parcial na segunda, com a manutenção de um segmento, formando um travamento silábico com duas consoantes. . [f.y.fa.u]: migração do acento para a penúltima sílaba (hiperbibasmo). Semivocalização da consoante travadora /S/ e abaixamento da vogal postônica não final /O/. . [.f.siliku]: Há, aqui, várias formas intermediárias: 1. [.f.sifolu]: Adição de [i] entre /S/ e /f/. Lambidacismo da consoante inicial da última sílaba, /./, formando [l]. 2. [.f.sifilu]: assimilação regressiva em /O/, tornando-se [i]. 3. [.f.silifu]: Metátese entre [l] e /f/. 4. [.f.siliku]: Oclusivização de /f/, tornando-se [k]. . [.f.t.i]: africação de /S/. Adição de [i] epentético. c) MÁQUINA: Transcrição fonológica : /.makina/ Gráfico 03: mudanças no formato prosódico de MÁQUINA nas duas classes Por ser um vocábulo que não é passível de ressilabificação, MÁQUINA obteve uma rápida estabilização do padrão prosódico proparoxítono, como podemos observar no gráfico 03 acima. A classe C começa com uma porcentagem alta de mudança do formato padrão, mas sofre uma queda significativa do grupo 1C para o 2C, mantendo-se instável de forma a só haver mudanças nos grupos 6C e 8C; a porcentagem 12,5%, nesse caso, representa 1 (uma) única mudança do formato padrão em todo o grupo etário. Quanto à classe A, já demonstra tendência ao formato padrão desde o início, apresentando nos grupos 1A e 2A porcentagem pouco significativa. Ademais, MÁQUINA foi o vocábulo em que as duas classes mais se aproximam. Vejamos, nos quadros abaixo, o total de fenômenos de mudança no formato prosódico encontrados no vocábulo: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F2 má[k.] 1 2 0 0 0 0 0 0 0 F10 máqui[Ø] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 F4 + DES má[yk.] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 DES: desdobramento do um fenômeno Quadro 06: fenômenos encontrados em MÁQUINA na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F2 má[k.] 2 1 0 0 0 1 0 0 0 F2 + DES [.kak.] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 F10 máqui[Ø] 2 0 0 0 0 0 0 0 0 ESP má[Ø]na 1 0 0 0 0 0 0 0 0 ESP má[ky.] 0 0 0 0 0 0 0 1 0 DES: desdobramento do fenômeno. ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 07: fenômenos encontrados em MÁQUINA na classe C A maior recorrência, entre as reduções, foi de elisão de /i/ na segunda sílaba e /n/ na terceira, formando assim, a realização maca. Em segundo lugar, temos a elisão da sílaba final. Temos dois casos peculiares, que envolvem formação de ditongo: . [.kak.]: coalescência entre as duas sílabas postônicas, seguida de assimilação regressiva da consoante medial /k/ pela consoante inicial absoluta. Trata-se do mesmo sujeito que produziu [.k.ku] (ÓCULOS) e [.kik.] (XÍCARA), como veremos adiante. . [.man.]: elisão total da segunda sílaba. . [.mayk.]: semivocalização da vogal medial /i/, que seria seguida, naturalmente, pela supressão da sua consoante inicial, /k/; no entanto, a consoante suprimida foi a seguinte, /n/, ao passo em que /k/ migrou para o seu lugar. . [.maky.]: semivocalização de /i/ e supressão de /n/. d) ÓCULOS: Transcrição fonológica : /..kulUS / Gráfico 04: mudanças no formato prosódico de ÓCULOS nas duas classes É visível a instabilidade desse vocábulo entre os formatos padrão e não padrão. É o segundo vocábulo, depois de ÁRVORE, em que a discrepância entre as duas classes é mais visíviel, visto que elas só se aproximam no grupo 2. Na classe A, há uma tendência inicial à realização prosódica não padrão, pouco significativa, e que é completamente superada a partir do grupo 3A, a partir de quando ocorre uma instabilidade até o grupo 6A, onde há uma visível tendência a estabilização do padrão proparoxítono. A classe C já demonstra, desde o início, uma tendência a rejeição ao formato padrão. XÍCARA é o único vocábulo em que ocorre mais de 90% de realizações não- padrão. Vejamos, nos quadros abaixo, o total de fenômenos de mudança no formato prosódico encontrados no vocábulo: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F1 ó[klu]s ou ó[k.u]s 5 1 0 0 1 2 1 1 0 F1+DES [.l.sku] 0 1 0 0 0 0 0 0 0 F2 ó[ku]s ou ó[ko]s 0 2 2 0 2 0 1 0 0 F2+DES [..ksu] ou [..sku] 2 3 0 0 0 0 0 0 0 DES: desdobramento do fenômeno ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 08: fenômenos encontrados em ÓCULOS na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F1 ó[klu]s ou ó[k.u]s 0 1 2 1 2 1 4 4 5 F2 ó[ku]s, ó[tu]s ou ó[ko]s 8 5 3 5 6 4 4 1 1 F5 [.z..ku] 0 0 1 0 0 0 0 0 0 F11 + DES [..ski] 0 0 0 0 0 0 0 1 0 ESP [..t.ku] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 09: fenômenos encontrados em ÓCULOS na classe C. As reduções de ÓCULOS podem tanto ser atribuídas à coalescência entre as duas sílabas postônicas, como à elisão total da última sílaba, visto que, nas duas últimas sílabas a vogal é a mesma. Opto, em minha análise, pela primeira opção, em correspondência ao que ocorre com os vocábulos ÁRVORE e FÓSFORO. Temos, assim, a realização oclo e suas variações. . [..ksu]: coalescência entre as postônicas, seguida de metátese da consoante final /S/. Essa transcrição pode ser lida de duas formas: a formação de um travamento silábico [.k], na primeira silába; ou a formação de um encontro consonantal [ks] na sílaba coalescida. . [..sku]: coalescência entre as postônicas e migração da consoante final /S/ para a primeira sílaba, mantendo-se como um travamento silábico. . [.l.sku]: coalescência entre as postônicas, seguida de migração da consoante inicial medial /l/ para a posição de consoante inicial absoluta. . [.z..ku]: coalescência entre as postônicas, rotacismo da consoante inicial medial /l/ e migração da mesma para a formação de um encontro consonantal na primeira sílaba. . [..ski]: migração da consoante final absoluta /S/ para a posição de consoante final da primeira sílaba, seguida de elisão parcial da sílaba medial, com manutenção da consoante inicial /k/ e elisão total da sílaba final, seguida de adição da vogal alta /i/ como vogal final absoluta. . [..t.ku]: coalescência entre as postônicas, seguida de palatalização, africação e migração da consoante final absoluta /S/ para a posição de consoante final da primeira sílaba. Aqui, aparentemente, houve uma tentativa frustrada de manutenção do padrão proparoxítono. . [.k.ku]: coalescência entre as duas sílabas postônicas, seguida de assimilação regressiva da consoante medial /k/ pela consoante inicial absoluta. Trata-se do sujeito que apresenta formas reduplicadas, tendo produzido [.kak.] (MÁQUINA) e [.kik.] (XÍCARA). e) ÔNIBUS: Transcrição fonológica : /.onibUS/ Gráfico 5: mudanças no formato prosódico de ÔNIBUS nas duas classes Este foi o segundo vocábulo, depois de MÁQUINA, que rapidamente teve o padrão adulto estabilizado. Ao contrário dos demais vocábulos em que a redução permite a formação de um encontro consonantal, a partir do grupo 3, a maioria expressiva de crianças realizou o padrão prosódico e uma grande minoria mudou o formato. Aqui, assim como em MÁQUINA, há uma grande aproximação das duas classes. Vejamos, nos quadros abaixo, o total de fenômenos de mudança no formato prosódico encontrados no vocábulo: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F2 ôn[u]s 1 0 0 0 0 0 0 0 0 F7 ôn[bu]s 2 2 1 0 0 1 0 0 0 Quadro 10: fenômenos encontrados em ÔNIBUS na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F3 [.õybu] 1 0 0 0 0 0 0 0 0 F4 + DES [i.õdiw] 0 0 0 0 0 1 0 0 0 F7 ôn[bu]s ou ôn[pu]s 3 1 2 0 0 0 0 1 0 ESP [õ.ubidu] 0 0 1 0 0 0 0 0 0 ESP ôn[bi]s 2 0 0 1 1 0 0 0 0 ESP [.õtis] 0 0 1 0 0 0 0 0 0 ESP [.a.u] 0 1 0 0 0 0 0 0 0 ESP [.ou:pidu] 0 1 0 0 0 0 0 0 0 DES: desdobramento de um fenômeno ESP: fenômeno específico dos dados do PROAEP, não encontrado nos trabalhos sociolinguísticos aqui abordados Quadro 11: fenômenos encontrados em ÔNIBUS na classe C Aqui, entre as reduções do vocábulo, o que houve de mais recorrente foi a elisão de /n/ – que, antes de cair, nasaliza a vogal que a antecede – e /i/, formando, assim, a realização ombos e suas variações. Há um caso, no grupo 1C, de semivocalização de /i/ e manutenção da sílaba final, formando, assim, a realização [‘õybu]. Há, também, recorrência de elisão não de /i/, mas de /u/, formando a pronúncia ômbis e suas variações. . [i.õdiw]: redução seguida de ampliação do vocábulo. Redução por coalescência entre as postônicas, com desnasalação da consoante inicial medial /n/, supressão das duas consoantes da última sílaba, /b/ e /S/, e semivocalização de /U/. Ampliação por adição assimilatória de uma vogal para ocupar o lugar de sílaba incial. . [õ.ubidu]: sequência de vários fenômenos. Desnasalação da consoante inicial da segunda sílaba. Inversão das posições das consoantes iniciais das postônicas. Supressão da consoante final /S/. Ampliação do vocábulo por nasalização assimilatória e ditongação da vogal inicial – gerando [.õw], em uma forma intermediária –, seguida de vocalização e acentuação da semivogal formada. . [.õbi]; [.õbis]: supressão da consoante inicial da segunda medial /n/ – com assimilação regressiva da nasalidade para a vogal inicial – e migração da consoante inicial da última sílaba /b/ para ocupar sua posição; supressão da vogal da última sílaba /u/ e migração da vogal da primeira sílaba /i/ para ocupar sua posição. Em alguns casos, houve supressão também da consoante final absoluta /S/. . [.õtis]: coalescência entre as sílabas postônicas, seguida de desnasalação e desvozeamento da consoante inicial medial /n/; elisão parcial da última sílaba, com manutenção da consoante final /S/. . [.a.u]8: abaixamento da vogal inicial /o/, elisão total da segunda sílaba e da consoante inicial da terceira sílaba, /b/, seguida de palatalização e sonorização da consoante final /S/, que migra para a posição de consoante inicial da sílaba. . [.ou:pidu]: desnasalização da consoante inicial da segunda sílaba. Inversão das posições das consoantes iniciais das postônicas. Supressão da consoante final /S/. Ampliação do vocábulo por ditongação da vogal inicial – gerando [.õw], em uma forma intermediária –, seguida de vocalização e alongamento da semivogal formada. 8 Este caso também pode ser compreendido como formação de um outro vocábulo, não recuperável, visto que predominam as dessemelhanças. Assim como no caso de ÁRVORE, como não tive acesso a todas as informações sobre a coleta, pressuponho que realizações de outro vocábulo tenham sido classificadas como não evocações. f) XÍCARA: Transcrição fonológica: /..ika.a/ Gráfico 6: mudanças no formato prosódico de XÍCARA nas duas classes Este vocábulo demonstra uma pequena instabilidade em relação à aquisição do seu padrão prosódico. Na classe C, aparentemente, há uma estabilidade inicial de realizção prosódica não-padrão, que é rompida com a queda da porcentagem do grupo 4C para o 5C. A partir de então, há uma instabilidade geral. Na classe A, a estabilidade inicial dura apenas entre os grupos 1A e 2A, a partir de quando há instabilidade até o grupo 5A, a partir de quando já se demonstra uma tendência à estabilização do formato padrão proparoxítono. A estabilidade total se dá no grupo 8A. Em todo caso, na classe A, houve uma maioria expressiva de realizações proparoxítonas, com exceção do grupo 4A. Na classe C, pelo contrário, a tendência geral é por rejeição ao padrão proparoxítono, com exceção dos grupos 5C, 6C e 7C. Vejamos, nos quadros abaixo, o total de fenômenos de mudança no formato prosódico encontrados no vocábulo: FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A F1 xí[k..] ou xí[kl.] 1 2 0 5 3 3 3 0 0 F2 xí[k.] 2 1 1 0 0 0 0 0 0 Quadro 12: fenômenos encontrados em XÍCARA na classe A. FENÔMENO VARIANTE GRUPOS ETÁRIOS 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C F1 xí[k..] ou xí[kl.] 0 0 4 5 1 1 3 6 2 F2 xí[k.] 5 5 3 1 2 1 1 0 2 F5 [...ik.] 0 0 1 0 0 0 0 0 0 F5 + DES [..ixka] 0 0 0 0 1 0 0 0 0 F11 ou F12 xíc[Ø] 0 0 1 0 0 0 0 0 0 HIP [.i.k..t.i] 0 0 0 0 0 1 0 0 0 HIP: hiperbibasmo DES: desdobramento do fenômeno. Quadro 13: fenômenos encontrados em XÍCARA na classe C. Em XÍCARA, temos o mesmo caso que em ÓCULOS: as reduções podem tanto ser atribuídas à coalescência entre as sílabas postônicas, como à elisão total da última sílaba. Também no caso de XÍCARA, em correspondência a ÁRVORE e FÓSFORO, opto pela primeira opção em minha análise. Dito isso, a grande maioria das mudanças em XÍCARA ocorrem por meio de supressão de /a/ na segunda sílaba, formando a pronúncia xicra e suas variações, ou pela supressão também de /./ na última sílaba. Abaixo, os casos mais peculiares: . [..ik]: elisão das sílabas postônicas; parcial na segunda sílaba, mantendo a consoante inicial /k/ e tornando-a consoante final da primeira sílaba; total na terceira. Também pode ser compreendido como um caso de F11 incompleto, sem a formação de /i/ epentético. . [.i.k..t.i]9: aqui, houve uma sequência: com a coalescência entre as postônicas, o acento migrou para a nova sílaba formada, a vogal final /a/ dessa sílaba sofreu mutação, tornando-se [.], e o vocábulo ampliou-se com adição de uma nova sílaba que se formou por assimilação da primeira e africação da consoante inicial absoluta /./. . [...ik.]: migração da consoante inicial da última sílaba, /./ que passa a produzir um encontro com a consoante inicial. 9 Aqui também há a possibilidade de evocação de um outro item lexical; tal como ocorreu em ÁRVORE e ÔNIBUS. O possível outro vocábulo evocado pode ser recuperado: CHICLETE. Assim como nos exemplos anteriores, como não tive acesso a todas as informações sobre a coleta, pressuponho que realizações de outro vocábulo tenham sido classificadas como não evocações. . [..ixka]: migração e metátese conjugadas da consoante inicial da última sílaba, /./ que, ao invés de se estabilizar como encontro consonantal com a consoante inicial /./, como ocorre com o exemplo acima, ocupou o lugar de consoante final, formando um travamento silábico e sofrendo velarização. . [.kik.]: coalescência entre as duas sílabas postônicas, seguida de assimilação regressiva da consoante medial /k/ pela consoante inicial absoluta. Trata-se do mesmo sujeito que produziu [.k.ku] (ÓCULOS) e [.kak.] (MÁQUINA), que apresenta ocorrência de formas reduplicadas. 4.1.2 Tendências gerais De 6 (seis) vocábulos para 72 (setenta e dois) sujeitos testados na classe A, a coleta com o ERT obteve um total de 3 (três) não-realizações e 435 (quatrocentas e trinta e cinco) realizações – incluo, neste cálculo, duas ou mais realizações de um vocábulo pelo mesmo sujeito –, das quais 5 (cinco) não pude identificar, devido à leitura defeituosa dos símbolos pelo computador. Das que pude identificar, constato: . 330 (trezentos e trinta) manutenções do formato padrão adulto. . 99 (noventa e nove) reduções do vocábulo, formando dissílabos paroxítonos. . 1 (uma) ampliação do vocábulo, formando uma preproparoxítona. A seguir, um gráfico representativo dessa análise: Gráfico 7: Realizações na classe A A ampliação ocorreu no Grupo 2A com o vocábulo FÓSFORO. A transcrição fonética que consta nos dados do exame é a seguinte: [.f.siliku] (Cf. anexo A). Todos os casos de redução do formato prosódico ocorreram ou pelo processo de coalescência ou por elisão silábica. Na classe A, temos as seguintes ocorrências: . Redução por coalescência intersilábica: - Em ÁRVORE: 13 (treze) ocorrências. - Em FÓSFORO: 24 (vinte e quatro) ocorrências. - Em MÁQUINA: 3 (três) ocorrências. - Em ÓCULOS: 20 (vinte) ocorrências. - Em ÔNIBUS: 7 (sete) ocorrências. - Em XÍCARA: 21 (vinte e uma) ocorrências. Total: 88 (oitenta e oito) ocorrências. . Redução por elisão de sílaba: - Em ÁRVORE: nenhuma ocorrência - Em FÓSFORO: 4 (quatro) ocorrências. - Em MÁQUINA: 1 (uma) ocorrência. - Em ÓCULOS: nenhuma ocorrência - Em ÔNIBUS: 6 (seis) ocorrências. - Em XÍCARA: nenhuma ocorrência. Total: 11 (onze) ocorrências. Na classe C, todos os vocábulos foram evocados. Com os mesmos critérios descritos na classe A, temos o total de 457 (quatrocentas e cinquenta e sete) realizações, das quais não identifiquei 1 (uma) e constato, nas demais: . 227 (duzentas e vinte e sete) manutenções do formato padrão adulto. . 223 (duzentas e vinte e três) reduções do vocábulo, formando dissílabos paroxítonos. . 2 (duas) ampliações do vocábulo, formando uma preproparoxítona e um tetrassílabo proparoxítono. . 2 (duas) migrações do acento (hiperbibasmo), formando trissílabos paroxítonos. . 1 (uma) redução seguida de ampliação do vocábulo, formando um trissílabo paroxítono. . 1 (uma) redução do vocábulo, formando um monossílabo A seguir, um gráfico representativo dessa análise: Gráfico 8: Realizações na classe C A ampliação ocorreu no Grupo 2C com o vocábulo ÔNIBUS. A transcrição fonética que consta nos dados do exame é a seguinte: [.ou:pidu] (Cf. Anexo B). Uma das migrações ocorreu no Grupo 9C, com o vocábulo FÓSFORO. A transcrição que consta nos dados é [f.y.faru] (Cf. Anexo B). A outra migração e a redução seguida de ampliação foram realizadas pelo mesmo sujeito, no Grupo 6C, respectivamente com os vocábulos XÍCARA e ÔNIBUS, conforme dados transcritos: [.i.k..t.i] e [i.õdiw] (Cf. Anexo B). Quanto às reduções, temos as seguintes ocorrências na classe C: . Redução por coalescência intersilábica: - Em ÁRVORE: 32 (trinta e duas) ocorrências. - Em FÓSFORO: 54 (cinquenta e quatro) ocorrências. - Em MÁQUINA: 6 (seis) ocorrências. - Em ÓCULOS: 59 (cinquenta e nove) ocorrências. - Em ÔNIBUS: 5 (cinco) ocorrências. - Em XÍCARA: 46 (quarenta e seis) ocorrências. Total: 202 (duzentas e duas) ocorrências. . Redução por elisão de sílaba: - Em ÁRVORE: 9 (nove) ocorrências. - Em FÓSFORO: 4 (quatro) ocorrências. - Em MÁQUINA: 3 (três) ocorrências. - Em ÓCULOS: 1 (uma) ocorrência. - Em ÔNIBUS: 8 (oito) ocorrências. - Em XÍCARA: 1 (uma) ocorrência. Total: 26 (vinte e deis) ocorrências Importante destacar que, em alguns desses casos, tanto na classe A quanto na classe C, ocorrem os dois processos: elisão de sílaba e coalescência intersilábica; porém, apenas um deles é realmente responsável pela redução do vocábulo, como é o caso de F6 em FÓSFORO, em que ocorre primeiro a elisão da sílaba postônica não final e, em seguida, a coalescência entre a primeira e a última sílaba. Pelos dados analisados até aqui, é visível que a mudança no formato padrão das proparoxítonas só foi realmente produtiva em vocábulos que permitem a formação de um encontro consonantal com a redução por coalescência entre as sílabas postônicas. Ainda que nem sempre o encontro consonantal ocorra de fato, como nos casos de F2, a supressão ou deslocamento da consoante líquida é um fenômeno aquisiconal meramente segmental, que nada tem a ver com a produção de proparoxítonas, visto que os vocábulos ÔNIBUS e MÁQUINA são passíveis de F2 e obtiveram uma baixa taxa de reduções e uma rápida estabilização do padrão proparoxítono. Assim, F1 e F2 lideram os fenômenos de mudança do formato prosódico – incluo, aqui, os desdobramentos –, sendo eles, na classe A: . 19,3% do total de realizações identificadas; . 83% do total de mudanças no formato prosódico; e na classe C: . 40,7% do total de realizações identificadas; . 81,2% do total de mudanças no formato prosódico; Os demais fenômenos ou são específicos de um vocábulo, como é o caso de F6 em FÓSFORO, F10 em MÁQUINA e F7 em ÔNIBUS, ou ocorrem de maneira esporádica. ÔNIBUS e MÁQUINA são os dois únicos casos em que F1 e F2 não lideram; F1 por ser impossível, já que são vocábulos que não permitem a formação de um encontro consonantal, e F2 porque outras formas de redução do vocábulo são mais produtivas. Apesar disso, cabe salientar que, por esses dois vocábulos terem tido uma baixa frequência de mudanças, as porcentagens dos fenômenos são todas pouco significativas e pouco distantes entre si. Hiperbibasmo e fenômenos específicos foram poucos e irrelevantes. Na classe C, houve ocorrência de apenas 11 (onze) realizações, o que representa 0,02% do total de realizações identificadas e 0,04% do total de mudanças no formato prosódico. Na classe A, houve apenas 1 (uma) realização, o que representa uma porcentagem absolutamente insignificante. Se compararmos esses dados com os dados obtidos por outros pesquisadores, temos o seguinte: DADOS AQUISICIONAIS DADOS SOCIOLINGUÍSTICOS Rapp (1994) F. Gonçalves (2010) ERT: classe A ERT: classe C Aragão (2000) Silva (2006) Castro (2008) Lima (2008) S. Filho (2010) F1 SIM SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM SIM F2 SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM F3 NÃO NÃO NÃO SIM SIM NÃO SIM TVZ10 NÃO F4 NÃO NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM F5 NÃO NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO F6 NÃO NÃO SIM SIM NÃO NÃO SIM NÃO NÃO F7 SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM F8 NÃO SIM NÃO NÃO SIM SIM NÃO SIM SIM F9 NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM NÃO SIM F10 SIM SIM SIM SIM SIM NÃO SIM NÃO SIM F11 NÃO NÃO NÃO SIM NÃO NÃO NÃO SIM NÃO F12 NÃO NÃO SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO SIM 10 Talvez: no vocábulo FLÁCIDO, encontra-se a seguinte transcrição: “Fláci[Ø]u” (cf. LIMA, 2008, p.176). Com essa transcrição, pode-se entender que /U/ final sofreu uma semivocalização, bem como que se manteve como vogal final, formando um hiato com /i/ medial. Quadro 14: Ocorrência ou não dos fenômenos nos diversos trabalhos Os dados obtidos nas pesquisas relacionadas no quadro acima nem sempre englobam o corpo do texto. Apenas Aragão (2000) listou os fenômenos. Apenas Rapp (1994) e Gonçalves (2010) disponibilizaram todas as realizações dos sujeitos no corpo do texto. Lima (2008) e Silva Filho (2010) disponibilizaram todas as realizações em anexo. Os demais disponibilizaram algumas informações das realizações a título de exemplo; as que foram disponibilizadas, confirmei como SIM; tudo o que foi omitido classifiquei como NÃO. Se destacarmos os seis vocábulos coletados no ERT, temos o seguinte quadro de fenômenos: DADOS AQUISICIONAIS DADOS SOCIOLINGUÍSTICOS Rapp (1994) F. Gonçalves (2010) ERT: classe A ERT: classe C Aragão (2000) Silva (2006) Castro (2008) Lima (2008) S. Filho (2010) ÁRVORE F1, F2 F2 F1, F2 F1, F2, F4, F10 F2 F1 F1, F2 F1, F2 F1 FÓSFORO F1, F2 - F1, F2, F6 F1, F2, F6, F10, F11 - F1, F2 - F1, F2 F1, F2 MÁQUINA - FPT F2 F10 - F2 - - FPT ÓCULOS - F1 F1, F2 F1, F2, F11 - F1 - F1, F2 F1 ÔNIBUS - F10 F2, F7 F3, F4, F7 F3 VNA - F10 F3 XÍCARA - F1, F2 F1, F2 F1, F2, F5, F11/F12 - F2 - F1 F1, F2 VNA: variação não apresentada FPT: formato prosódico padrão em todas as realizações - : vocábulo não estudado. Quadro 15: Fenômenos ocorrentes nos vocábulos, nos diversos trabalhos O que temos, nesses dois quadros, sãos as seguintes constatações: . Os fenômenos são tão ocorrentes em dados aquisicionais quanto em dados sociolinguísticos, visto que em ambos os temas de pesquisa ocorrem todos os fenômenos. . F2 é o único fenômeno comum a todos os trabalhos e F1 só está ausente em um dos trabalhos sociolinguísticos. . A classe C do ERT lidera a ocorrência dos fenômenos, só não havendo ocorrência de F8 e F9, já que o ERT não pesquisou proparoxítonos passíveis desses dois fenômenos. . Entre os dados aquisicionais, só há ocorrência de F3, F4 e F5 na classe C do ERT. . Entre os dados sociolinguísticos, o que lidera a ocorrência dos fenômenos é o trabalho de Silva Filho (2010). Voltando ao ERT, especificamente, exponho, abaixo, um gráfico em que todas as mudanças são representadas no total dos vocábulos: Gráfico 9: total de mudanças Pelo gráfico, podemos observar uma distância visível entre as duas classes. Em quase todos os vocábulos, a classe C não demonstra qualquer tendência pela instabilidade do gráfico, bem como mantém-se com percentuais maiores de mudança do que a classe A, com exceção do grupo 2. Se retirarmos ÔNIBUS e MÁQUINA, as porcentagens tornam-se ainda mais significativas: Gráfico 10: total de mudanças nos vocábulos ÁRVORE, FÓSFORO, ÓCULOS e XÍCARA Como ÔNIBUS e MÁQUINA apresentaram porcentagens baixas (vide gráficos em 4.1), com a exclusão desses dois vocábulos, todas as percentagens sofreram aumento. Agora, na classe C, todas as porcentagens ascenderam de 50%, exceto no grupo 9C. Na classe A, pelo contrário, com exceção do grupo 2A, as porcentagens mantiveram-se abaixo de 50%. O grupo 2 continua sendo o único em que as duas classes se aproximam, havendo um aumento de 2% na diferença entre as duas nesse grupo etário. O que temos de resultado, até aqui, são duas classes com amostragens completamente distintas. A classe A demonstra uma tendência à redução das mudanças ao longo dos grupos etários, tendendo a estabilização do formato proparoxítono. A classe C apresenta rejeição geral ao formato padrão, mas não apresenta qualquer tendência de estabilização. Resultados semelhantes são encontrados na análise das faixas etárias, que virá a seguir. 4.2 ANÁLISE DAS FAIXAS ETÁRIAS Nas tabelas abaixo, informo o número de crianças que, nos dados da aplicação do ERT, realizaram os vocábulos dentro do formato padrão adulto. Os grupos etários estão dispostos nas linhas e os vocábulos realizados estão dispostos nas colunas. Na enumeração dos sujeitos nestes quadros, foram excluídos alguns sujeitos que, tendo realizado 2 (duas) ou mais vezes o mesmo vocábulo, apresentou pelo menos 1 (uma) realização em que alterasse o formato prosódico do vocábulo. Também estão exclusas realizações não identificadas, assim como sujeitos que não realizaram o vocábulo. 1A 2A 3A 4A 5A 6A 7A 8A 9A ÁRVORE 5 4 6 7 7 7 7 8 8 FÓSFORO 2 2 5 2 4 8 6 7 8 MÁQUINA 5 6 6 8 8 8 8 8 8 ÓCULOS 2 2 6 8 5 6 6 7 8 ÔNIBUS 4 4 7 8 8 7 8 8 8 XÍCARA 5 5 7 3 5 5 5 8 8 Quadro 16: número de crianças que realizaram o formato trissílabo proparoxítono na classe A 1C 2C 3C 4C 5C 6C 7C 8C 9C ÁRVORE 2 5 3 6 4 4 3 2 7 FÓSFORO 2 3 2 1 1 2 2 1 4 MÁQUINA 2 7 8 8 8 7 8 7 8 ÓCULOS 0 2 1 2 0 3 1 2 2 ÔNIBUS 3 5 4 7 7 7 8 7 8 XÍCARA 3 3 2 2 4 5 4 2 4 Quadro 17: número de crianças que realizaram o formato trissílabo proparoxítono na classe C Os quadros acima mostram que, enquanto, na classe A, há uma tendência geral pela estabilização do formato padrão adulto – trissílabo proparoxítono –, na classe C, não há uma tendência que pode ser desenhada ao longo das faixas etárias, o que podemos observar no gráfico abaixo, que representa essas duas tabelas, no total de vocábulos realizados: Gráfico 11: realizações do formato trissílabo proparoxítono Analisando o gráfico, podemos observar o seguinte: . Na classe A, há uma tendência à estabilização do formato padrão adulto, visto que o gráfico apresenta uma tendência ao aumento do número de sujeitos que assim realizaram. Essa tendência apresenta leves declínios entre os grupos 3 e 7, mas os decréscimos dessa sequência são da diferença de 1 (um) sujeito, sempre compensados, em seguida, por um acréscimo. . Na classe C não há uma tendência à estabilização ou não do formato padrão adulo, visto que o gráfico é bastante descontínuo. E embora haja um aumento considerável do grupo 1C para o 2C e do grupo 8C para o 9C e, também, uma distância igualmente considerável entre o primeiro e o último grupo etário, este é um estudo transversal e seria necessário que o restante do gráfico tracejasse um encaminhamento do primeiro ao último grupo, o que não ocorre. . A classe A apresenta um número maior de sujeitos que, ao longo dos grupos, realizam o formato padrão, havendo uma única exceção no Grupo 2. A diferença entre as duas classes é de, em média, 13 (treze) sujeitos por grupo. No Grupo 2, a diferença é de 2 (dois) sujeitos. A seguir, exponho um gráfico que representa o número de sujeitos que, ao longo dos 9 (nove) grupos etários, não realizaram uma única mudança no formato prosódico, em nenhum dos vocábulos. De maneira um tanto incerta no início – apenas no início –, na classe A, quanto mais velha é a criança, maior a possibilidade de manter todos os vocábulos dentro do padrão prosódico adulto. Na classe C, do contrário, não são recorrentes crianças que tenham realizado todos os vocábulos dentro do padrão prosódico adulto. É o que podemos conferir no gráfico: 1 0 0 0 0 0 0 1 3 1 5 4 7 8 1 1 1 1 Gráfico 12: número de sujeitos que produziram todos os vocábulos dentro do padrão prosódico adulto Podemos observar no gráfico que, na classe A, tudo é incerto até o grupo 5A; a partir de então, a tendência é de crescimento proporcional ao avanço no grupo etário da criança. O movimento é decrescente do grupo 6A para o 7A – a diferença é de uma única criança – e passa a ser crescente desde então, até que, no último grupo etário, todas as crianças produzem todos os vocábulos dentro do padrão prosódico adulto. Em relação à classe C, há ocorrência – nos grupos 2C, 6C, 8C e 9C – de 1 (um) sujeito que tenha realizado todos os vocábulos dentro do formato padrão adulto. Nos demais grupos etários, não houve uma única ocorrência desses sujeitos. Essa discrepância desaparece quando analisamos o inverso: crianças que não realizaram um único vocábulo dentro do padrão prosódico adulto. Nesse caso, as duas classes afastam-se no início e logo se aproximam, havendo pouquíssima recorrência desse caso. Vejamos um gráfico que expõe esse caso: 1 4 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 Gráfico 13: número de sujeitos que não produziram nenhum vocábulo dentro do padrão prosódico adulto O que o gráfico nos mostra é que não há uma tendência, nem na classe A nem na classe C, a mudança em todos os vocábulos. Na classe A, apenas o sujeito 3, no Grupo 1A, mudou todos os vocábulos. Curiosamente, todas as mudanças desse sujeito foram por redução, com o mesmo fenômeno: F2. Na classe C, 4 (quatro) sujeitos mudaram no grupo 1C, 1 (um) sujeito mudou no grupo 2C e um outro sujeito, no grupo 8C. Curiosamente, o sujeito 20 do grupo 1C foi responsável por três formas reduplicadas: [.k.ku] (ÓCULOS), [.kak.] (MÁQUINA) e [.kik.] (XÍCARA). Nos demais grupos da classe C, não houve recorrência de mudança em todos os vocábulos. A seguir, um gráfico que apresenta o número de crianças que, em cada uma das duas classes, realizaram mudança do formato prosódico padrão em 1 (um) único vocábulo: Gráfico 14: número de sujeitos que mudaram o formato prosódico de um único vocábulo Não há casas decimais nesse gráfico. Ele representa apenas os números inteiros que se mostram à esquerda. O gráfico é bastante instável nas duas classes. Pelo que o gráfico mostra, a mudança em um único vocábulo não é tendência em nenhuma das duas classes, não aumenta e nem diminui na medida em que a criança é mais velha. Afora as situações anteriores – uma única mudança, nenhuma mudança e mudança em todos os vocábulos –, exponho, agora, um gráfico que representa a média de mudanças por sujeito que mudou de 2 (dois) a 5 (cinco) vocábulos ao longo das faixas etárias: 2,0 2,6 1, 0 1,1 0,8 0,7 0,7 0,8 0,0 1,5 1,8 3,3 2,6 3,0 1,5 2,7 2,6 1,7 Gráfico 15: média de mudanças por sujeito (2 a 5 vocábulos) O que observamos no gráfico é que, na classe A, a média é ascendente do grupo 1A para o 2A, com diferença de 0,6. A partir de então, o gráfico demonstra uma leve tendência ao decréscimo da média de mudanças por sujeito, visto que as duas únicas ascendências da média ao longo dos grupos etários – do grupo 3A para o 4A e do grupo 7A para o 8A – são de 0,1 e visto que as médias se mantém abaixo dos grupos 1A e 2A. Já na classe C, a média do primeiro grupo é menor que a do grupo 2C, com diferença de 0,2. Há uma tendência ascendente inicial que se perde a partir do grupo 4C, a partir de onde o gráfico fica completamente incerto. O que temos, até aqui, são duas classes com resultados completamente distintos. A classe A apresenta nitidamente uma tendência à manutenção do padrão prosódico adulto, que se acentua ao longo dos grupos etários. A classe C apresenta tendências incertas ao longo dos grupos etários, visto que os gráficos que representam totalidade são incertos e apresentam números próximos nos gráficos opostos 12 e 13; houvesse uma tendência na classe C, os gráficos que a representam traçariam um desenho, tal como traçam os gráficos da classe A. Pretendi, com todas essas análises, clarear melhor as diferenças entre a classe A e a classe C, que são, de fato, melhor clareadas quando os dados são analisados por ângulos diferentes. Farei menção à observação de todos os gráficos nas conclusões a que chego, o que virá a seguir. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A questão geral sobre as proparoxítonas no PB ainda não pode ser totalmente fechada. Toda esta pesquisa deixa, ainda, algumas lacunas. Os mesmos resultados ou resultados semelhantes serão encontrados em vocábulos proparoxítonos que sejam polissílabos, como ABÓBORA, EXÉRCITO, VELOCÍPEDE, PARALELEPÍPEDO? E formas verbais, como CANTÁVAMOS, SABÍAMOS, e superlativas, como JUSTÍSSIMO, QUERIDÍSSIMO? E quanto a nomes próprios como MÔNICA, ÂNDERSON, ÉVERTON? E substantivos abstratos, como VÉSPERA, ÉTICA? E quanto à aquisição do léxico proparoxítono? O léxico é familiar? Qual a frequência de uso do léxico proparoxítono por crianças em fase de aquisição? É notável que os dados do ERT não esclarecem esses quesitos, pois elas não se incluíam na própria proposta do ERT. Vale lembrar que, nesse instrumento, o número de vocábulos proparoxítonos foi consideravelmente inferior ao de oxítonos e paroxítonos. No entanto, algumas conclusões parciais se permitem ser feitas. Qual o lugar das proparoxítonas na aquisição do PB como língua materna? Nos dados que analisei, as proparoxítonas não são um padrão rejeitado e excepcional. E não possuem nenhum lugar especial, como discorrerei aqui. Seria possível pensar que as proparoxítonas são um padrão excepcional na aquisição do PB como língua materna se, em ambas as classes, houvesse uma alta taxa de rejeição nas primeiras faixas etárias, ainda que superadas ao longo dos grupos etários mais avançados. Se nenhuma criança produzisse o formato proparoxítono na primeira faixa etária. Se o número de crianças que mudou o formato de todos os vocábulos fosse alto nas duas classes e o número de crianças que não mudou o formato de nenhum vocábulo fosse baixo. Se os gráficos não apenas da classe A, mas também da classe C desenhassem uma tendência. Nada disso é o que ocorre. Nos dados que analisei aqui, o que ocorre é que crianças a partir de dois anos já produzem o formato proparoxítono. Filhos de pais escolarizados, aos dois anos e meio, já produzem o formato proparoxítono comumente. Já filhos de pais não escolarizados, tendem a não produzir esse padrão no início, mas não se demonstra nenhum avanço em relação a manter ou não manter o formato, nenhum avanço em relação à estabilização de um padrão. Quanto a crianças em idade remota, os dados do ERT não oferecem uma resposta sobre a possibilidade e usualidade do acento proparoxítono. Com base no trabalho de Rapp (1994) e Ferreira-Gonçalves (2010), podemos afirmar que é possível, mas raro, visto que há algumas realizações nos dados de Rapp, mas uma esmagadora maioria de paroxitonizações, e nenhuma realização proparoxítona no sujeito longitudinal de Ferreira-Gonçalves antes de 2;10 (dois anos e dez meses). Isso se confirma em Baia (2008a; 2008b) e Santos (2007), que antecipadamente desconsideram a proparoxítona no formato prosódico inicial. Vale lembrar que a classe socioescolar das crianças estudadas por Rapp corresponde à classe A dos dados do ERT. Em relação à faixa etária, o que podemos constatar, com os dados do ERT, é que a faixa etária propícia ao surgimento do formato proparoxítono é de 2;0 (dois anos) a 2;6 (dois anos e seis meses) de idade para filhos de pais escolarizados; nessa idade, já uma porcentagem considerável de crianças realizam o vocábulo dentro do seu formato padrão; em média, metade das crianças já fazem isso normalmente. Quanto a filhos de pais não escolarizados, todos os gráficos apontam o grupo 3C como o mais produtivo ao formato proparoxítono, o que talvez nos leve a pensar que aí esteja a faixa etária propícia. Mas, pela descontinuidade geral dos gráficos, essa faixa etária pode ser anterior, logo, não é possível estabelecer qual seria a propícia. O mais importante é que os dados analisados aqui não apontam as proparoxítonas com um comportamento prosódico que seja tão diferente da fala adulta. Os fatos de aquisição são também fatos sociolinguísticos. A fala das crianças, no caso das proparoxítonas, assemelha-se à fala de adultos, com os mesmos processos de redução; Todos os fenômenos que contatei nos dados do ERT foram também constatados em pesquisas sociolinguísticas. Quando as crianças não produzem o formato proparoxítono, elas lidam com ele reduzindo os vocábulos, tornando-os paroxítonos. Isso é o que geralmente acontece, havendo raros casos de migração do acento ou de transformação da palavra em um monossílabo, uma oxítona ou uma preproparoxítona. Na fala adulta, com exceção desses raros casos, ocorre o mesmo. A redução é também um fato sociolinguístico. Isso se confirma se observarmos a imensa diferença entre a classe A e a classe C: enquanto uma tende à estabilização do formato padrão adulto, a outra não apresenta tendência, mas apenas uma descontinuidade ao longo dos grupos etários e com proporções que apontam “despreferência” pelo formato proparoxítono. A mesma “despreferência” é encontrada pelos pesquisadores sociolinguísticos, em classes socioescolares adultas correspondentes à classe C. Logo, os dados encontrados e analisados aqui não são dados mais aquisicioonais do que sociolinguísticos. Então, qual o lugar das proparoxítonas na aquisição do PB? De acordo com os dados do ERT, nenhum especial. Mas chego a essas conclusões sabendo que elas só nos respondem parcialmente. Como disse antes, a questão geral ainda não pode ser totalmente fechada. Além dos questionamentos sobre outros contextos fonológicos, gramaticais, semânticos e pragmáticos; para além dessas lacunas, há ainda a lacuna sobre maiores informações sobre o ambiente de escuta e o input das crianças. Ademais, outros estudos longitudinais, como o realizado por Ferreira-Gonçalves (2010), acrescentariam informações bem valiosas a este trabalho, possibilitaria novas perspectivas, pois, com um estudo longitudinal, outros critérios de abordagens se fazem mais eficientes e necessários. Certamente, há, ainda, muito o que pesquisar sobre esse assunto. Para além disso, a semelhança que detecto entre os processos fonológicos na fala infantil e na fala adulta suscita outras perguntas que este trabalho não pode responder, tais como: a redução ocorre porque a criança está convivendo em um ambiente em que esses vocábulos são reduzidos pelo adulto? E, nesse caso, ela está adquirindo um padrão proparoxítono ou, em seu processo de aquisição, já está repadronizando os vocábulos, já que apenas os conhece como paroxítonos? Ou ainda: a semelhança significa que as variantes provenientes de redução das proparoxítonas são variantes naturais dos momentos iniciais da aquisição que, por alguma razão, não são superadas pela criança de um determinado estrato social e sobrevivem até a fala adulta, tornando-se variantes sociolinguísticas – ou, em outras palavras: a variação começa na aquisição da linguagem? São perguntas que só um outro trabalho específico de pesquisa pode responder. Talvez, então, um pesquisador futuro traga esses elementos à baila, e acrescente a esta pesquisa constructos, complementos, edifique a discussão e possibilite conclusões mais abrangentes. REFERÊNCIAS ARAGÃO, M. S. S. As palavras proparoxítonas no falar de Fortaleza. Acta Semiotica et Linguistica, São Paulo, v.8, p.61-88, 2000. ARAÚJO, G. A.; GUIMARÃES-FILHO, Z. O.; OLIVEIRA, L.; VIARO, M. As proparoxítonas e o sistema acentual do português. In: ARAÚJO, G. A. (Org). O acento em português: abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. AZEREDO, J. C. Fundamentos de gramática do português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. BAIA, M. F. A. Estudo experimental sobre o formato prosódico inicial na aquisição do português brasileiro. Estudos Lingüísticos, São Paulo, v.37, n.2, maio-ago 2008. [a] __________. O formato prosódico inicial do português brasileiro: uma questão metodológica? ReVEL, s.l., v.6, n.11, ago 2008. [b] BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa: cursos de 1º e 2º graus. São Paulo: Nacional, 1988. BISOL, L. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. CAGLIARI, L. C. Análise fonológica: Introdução à teoria e à prática, com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas: Mercado das Letras, 2002. CÂMARA JUNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. CARVALHO, M. P. Estudo da síncope nas proparoxítonas no português falado em dourados. 1v. 71f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras) – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, Dourados, 2010. Orientadora: Profª. Drª. Elza Sabino da Silva Bueno. CASTRO, V. S. A redução de proparoxítonas no português popular do Brasil: estudo com base em dados do Atlas lingüístico do Paraná (ALPR). Estudos lingüísticos, São Paulo (SP), v.37, n.2, maio-ago, 2008. CAVALIERE, R. Pontos essenciais em fonética e fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. CUNHA, C; CINTRA, L. F. L. 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Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio de Oliveira. ROCHA LIMA, C. H. Gramatica normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1989 PEPE, V. P. Oclusivização, anteriorização e ensurdecimento na aquisição fonológica do português: processos sistêmicos ou assimilatórios? Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1993. Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Reis Teixeira SANTOS, R. S. O acento e a aquisição da linguagem em português brasileiro. In: ARAÚJO, G. A. (Org). O acento em português: abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. SCARPA, E. M. Aquisição da linguagem. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. v.2. São Paulo: Cortez, 2004. SILVA FILHO, E. B. Uma descrição das proparoxítonas na variedade não-padrão de Jaboatão – PE. 1v. 114f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. Orientadora: Profa. Dra. Stella Telles. SILVA, A. P. Supressão da vogal postônica não-final: uma tendência das proparoxítonas na língua portuguesa com evidências no falar sapeense. 1v. 139f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006. Orientador: Prof. Dr. Dermeval da Hora. SILVA, T. C. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo: Contexto, 2011 STOEL-GAMMON, C. Teorias sobre desenvolvimento fonológico e suas implicações para os desvios fonológicos. In: YAVAS, M. S. (Org.). Desvios fonológicos em crianças: teoria, pesquisa, e tratamento. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990. TEIXEIRA, E. R. A aquisição das classes de sons e a aplicação dos processos de simplificação fonológica. In: XI Encontro Nacional da ANPOLL, [1996], s.l.11 11 Texto disponível em apostila contendo bibliografia para o componente curricular LET396 – LÍNGUA PORTUGUESA XX: AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA, da Universidade Federal da Bahia, no período letivo 2001.2. __________. Processos de simplificação fonológica como parâmetros maturacionais em português. Cad. Est. Ling., Campinas, (14):53-63, jan.-jun. 1988.11 __________. Perfil do desenvolvimento fonológico em português (P.D.F.P.). Estudos (12): 225-237, dez. 1991.11 __________. Reflexões sobre a relação existente entre os processos fonológicos aquisiconais e os processos marcadores de estigmatização sociolinguística. s.l.: s.n., [1986?].11 ANEXOS ANEXO A __________________________ Transcrição dos dados da classe A Classe A - ERT Grupo1A S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 /.aRvo.i / [.abi.i] [.avi] [.avi] [.arvoli] [.avi] - [.awvoli] [.afoli] /.f.Sfo.u/ [.f.su] [.f.sku] [.f.tu] [.f.sfwu] - . [.f.sfalu] [.f.su] /.makina/ [.mayk.] - [.mak.] - [.mati] [.makil.] - [.mat.in.] /..kuluS/ [..sku] [..kulu] [..ku] [...ku] [..ku] [...ku] [.z.kulu.] [..ksu] /.onibuS/ [.obus] [.o.bilus] [.onu] - [.ominu] . - [.o.mbu.] /..ika.a/ [.sikal.] [.sikal.] [..ik.] [..ikl.] [.sik.] [..ikal.] [..ikal.] [..ikal.] Grupo 2A S25 S26 S27 S28 S29 S30 S31 S32 /.aRvo.i / - [.av.i] - [.av.i] [.avele] [.avi] [.avuli] [.avli] /.f.Sfo.u/ [.f.sku] [.f.s.fi] [.f..ku] [.f.fo.u] [.fosiliku] [.f.sfo.u] [.f.ku.] [.f..sfu] /.makina/ - [.mak.] [.makik.] [.mak.] - [.manik.] - [.manik.] [.makan.] /..kuluS/ [..kos] [..klu.] [.z.ku][..sku] [.l.sku] [..k.us] [..ku] [..kulu] - [..sku] /.onibuS/ [.o.dibus] [.o.ndibus] [.o.o.n.] [.ondibus] [.o.zibu] [.o.bus] [.o.bus] . /..ika.a/ [..ik..] [..ik..] [.sik.] - [.silik.] [.sikal.] [..ikal.] [..ikal.] Grupo 3A S49 S50 S51 S52 S53 S54 S55 S56 /.aRvo.i / - - [.a.voli] - [.a.v.i] [.a.voli] [.a.vali] [.avi] /.f.Sfo.u/ [.f..fi.] [.f.ska.u] [.f.sku] [.f.sku.u] [.f.sfu] [.f.sfolu] [f.sku] [.f.skolu] [.f.sfo.u] /.makina/ [.manik.] - [.manik.] - [.a.ik.] - - [.ma.k.] /..kuluS/ - - - - [..kus] - [...alus] [..ku] /.onibuS/ [.omibus] - - - [.o.mibus] - [.o.d.ibus] [.o.bus] /..ika.a/ [..ikil.] - - - [.sika..] [..ikal.] [..ik.] [..ikal.] Grupo 4A S73 S74 S75 S76 S77 S78 S79 S80 /.aRvo.i / [.a.vu.i] - - - [.a.vi] - [.a.vili] - /.f.Sfo.u/ [.f.sku] [.f.sku] [.f..fu] - [.f.sku] [f.] [f.sk] [.f.sulu] [.f.su] /.makina/ - - - - [.manik.] - - - /..kuluS/ - - [.z.kulus] - - - - - /.onibuS/ [.õlibus] - [.zõbizuz] - - [.õdibus] [.omizus] [.õd.ibu.] /..ika.a/ [..ik..] [.sik..] [.tsika..] - [.sik..] - [..ik..] [..ik..] Grupo 5A S97 S98 S99 S100 S101 S102 S103 S104 /.aRvo.i / - - - - [.a..o.i] - [.a.va.i] [.a.v.i] /.f.Sfo.u/ - [.f.sfu] - [.f..ku] [.f..ko.o] [.f.sku] [.f.sko.u] [.f.flu] /.makina/ - - - - - - - - /..kuluS/ [.z.kulu.] - - [.z.klus] [..ku.] - [..klus] - /.onibuS/ - - - [.õd.ibu] - - - - /..ika.a/ [..ik..] - - [..ik..] - [..ik..] - - Grupo 6A S121 S122 S123 S124 S125 S126 S127 S128 /.aRvo.i / - - [.aRvoli] [.aRv.I] [.aRvi.i] [.aRve.i] - [.aRva.i] [.aRvi.i] /.f.Sfo.u/ - [.f.s..u] [.f.sku.u] - [.f..folu] - - [.f.skolu] /.makina/ - - [.manik.] [.makin.] - - - - - /..kuluS/ - - [..ku.us] [..k.us] - - - [..k.us] /.onibuS/ - - - [.õbus] - - - [.õdibu.] /..ika.a/ - [..ik..] - [..ik..] - - - [.sik..] Grupo 7A S145 S146 S147 S148 S149 S150 S151 S152 /.aRvo.i / [.ava.i] [.aRvu.i] [aRv.i] - [.aRvoli] [.aRvoli] - [.aRv..i] /.f.Sfo.u/ [.k.fari] [.f..sku] [.fl..ku] - [.f..f..u] - [.f..fa.u] - /.makina/ - - [.manik.] - - - - - /..kuluS/ [..kus] - [..k.us] - - [..kulu] - - /.onibuS/ - - - - - - - - /..ika.a/ [..ik..] [..ik..] - - - - [..ik..] - Grupo 8A S169 S170 S171 S172 S173 S174 S175 S176 /.aRvo.i / - - - - - - - - /.f.Sfo.u/ [.f.sa.u] - - [.f..f.u] - - - [.f..fa.u] /.makina/ - - - - - - - - /..kuluS/ - - - [..klu.] - - - - /.onibuS/ - - - - - - - - /..ika.a/ - - - - - - - - ANEXO B __________________________ Transcrição dos dados da classe C Classe C – ERT GRUPO 1C S17 S18 S19 S20 S21 S22 S23 S24 /.aRvo.i / ........ ...... ....... ....... ....... ........ ...... ...... ...... /.f.Sfo.u/ ......... ........ ......... .......... ....... ....... ........ ....... ........ ....... /.makina/ ....... ....... _ ....... ....... ....... ......... ....... /..kuluS/ ...... ....... ....... ........ ...... ....... ...... ...... ...... /.onibuS/ .......... ....... .......... .......... ....... _ ........ ....... ...... /..ika.a/ ......... ....... ......... ....... ....... ....... ......... ....... GRUPO 2C S41 S42 S43 S44 S45 S46 S47 S48 /.aRvo.i / ....... ........ ...... ..... ........ ........ ....... ......... ........ /.f.Sfo.u/ ....... ....... ........ .......... ........ .......... _ ......... /.makina/ ....... ........ _ .......... ......... ......... _ _ /..kuluS/ ...... ...... ........ ....... ...... ......... ........ ....... ........ /.onibuS/ ...... ........ ....:..... ........... ........ .......... _ ......... /..ika.a/ ....... ....... ....... ......... _ ....... ....... ......... GRUPO 3C S65 S66 S67 S68 S69 S70 S71 S72 /.aRvo.i / ........ ......... ...... ........ ....... ...... ........ ........ ........ ...... /.f.Sfo.u/ .......... .......... ....... ........ ....... ........ ....... ......... ........ /.makina/ ......... _ ........ .......... ......... ......... _ ......... /..kuluS/ ...... ....... ...... ...... ........ ........ ........ ...... /.onibuS/ ........ .......... ....... .......... .......... ......... ......... .......... .......... _ /..ika.a/ ....... ......... ......... ........ ...... ........ ......... ......... ........ ........ ....... GRUPO 4C S89 S90 S91 S92 S93 S94 S95 S96 /.aRvo.i / ......... ....... ....... ........ ......... ........ _ ........ /.f.Sfo.u/ .......... ........ ........ ........ ......... ......... ........ ........ /.makina/ _ _ _ _ _ ......... ......... _ /..kuluS/ _ ........ ....... ........ ....... ...... ...... ....... /.onibuS/ ......... .......... .......... ........ .......... .......... .......... .......... /..ika.a/ ........ _ ........ ....... ........ ........ ........ ......... Relação entre a aquisição de sons e a posição q esse som ocupa com relação à tonicidade GRUPO 5C S113 S114 S115 S116 S117 S118 S119 S 120 /.aRvo.i / ...... _ ......... .... ........ ....... ....... ........ _ ......... /.f.Sfo.u/ ........ ........ .......... .......... ........ ......... ........ ........ ........ ......... /.makina/ _ _ _ _ _ _ _ _ /..kuluS/ ...... ...... ....... ....... ...... ....... ....... ........ /.onibuS/ ........ .......... ......... .......... ........... ......... ......... _ .......... /..ika.a/ ........ ......... ......... _ ......... ....... ....... ........ _ GRUPO 6C S137 S138 S139 S140 S141 S142 S143 S144 /.aRvo.i / ......... ......... ....... _ ........ ........ ....... ...... /.f.Sfo.u/ .......... ........ ........ ....... _ ........ ........ ........ ......... /.makina/ ......... _ ....... _ ......... _ _ ......... /..kuluS/ _ ....... ...... _ ...... ....... ....... ........ /.onibuS/ _ ......... ......... _ .......... ........ .......... ......... /..ika.a/ ......... ....... ........... _ _ _ ......... ........ GRUPO 7C S161 S162 S163 S164 S165 S166 S167 S168 /.aRvo.i / ....... ....... ...... ....... ....... _ ........ ........ _ /.f.Sfo.u/ ........ ........ ........ ........ .......... ........ .......... ......... ........ /.makina/ _ _ _ _ _ _ _ _ /..kuluS/ ........ ........ ...... ....... ........ ......... ....... ......... ....... ........ /.onibuS/ .......... .......... ......... .......... .......... ......... _ _ /..ika.a/ _ ........ _ ....... ........ ........ _ _ GRUPO 8C S185 S186 S187 S188 S189 S190 S191 S192 /.aRvo.i / ........ ...... _ ....... ........ ....... ...... ....... /.f.Sfo.u/ _ ......... ......... ......... ......... ........ ........ ........ /.makina/ _ _ ......... _ _ ........ _ _ /..kuluS/ _ ....... ....... ........ ....... ...... ........ ....... /.onibuS/ _ ......... ......... .......... ......... ....... .......... ......... /..ika.a/ _ _ ........ ........ ........ ........ ........ ........ GRUPO 9C S209 S210 S211 S212 S213 S214 S215 S216 /.aRvo.i / ........ _ ........ ....... _ _ _ ......... /.f.Sfo.u/ ........ .......... .......... ........ ......... ......... _ _ /.makina/ _ _ _ _ _ _ _ _ /..kuluS/ ........ ........ ...... ........ _ ........ _ ....... /.onibuS/ ......... .......... .......... .......... .......... .......... _ ......... /..ika.a/ ....... ........ ....... ........ _ _ _ .........