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Tipo: Tese
Título: Uma vida atrás das grades: trajetórias de vida entrecortadas por internações e prisões
Autor(es): Krahn, Natasha Maria Wangen
Autor(es): Krahn, Natasha Maria Wangen
Abstract: Esta tese teve por objetivo descrever e compreender as dinâmicas sociais que permeiam trajetórias de vida que são entrecortadas por múltiplas experiências de privação de liberdade desde a adolescência. O principal método de pesquisa adotado foi o método biográfico através de entrevistas de histórias de vida. A partir das narrativas das histórias de vida se buscou analisar como homens e mulheres com experiências reiteradas de privação de liberdade e interação com os processos de criminalização apresentavam e compreendiam suas trajetórias. Estudos sobre reincidência criminal ainda são escassos no Brasil, apesar de a reincidência ser considerada um grande problema social e de figurar como justificava de ações cada vez mais duras contra o crime e criminosos. Nas unidades prisionais onde a pesquisa foi realizada, quase 40% dos homens e 20% das mulheres que estavam aguardando julgamento eram reincidentes (haviam sido presas anteriormente), e mais da metade das pessoas sentenciadas o eram. Além disso, ao menos 10% dos homens presos provisoriamente, 6,7% dos sentenciados e pouco mais de 8% das mulheres (provisórias e sentenciadas) já haviam sido apreendidos quando adolescentes. Portanto, através das narrativas de histórias de vida de 11 mulheres e 20 homens busquei compreender as trajetórias que levaram à entrada na porta giratória do encarceramento (internação e prisão) e suas vivências de persistência criminal e criminalização até ali. Para apresentar essas trajetórias procurei apontar as principais dinâmicas sociais nos diferentes espaços pelos quais as pessoas entrevistadas percorreram e os processos de derivação de um espaço a outro: a Casa, a Rua e a Cadeia. Esse itinerário se transforma em uma trajetória circular – a partir da porta giratória do encarceramento – onde os espaços da Casa, da Rua e da Cadeia se alternam e se atravessam. A partir das narrativas, foi possível compreender que havia duas trajetórias distintas, a dos independentes e a dos envolvidos. A trajetória dos independentes é mais relacionada a furtos e roubos em concomitância a bicos no mercado informal de trabalho e uma vivência maior em situação de rua e de uso abusivo de drogas. Já a dos envolvidos seria a atividades delitivas ligadas a grupos criminosos, geralmente atrelados à economia ilegal da droga, que, mais que os independentes, buscam reconhecimento, status e adrenalina na prática de crimes. Essas trajetórias não são excludentes entre si, elas se atravessam e mudam de lado a depender das circunstâncias vividas, mas elas demarcam formas de viver a Rua e a Cadeia que divergem. Também foram observadas diferenças e similaridades nas experiências vividas por mulheres e homens, seja nas trajetórias até o cometimento de crimes, seja na Rua e na vida do crime, seja na experiência da Cadeia. Por fim, também foi observado que o fator geracional parece influenciar na percepção sobre as vivências passadas e nas expectativas pós-encarceramento. Enquanto os mais novos não se enxergam saindo dessa porta giratória, e esboçam uma atitude mais conformada quanto a sua condição de encarceramento, e uma ligação forte com o crime, aqueles um pouco menos jovens tendiam a compreender que aquela vida não era a que desejavam mais para eles, e que não mais queriam vivenciar aquelas repetidas experiências de encarceramento, mesmo que ainda não esboçassem uma possibilidade concreta de saída daquele ciclo. Vê-se assim que a porta giratória da Cadeia - a reincidência - é percebida e vivenciada pelos que a têm como elemento estruturante de suas trajetórias de maneiras diversificadas a depender do tipo de envolvimento no crime, do gênero e da idade.
This thesis aimed to describe and understand the social dynamics that permeate life trajectories that are interspersed by multiple experiences of deprivation of liberty since adolescence. The main research method adopted was the biographical method through life story interviews. From the narratives of life stories, I sought to analyze how men and women with repeated experiences of deprivation of liberty and interaction with criminalization processes presented and understood their trajectories. Studies on criminal recidivism are still scarce in Brazil, although recidivism is considered a major social problem and appears to justify increasingly harsh actions against crime and criminals. In the prison units where the research was conducted, almost 40% of men and 20% of women who were awaiting trial were repeat offenders (they had been arrested previously), as were more than half of those sentenced. In addition, at least 10% of men provisionally arrested, 6.7% of those sentenced and just over 8% of women (provisional and sentenced) had already been apprehended as teenagers. Therefore, through the life story narratives of 11 women and 20 men, I sought to understand the trajectories that led to the entrance to the revolving door of incarceration (adolescent and adult imprisonment) and their experiences of criminal persistence and criminalization until then. To present these trajectories, I tried to point out the main social dynamics in the different spaces through which the people interviewed passed and the processes of derivation from one space to another: the Home, the Street and the Prison. This itinerary turns into a circular trajectory - from the revolving door of incarceration - where the spaces of the Home, the Street and the Prison alternate and cross each other. From the narratives, it was possible to understand that there were two distinct trajectories, that of the independents and that of those involved. The trajectory of the independents is more related to thefts and robberies in concomitance with odd jobs in the informal labor market and a greater experience in situations of living on the streets and of drug abuse. That of those involved would be related to criminal activities linked to criminal groups, mostly related to the underground drug economy, which, more than the independents, seek recognition, status and adrenaline in the practice of crimes. These trajectories are not mutually exclusive, they cross and change sides depending on the circumstances experienced, but they demarcate ways of living the Street and the Prison that diverge. Differences and similarities were also observed in the experiences lived by women and men, whether in the trajectories up to committing crimes, either in the street and in the life of crime, or in the experience of Prison. Finally, it was also observed that the generational factor seems to influence the perception of past experiences and post-incarceration expectations. While the younger ones do not see themselves coming out of that revolving door and outline a more conformed attitude regarding their condition of incarceration, and a strong connection with crime, those a little less young tended to understand that this life was not the one they wanted anymore for them, and they no longer wanted to experience those repeated experiences of incarceration, even though they had not yet outlined a concrete possibility of leaving that cycle. It is thus seen that the revolving door of the Prison - recidivism - is perceived and experienced by those who have it as a structuring element of their trajectories in different ways depending on the type of involvement in crime, gender and age.
Esta tesis tuvo como objetivo describir y comprender las dinámicas sociales que permean trayectorias de vida que son intercaladas por múltiples experiencias de privación de libertad desde la adolescencia. El principal método de investigación adoptado fue el método biográfico a través de entrevistas de historias de vida. A partir de las narrativas de historias de vida se buscó analizar cómo hombres y mujeres con repetidas experiencias de privación de la libertad e interacción con procesos de criminalización presentaron y entendieron sus trayectorias. Los estudios sobre reincidencia criminal son aún escasos en Brasil, aunque la reincidencia se considera un problema social importante y parece justificar acciones cada vez más duras contra el crimen y los delincuentes. En las unidades penitenciarias donde se realizó la encuesta, aproximadamente el 40% de los hombres y el 20% de las mujeres que estaban en espera de juicio eran reincidentes (habían sido detenidos previamente), y más de la mitad de los condenados lo eran. Además, al menos el 10% de los hombres detenidos provisionalmente, el 6,7% de los condenados y un poco más del 8% de las mujeres (provisionales y condenadas) ya habían sido detenidas en la adolescencia. Por eso, a través de las narrativas de las historias de vida de 11 mujeres y 20 hombres, busqué comprender las trayectorias que llevaron al ingreso a la puerta giratoria del encarcelamiento (adolescente y adulto) y sus vivencias de persistencia criminal y criminalización hasta entonces. Para presentar estas trayectorias, intenté señalar las principales dinámicas sociales en los diferentes espacios por los que transitaron las personas entrevistadas y los procesos de derivación de un espacio a otro: la Casa, la Calle y la Cárcel. Este itinerario se convierte en un camino circular - desde la puerta giratoria del encarcelamiento - donde los espacios de la Casa, la Calle y la Cárcel se alternan y cruzan. A partir de las narrativas, se pudo entender que hubo dos trayectorias distintas: la de los independientes y la de los involucrados. La trayectoria de los independientes está más relacionada con hurtos y robos en concomitancia con trabajos o actividades en el mercado laboral informal y una mayor experiencia en situaciones de calle y abuso de drogas. A la trayectoria de los involucrados, estarían relacionadas las actividades delictivas vinculadas a grupos criminales, generalmente relacionadas a la economía ilegal de drogas, que, más que los independientes, buscan reconocimiento, estatus y adrenalina en la práctica de los delitos. Estas trayectorias no se excluyen mutuamente, se cruzan y cambian de bando según las circunstancias vividas, pero demarcan formas divergentes de vivir la Calle y la Cárcel. También se observaron diferencias y similitudes en las experiencias vividas por mujeres y hombres, ya sea en las trayectorias hasta el cometimiento de delitos, ya sea en la calle y en la vida del delito, o en la experiencia de la Cárcel. Finalmente, también se observó que el factor generacional parece influir en la percepción de las experiencias pasadas y en las expectativas posteriores al encarcelamiento. Mientras los más jóvenes no se ven saliendo de esa puerta giratoria, y esbozan una actitud de conformismo con respecto a su condición de encarcelamiento y una fuerte conexión con la delincuencia, aquellos un poco menos jóvenes entendían que esta no era más la vida que querían para ellos, y que ya no querían vivir esas repetidas experiencias de encarcelamiento, aunque aún no habían esbozado una posibilidad concreta de salir de ese ciclo. Se ve así que la puerta giratoria de la Cárcel - la reincidencia - es percibida y experimentada de diferentes formas por quienes la tienen como elemento estructurante de sus trayectorias dependiendo del género, de la edad y del tipo de implicación en el delito.
Palavras-chave: Reincidência penal
Criminalização
Trajetória de Vida
Estudo biográfico
Gênero
Geração
Prisão - Brasil
Prisioneiros - Análise do discurso narrativo
CNPq: Outras - Sociologias Específicas
País: Brasil
Sigla da Instituição: UFBA
metadata.dc.publisher.program: Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
Tipo de Acesso: Acesso Aberto
URI: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32649
Data do documento: 15-Jan-2021
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